quarta-feira, 27 de novembro de 2013

INSTRUMENTO QUE DA VINCI INVENTOU É CONSTRUÍDO.

O pianista polonês Slawomir Zubrzycki trouxe à vida a

 "viola organista", 500 anos depois do desenho feito por

O instrumento foi construído por Zubrzycki com base nas anotações de Da Vinci no Codex Atlanticus, uma coleção de 12 manuscritos com ideias que iam de máquinas voadoras e armas à instrumentos musicais.
O instrumento tem características do Cravo, do Órgão e da Viola da Gamba, foi tocado a primeira vez na última segunda feira (18/11).
Apesar da sua semelhança com um piano de armário comum, a grande diferença está em seu interior: as 61 cordas não são tocadas por pequenos martelos, e sim por 4 rodas giratórias revestidas de crinas de cavalo, como as usadas nos arcos de violino e violoncelo.Leonardo da Vinci.

quarta-feira, 6 de novembro de 2013

DESCRECIMENTO

Movimento não é saudosista, nem anticivilizatório. Mas sustenta: sem rever padrões de consumo e produção, “progresso” resultará em desigualdade e devastação
Por Alan Bocato-Franco
Pouco frequente, ainda, no Brasil, um debate tomou corpo e expandiu-se rapidamente nos últimos anos, em paralelo ao desconforto com o capitalismo e seus impasses. Trata-se da ideia de “decrescimento”. “Outras Palavras” abordou-o em diversos textos, no passado — mas deu-lhe destaque especial em 10 de outubro. Um artigo do cientista político catalão Vicenç Navarro criticava “algumas teorias” do decrescimento. Em sua opinião, elas acabam reduzindo-se a um ambientalismo elitista e antissocial, ao sugerirem, diante de países em crise, a continuação das políticas de “austeridade”, que geram mais desemprego e desindustrialização.
O artigo de Navarro gerou importante polêmica,O resultado foi melhor que a encomenda. Muito mais que polemizar com Navarro — com quem, aliás, parece compartilhar pontos de vista – um importante panorama sobre a origem, sentido e história das teorias do “decrescimento”.

segunda-feira, 26 de agosto de 2013

HORA DE RELER CAMUS



Estado de Minas: 25/08/2013 - Afonso Romano de Santanna


Pena que não guardei aquele trabalho de estágio sobre A peste, de Albert Camus! Não que fosse algo a ser salvo, mas poderia voltar aos tempos em que a Faculdade de Filosofia funcionava nos três últimos andares do Edifício Acaiaca. Veria as anotações do monsieur Sonal e meu esforço para apreender o pensamento do escritor. Camus havia morrido uns dois anos antes, em 1960, num desastre de carro. Encontram no seu bolso um bilhete de trem para Paris. Misteriosamente, ele decidiu, no último momento, viajar de carro com seu editor, Michel Gallimard. Ambos morreram ali, em Villabrevin, quando o pneu estourou e foram jogados contra uma árvore.
Agora celebra-se o centenário de Albert Camus. Não apenas volto às aulas de francês, e, lembrando-me de Consuelo, Melânia, Ruth, Marcos, Heloísa e Ana Maria, vou me indagando: où sont les neiges d’antam? Regressando ao passado (que não passa e sempre me trespassa), vejo-me, de repente, diante da sepultura de Camus, em Lourmarin.
Deu-se que em 1981 fui residir em Aix-en-Provence para lecionar literatura brasileira. Num fim de semana, saí com a família vadiando de carro pelas estradas da Provence. Foi um momento de perfeição, como só se vê em filmes americanos. E passamos por Fontaine-de-Vaucluse, onde viveu Petrarca. (Não é todo dia que alguém que cresceu em Juiz de Fora pode andar onde andou Petrarca. Há que parar e beijar o chão. Coisas maravilhosas e imprevistas têm acontecido na minha vida. Num poema, até anotei que dormi no mesmo castelo de Gargonza onde Dante se abrigou, fugindo dos gibelinos.)
O carro ia serenamente por aquelas estradas, quando, na região de Luberon, vi o aviso de que era por ali o castelo onde viveu o Marquês de Sade. Claro que fomos ao castelo. Mas uma coisa chamou a minha atenção de antigo aluno de letras neolatinas: em algum lugar, vi um sinal de que em Lourmarin estava a sepultura de Albert Camus.
Não se pode evitar a morte, mas podem-se visitar alguns sepulcros enquanto é tempo. Então, tomei a direção de cemitério de Lourmarin. Esperava encontrar uma sepultura portentosa, afinal Camus havia ganhado o Prêmio Nobel e dividia com Sartre as honras de ser um filósofo imprescindível. Seu ensaio O mito de Sísifo, sobre o absurdo que tem que ser combatido com o próprio absurdo, é leitura sempre recomendável.
Pois chego lá e encontro uma sepultura pobrinha, largada, quase miserável. Devo ter alguma fotografia desse não evento. Até as filhas ficaram decepcionadas. Mas dei por cumprida minha missão.
Agora é centenário de Albert Camus. A imprensa brasileira ainda não descobriu isso, mas na França as comemorações já começaram. O ex-presidente Sarkosy tentou até levar os restos de Camus para o Pantheon, em Paris. (Na França, literatura é uma religião, e os escritores são santos.) Mas a tumba de Camus continua lá na cidade que ele escolheu para viver.
Se ele contemplou aquela natureza repousante apenas por dois anos, ali, em Lourmarin, fizeram uma exposição comemorativa que contrasta com a pobreza de sua sepultura. Edições de luxo de suas obras, os livros que dedicou aos colegas escritores, sua vida rediviva.
Camus viveu as turbulências de seu século: foi comunista e anticomunista, nasceu na Argélia, mas defendeu a política do governo francês, viveu a ocupação alemã da França e era pacifista. Casou-se duas vezes e achava o casamento antinatural. Ator de teatro, jogador de futebol, tinha aquela pose de Humphrey Bogart.
Façam o seguinte: leiam A peste, estória da cidade vítima de uma enfermidade devastadora, e vejam o que seus habitantes faziam para enfrentar essa calamidade.
Nem sempre a “peste” é tão visível. Cada época tem a “peste”que merece.

sexta-feira, 16 de agosto de 2013

"CONCEITOS" PARA REVALIDAR A OBRA DE ARTE


Para muitos artistas, críticos e observadores da arte o momento atual está mais voltado para a descoberta de “talentos” do que para segmentos, conteúdos embasados e  renovadores que abordem a tarefa artística em toda sua complexidade.
 Atender ao mercado é a meta atual para se chegar ao “êxito” rápido, basta obedecer e seguir os seus requisitos e  satisfazer a demanda. Esse é o novo rumo para se atingir o sucesso
A natureza da arte é sempre colocada em questionamento, inclusive para legitimar o artista e, consequentemente sua obra. Mediante essa situação nada mais coerente que cada um defenda o seu ponto de vista.
Vários artistas “contemporâneos” afirmam que a subjetividade na arte é  fácil de ser captada, como é o caso do artista conceitual americano Joseph Kosuth .Apesar de ele deixar claro que: “as questões da arte devem ser vistas com sutileza e complexidade” suas obras são herméticas. 
Joseph   reconhece a  genialidade de Walt Disney , no entanto o classifica como um gênio comercial e não um artista conceituado. Quanto à arte popular ele acredita que esta não estabelece o fluxo necessário para novos conhecimentos e como tal não teria como permanecer viva. Acompanhando suas obras  utiliza de palavras para o entendimento da mensagem -  A emblemática: "Uma e três cadeiras” 1965 é  exemplo disso.
    Joseph Kosut  critica o mercado de arte dos últimos 15 anos, classificando o como batedor de recordes de vendas e preços altos sem se preocupar com a qualidade. Afirma que o glamour do mercado, também aparece como um segmento que só traz malefícios . Sugere à atenção para a história afirmando, entre linhas, que ela fomentará a avaliação correta dessa vasta produção atual não a curto prazo.
   Apesar das opiniões proferidas por ele, a sua trajetória está vinculada ao constante espaço que a mídia lhe dá  e é um artista bem sucedido nas vendas da sua produção.   Cultua suas aparições como um pop-star. Não o vejo distanciado de um corporativismo que ele diz ser contrário. “Arte não é beleza” é uma das suas afirmações para atrair ouvintes e futuros colecionadoresChama de entretimento profissional e arte decorativa tarefas artísticas que não acrescentam em nada ao nosso tempo.
 O cenário cultural atual na produção artística é difícil de ser avaliado. Não bastam frases de efeito para visualizar esse pseudo estranhamento e tentar  aproximar o espectador para uma "nova" estética, ou ruptura desejada.
O público, para muitos estudiosos, fica aprisionado  na arte conceitual e vê-se obrigado, na sua quase totalidade   a ler textos explicativos para entendê-la. Os defensores de uma arte de vanguarda de efeitos, entre eles Joseph Kosuth  afirma: "O surgimento de obras sem qualidades e valorizadas, existem cada vez mais na nossa sociedade, uma distorção, porque as pessoas com poder apenas visam o lucro e não querem elucidar qual o verdadeiro papel do artista e da arte". Enfim, cada um conta a sua história.
     Vicente de Percia

sexta-feira, 9 de agosto de 2013

LIIXO DESCARTADO SERVE COMO BÔNUS

Em Pequim, metrô já pode ser pago com garrafas PET  solução que amplia, ao mesmo tempo, mobilidade urbana e reciclagem de lixo
Se o passe livre é uma realidade ainda distante nos principais centros urbanos do Brasil, do outro lado do mundo a situação é bem diferente: em Pequim, os habitantes já podem pagar suas passagens de metrô com garrafas PET. Até agora, foram instalados postos de troca nas estações de Jinsong e Shaoyaoju, mas o objetivo é levar a iniciativa a todas as paradas de metrô e aos pontos de ônibus da capital chinesa.
As estações que participam da ação sustentável receberam quatro máquinas, responsáveis por  coletar as garrafas plásticas. Nos equipamentos, cada exemplar reciclado equivale a um valor tabelado, que vai desde 15 centavos de dólar a 50 centavos da mesma moeda. Assim, com até quinze garrafas, o usuário poderá se locomover por todas as oito linhas e as 105 estações disponíveis.
Depois de coletado pelas máquinas, o material reciclável é enviado a uma central de processamento, em que o plástico assume outros fins de uso. De acordo com o portal Veoverde, a ação ainda está em fase de testes, e, se tudo der certo, os criadores têm a ambição de levar o projeto para os pontos de ônibus de todo o país.
O incentivo às viagens de transporte coletivo na capital chinesa é fundamental, uma vez que o país apresenta um dos mais preocupantes índices de poluição do mundo, causado pela atividade industrial e pelo trânsito massivo. Além disso, há mais de dois anos, o governo chinês anunciou que tem o objetivo de reciclar 70% dos resíduos produzidos no país até 2015.
Uma ação realizada nas estações de metrô do Rio de Janeiro, durante o carnaval deste ano, garantiu o passe livre das pessoas que apresentassem uma latinha de cerveja vazia nas catracas. A ação tinha por objetivo convencer os frequentadores dos blocos de rua e desfiles de carnaval a não dirigirem após o consumo da bebida alcoólica.

quinta-feira, 8 de agosto de 2013

EXPECTATIVA E DÚVIDAS NA MONTAGEM DE CARMINA BURANA NO THEATRO MUNICIPAL DO RIO DE JANEIRO.


MANUSCRITOS NO MOSTEIRO

Carmina Burana  significa Canções de Benediktbeuerm Em meio à secularização de 1803, um rolo de pergaminho com cerca de duzentos poemas e canções medievais, foi encontrado na biblioteca da antiga Abadia de Menediktbeuera, na Alta Baviera. Havia poemas dos monges e dos eruditos viajantes em latim medieval; versos no vernáculo do alemão da Alta Idade Média, e pinceladas de frâncico. O erudito de dialetos da Baviera, Johann Andreas Schmeller, editou a coleção em 1847, sob o título de Carmina Burana. Carl Orff, filho de uma antiga família de eruditos e militares de Munique, ainda muito novo familiarizou-se com esse códice de poesia medieval. Ele arranjou alguns dos poemas em um “happening” – as “Cantiones profane contoribus et choris cantandae comitantibus instrumnetis atque imaginibus magics”- de canções seculares para solistas e coros, acompanhados por instrumentos de imagens mágicas. A obra já é vista no sentido do teatro musical de Orff, como um lugar de magia, da busca de cultos e símbolos.
Esta cantata cênica é emoldurada por um símbolo de antigüidade – o conceito da roda-da-fortuna, em movimento perpétuo, trazendo alternadamente sorte e azar. Ela é uma parábola da vida humana, expostas a constantes transformações. Assim sendo, a dedicatória coral à Deusa da Fortuna (“O Fortuna, velut luna”), tanto introduz como conclui as canções seculares. Esse “happening” simbólico sombreado por uma Sorte obscura, divide-se em três seções: o encontro do Homem com a Natureza, particularmente com o despertar da Natureza na primavera (“Veris leta facies”), seu encontro com os dons da Natureza, culminado com o do vinho (“In taberna”); e seu encontro com o Amor (“Amor volat undique”), como espelhado em “Cour d’amours” na velha tradição francesa ou burgúndia – uma forma de serviço cavalheiresco às damas e ao amor. A invocação da Natureza – o objetivo da primeira seção – desemboca em campos verdes onde raparigas estão dançando e as pessoas cantando em vernáculo. As cenas festivas de libação desenrolam-se entre desinibidos monges, para quem um cisne assado parece ser um antegozo do Shangri-la, e entre barulhentos eruditos viajantes que louvam o sentido impetuoso da vida na juventude.
                Após muitos anos de experiência e deliberação, os Carmina Burana resultaram na primeira testemunha válida do estilo de Orff. Eles caracterizam-se por seu ritmo fortemente penetrante, comprimido em grandes ostinatos pelo som mágico da inovadora orquestração, e pela brilhante claridade da harmonia diatônica. Os recursos estilísticos utilizados são de espantosa simplicidade. A forma básica é a canção estrófica com uma melodia diatônica, como é de hábito na música popular. Ao invés da harmonia extensivamente cromática do romantismo tardio, temos melodias claramente definidas, que levam algumas vezes a uma errônea acusação de primitivismo. As canções estróficas reportam-se a formas medievais como a litania, baseada em uma série mais ou menos variada de curvas melódicas, cada uma correspondendo a uma linha de verso, e à forma seqüencial, caracterizada por uma repetição progressiva de várias seqüências de melodias. Os melodismos, particularmente nos recitativos, são reminiscências do cantochão gregoriano. Onde temos passagens líricas, fortemente emocionais, como por exemplo nos dois solos, para soprano sobre textos latinos, e melodias mais ariosas, no sentido operístico. A escritura coral é predominantemente declamatória. Os grupos instrumentais individuais são comprimidos em amplas massas tratadas na forma coral; somente as peculiares madeiras são ouvidas em solo, particularmente nas duas danças em que antigos ritmos e árias alemãs são tratados no estilo peculiar de Orff. A percussão, reforçada por pianos, acentua o élan da partitura.
                A gama expressiva de Carmina Burana estende-se da terna poesia do amor e da natureza, e da elegância burgúndia de uma “Cour d’amours”, ao entusiasmo agressivo (“In taberna”), efervescente joie de vivre (o solo de barítono “Estuans interius”), e à força devastadora do coro da fortuna cercando o todo. O latim medieval da canção dos viajantes eruditos é penetrado pela antiga concepção de que a vida humana está submetida aos caprichos da roda-da-fortuna, e que a Natureza, o Amor, a Beleza, o Vinho e a Exuberância da vida estão à mercê da eterna lei da mutabilidade. O homem é visto sob uma luz dura, não sentimental; como um joguete de forças impenetráveis e misteriosas. Esse ponto-de-vista é plenamente característico da atitude anti-romântica da obra. 
O Theatro Municipal do Rio de Janeiro apresentará essa obra com seu corpo de balé. Trata-se de uma obra difícil de montagem. Uma obra tida como contemporânea nas suas montagens. Espera-se que atenda à expectativa movida pela obra e não seja mais um deslize como foi a recente montagem do Lago dos Cisnes.  


sexta-feira, 26 de julho de 2013

A CRISE DE IDENTIDADE E O PÓS-MODERNO


O indivíduo está cada vez está mais imerso na crise de  identidade, facilmente detectada em um processo confuso e plural de chamamento que o deixa disperso e o torna frágil mediante  os seus objetivos. Há um amplo deslocamento e  perda de  metas  a serem traçadas  pelo indivíduo "moderno". Por mais que se queira localizar as causas dessas inconstâncias e buscas que davam ao indivíduo uma certa sensação de continuidade em um mundo  centrado, as ações se perdem. O Homem e o mundo estão em crise. Passam a pertencer e a constituir  algo solto e dilacerado nas suas ideias e montagens.
 O final do século XX  agrega o descentramento e de certa forma se opõe às raízes do passado, ou as informações culturais abordadas na sua plenitude que, a seu modo, forneciam ao ser diálogos e direcionamentos sociais.
 A identidade não existe, está em crise e se torna um problema não resolvido e, assim, é vista e manipulada como algo "confortável" de entendimento pelo próprio indivíduo pós-moderno. Ele busca a todo custo, na sua pseudo- identidade explicar sem conseguir o seu descentramento - 
uma situação de sua própria localização social. Essa  postura é uma intenção de justificar  um novo segmento cultural para o indivíduo se fortalecer em uma forma de ancoragem em um universo sem diretrizes.
Vicente de Percia
Artes Visuais - Bow Art International

domingo, 14 de julho de 2013

OS INTERMINÁVEIS CONCEITOS DA ARTE

    OS INTERMINÁVEIS CONCEITOS DE ARTE 
Os inúmeros conceitos da arte dariam para preencher ilimitadas enciclopédias. É comum vê-los em apresentações, catálogos, ensaios, palestras, citações de autores com seus pensamentos ávidos em situar a tarefa artística. Alguns opinam que a ideia é o elo de interseção na criação da obra, outros se posicionam que o perfil espontâneo ou plástico não é o meio certo de fazer a arte e por aí vai...
De quê modo se forma um artista atualmente? Como e qual é a sua trajetória para criar uma obra de arte? Uma série de conceitos surgem, entre eles: o fator histórico. Há artistas que vivenciaram profundas crises políticas sociais relevantes e se aproveitaram delas para criar. Os valores éticos e econômicos também são suportes e também são usados para legitimar a arte.
No início do séc.XX os diferentes meios materiais não convencionais foram utilizados para afirmar o surgimento de novas tendências e propiciar um distanciamento mais "realista" em relação ao seu tempo.
Estávamos diante da inovação atrelada ao deslanche das civilizações industriais, em franco crescimento tecnológico e o incentivo de possibilidades de ir de encontro ao combate do velho.
A experimentação nas artes plásticas não está tão distante da incessante busca da "modernidade" onde o novo produto a ser lançado deve propiciar benefícios em vários setores, cobrindo item inerente ao prazer do Homem e ao seu consumo.
Esse mesmo esquema é visto em múltiplas tarefas e setores artísticos tidos como as mais viscerais ou engajadas: a análise pode ser descrita para que o espectador possa ser direcionado e compreender o objetivo da obra do artista e alertar para os elementos e as formas presente na obra o que revelará a proposta do artista e desvendará o hermetismo da obra. .
Há segmentos críticos que valorizam essa complexidade acima citada, considerando o afastamento do olhar e a aproximação do texto ( esse se tornando mais importante,por vezes que a obra) um vínculo que procura  acenar para o expectador para que ele possa compreender ou pelo menos se aproximar do que está vendo. São na maioria conceitos filosóficos e como tal podem ser aceitos ou não.
Há posicionamentos que afirmam um estranhamento na arte em relação a sua integração com a sociedade. A arte dentro dessa reflexão estaria longe de poder interagir completamente com a sociedade, com o senso de observação espontâneo e coletivo. A definição de povo nos vários ciclos históricos; o trabalho envolto na produção; a divisão de classes; a vida política e social são sinalizações que a filosofia da arte estuda e, portanto meios para conhecê-la sem superficialidade.
Entre as correntes contemporâneas há os que afirmam que é impossível ser neutro na arte contemporânea. A trajetória da produção atual sem dúvida está ligada a "esquemas" mais preocupados com a demanda do que com o conteúdo. O capitalismo voraz põe suas garras sobre a legitimação da "obra de arte" e cada vez mais os seus conceitos não estão voltados para um embasamento que permita avaliar com coerência a situação real da criação artística. 
A reflexão da crítica de arte adota uma parcialidade, não é um defeito, pois desde a sua existência falar de arte é também falar do artista, do gosto pessoal, da época, etc.. Dessa forma não há como se obter uma exclusão total da crítica para se distanciar dos erros e legitimar ou não uma obra de arte.
Vicente de Percia

terça-feira, 2 de julho de 2013

CRESCE O NÚMERO DE ATEUS NO MUNDO



Em alguns países, segundo uma pesquisa global, ocorreu queda surpreendente no número de pessoas que se consideram religiosas. A enquete realizada em 57 países pelo Instituto WIN-Gallup Internacional foi feita pela última vez em 2005. Agora, sete anos depois, é possível verificar um aumento de quase 3% no índice de pessoas que se declaram ateus, enquanto os religiosos diminuíram 9%. A Irlanda teve a maior queda, seguida pelo Vietnã. A pesquisa, que leva o nome de Índice Global de Religião e Ateísmo, sugere que as pessoas mais pobres são mais propensas a se descreverem como religioso do que as ricas.
Gana (96 por cento), Nigéria (93 por cento) e Armênia (92 por cento) tiveram o maior percentual de pessoas que disseram que eles eram religiosos. Para todos os 51.000 entrevistados foi perguntado: “Independentemente de frequentar ou não uma igreja, você se considera uma pessoa religiosa, não religiosa ou ateia?”. Computadas as respostas, 59% dos entrevistados afirmou que são religiosos, 23% se declararam “sem religião”, enquanto 13% se consideram ateus. Segundo o Índice, 85% se declararam religiosos, 13% afirmam ser não religiosos e apenas 1% dos brasileiros são ateus convictos.

sábado, 18 de maio de 2013


Por Marcos Pivetta
Desde a segunda metade do século XIX a ornitologia brasileira não dava uma contribuição tão significativa para ampliar o conhecimento sobre a biodiversidade: quinze novas espécies de aves da Amazônia nacional serão formalmente descritas pela primeira vez, numa série de artigos científicos previstos para serem publicados em julho num volume especial do Handbook of the birds of the world, da espanhola Lynx Edicions. Esse tomo fecha uma coleção de dezessete livros que, por seu caráter enciclopédico e didático, é adotada como fonte de consulta por ornitólogos profissionais e amadores.
Os autores das descrições pertencem a três instituições nacionais de pesquisa – Museu de Zoologia da Universidade de São Paulo (MZ-USP), Instituto Nacional de Pesquisas da Amazônia (Inpa), de Manaus, e Museu Paraense Emílio Goeldi (MPEG), de Belém – e ao Museu de Ciência Natural da Universidade Estadual da Louisiania (LSUMNS), Estados Unidos. Os ornitólogos não apresentavam ao mundo, de uma só vez, numa única obra, um conjunto tão numeroso de novas aves brasileiras desde 1871, quando saiu o livro Zur Ornithologie Brasiliens. Nessa obra, escrita pelo austríaco August von Pelzeln (1825-1891), foram divulgadas 40 espécies de aves coletadas pelo naturalista Johann Natterer (1787-1843), também austríaco, em suas viagens pela Amazônia brasileira.
Onze das novas espécies são endêmicas do Brasil e quatro podem ser encontradas também no Peru e na Bolívia. Oito ocorrem somente a oeste do rio Madeira, na parte ocidental da Amazônia; cinco habitam exclusivamente terras situadas entre esse curso d’água e o rio Tapajós, no centro da região Norte; e duas vivem apenas a leste do Tapajós, no Pará, na porção mais oriental da floresta tropical. No volume especial do Handbook, os autores descrevem a morfologia (formas e estruturas), a genética e a vocalização (canto e sons) das novas espécies. Por meio de mapas específicos para cada espécie, mostram ainda seus locais de ocorrência. No entanto, até que o livro seja oficialmente publicado, o nome científico e alguns detalhes sobre a anatomia e o modo de vida das novas espécies não podem ser divulgados.
Dessas aves até agora desconhecidas e sem registro na literatura científica, a maior e mais espetacular é uma espécie de gralha, do gênero Cyanocorax, com cerca de 35 centímetros de comprimento, que vive apenas na beira de campinas naturais situadas em meio à floresta existente entre os rios Madeira e Purus, no Amazonas. “Essa gralha está ameaçada de extinção”, diz Mario Cohn-Haft, curador da seção de ornitologia do Inpa, principal descobridor do cancão-da-campina, nome popular cunhado para a ave. “Seu hábitat está em perigo e podemos perder a espécie antes de ter tido tempo de estudá-la a fundo.” Sua principal região de ocorrência é um complexo de campinas, distante 150 quilômetros ao sul de Manaus, numa área próxima à rodovia BR-319, que liga a capital amazonense a Porto Velho. A estrada está sendo reformada e os pesquisadores temem que o acesso facilitado ao local coloque em risco o hábitat da espécie. “A nova gralha também ocorre numa zona de campos naturais no sul do Amazonas, próximo a Porto Velho, onde há muitos colonos do Sul do país, que a confundem com a gralha-azul [um dos símbolos do Paraná]”, diz Cohn-Haft.
Poiaeiro-de-chicomendes, nome popular de espécie a ser descrita da família Tyrannidae
Poiaeiro-de-chicomendes, nome popular de espécie da família Tyrannidae
Com exceção de uma ave da ordem dos Piciformes, que inclui tucanos e pica-paus, as demais espécies amazônicas agora apresentadas à comunidade científica pertencem à ordem dos Passeriformes. Popularmente chamados de passarinhos, os membros desse grupo representam aproximadamente 55% das espécies de aves conhecidas, como os pardais, canários, bem-te-vis e tantas outras. Além da gralha e do parente distante dos tucanos, serão descritos no livro cinco espécies da família Thamnophilidae (na qual se incluem os papa-formigas), quatro da família Dendrocolaptidae (todas novas formas de arapaçus), três da vasta família Tyrannidae (que compreende 400 espécies presentes do Alasca à Terra do Fogo) e uma da pequena família Polioptilidae (composta por menos de 10 espécies, em geral aves vulgarmente denominadas balança-rabo).
Em termos numéricos, as novas espécies amazônicas representam um acréscimo de quase 1% na biodiversidade nacional de aves. “Somos o segundo país com maior número de espécies de aves conhecidas, cerca de 1.840”, afirma Luís Fábio Silveira, curador do setor de ornitologia do Museu de Zoologia da USP, um dos coordenadores da iniciativa. “Apenas a Colômbia tem mais espécies do que nós, aproximadamente 1.900. Mas, daqui a uma década, devemos chegar às 2 mil espécies de aves conhecidas no Brasil. Há vários exemplares de aves desconhecidas nos museus brasileiros, oriundos de diversos biomas, que serão descritos nos próximos anos.”
As aves são o grupo de vertebrados mais estudado da biologia. No entanto, parece haver muito a ser conhecido, especialmente na Amazônia, ainda que esse bioma tenha sido alvo de muitas pesquisas nas últimas décadas. “A biodiversidade em geral, e mesmo a de aves deste bioma, está longe de ter sido completamente amostrada”, diz o ornitólogo Bret Whitney, pesquisador do Museu de Ciência Natural da Universidade Estadual da Louisiania e principal coordenador da empreitada. “Ainda falta muito para a Amazônia ser considerada suficientemente bem conhecida e, assim, permitir o planejamento e a sustentabilidade das reservas de biodiversidade já existentes e também das futuras.” Em paralelo à vida acadêmica, Whitney é sócio de uma empresa de ecoturismo, a Field Guides, que leva pessoas para observar aves em vários pontos do globo, inclusive da Amazônia.
Nova espécie de arapaçu-de-bico-torto
Nova espécie de arapaçu-de-bico-torto
Algumas das dezenas de expedições feitas pela Amazônia nos últimos dez anos que levaram à descoberta de novas espécies foram custeadas, parcial ou totalmente, por um projeto de Silveira financiado pela FAPESP. Outras contaram com apoio do CNPq, do Ministério do Meio Ambiente, do Programa de Pesquisa em Biodiversidade do Ministério da Ciência e Tecnologia, de secretarias estaduais e até da americana National Geographic Society. Numa dessas incursões pela floresta tropical, no ano passado, duas dezenas de pesquisadores e alunos de pós-graduação das instituições envolvidas no projeto alugaram durante um mês, por R$ 75 mil, um barco para percorrer o rio Sucunduri, um afluente do Madeira, em busca de novas espécies de aves.
Em outros momentos, os cientistas precisaram até do apoio de proteção armada para entrar em regiões que poderiam abrigar novas formas de aves. A localidade tipo de uma das novas espécies, um arapaçu-de-bico-torto, é a Floresta Nacional de Altamira, próxima à rodovia BR-163, no sul do Pará. A área é uma unidade de conservação do Ibama. “Mas, para podermos trabalhar com segurança na reserva, tivemos de ser escoltados por soldados do Exército brasileiro. Havia um garimpo ilegal em funcionamento na unidade”, conta Aleixo, da seção de ornitologia do MPEG. “A tensão de trabalhar num lugar assim é grande e, não fosse a presença do Exército, não teríamos conseguido.”
Modernamente, o processo de descrição de espécies recém-descobertas ocorre nas páginas de revistas científicas, não mais em livros. Mas a importância e a singularidade do conjunto de novas espécies de aves amazônicas fizeram os editores da enciclopédia e os autores dos trabalhos optarem por um caminho alternativo. Cada nova espécie foi alvo de um paper independente, um artigo científico, nos moldes do que seria preparado para um periódico acadêmico, e a equipe do Handbook contratou os serviços de um grupo de especialistas para atuar no processo de revisão por pares e aprovação dos textos com as descrições formais de cada espécie. Para a ciência, o texto que descreve e batiza com um nome em latim, composto de dois termos (gênero e espécie), uma nova forma de vida equivale ao atestado de nascimento da espécie. Serve também como uma documentação fundamental da biodiversidade de uma região, no caso das aves da Amazônia, e para a formulação de políticas públicas de caráter ambiental.
A iniciativa de publicar todas as novas espécies de uma vez ganhou corpo no ano passado e foi coordenada por Whitney, Silveira, Cohn-Haft e Aleixo, sempre com a participação de alunos de pós-graduação de suas respectivas instituições. O grupo estava produzindo textos para o 17º volume do Handbook, que traria informações de espécies de aves descobertas recentemente em todo o mundo, entre 1992 e 2011. As espécies formalmente descritas pela ciência nesse período haviam ficado de fora dos demais 16 livros da série, que resumiam e organizavam dados de cada membro das famílias conhecidas de aves. Inicialmente, o volume especial da obra trataria de 68 espécies, todas já descritas formalmente empapers publicados em revistas científicas nas últimas duas décadas, o que dá uma média de menos de 4 novas espécies descobertas por ano. No final, o livro extra trará 83 espécies, incluindo as 15 da Amazônia cuja descrição científica ocorre excepcionalmente no próprio livro. Ao optar por revelar simultaneamente as novas espécies numa única obra, a ideia do grupo era chamar a atenção para a importância de preservar a biodiversidade da Amazônia, onde podem ser encontrados dois terços das espécies de aves presentes no Brasil. “Se publicássemos cada paper em separado, em revistas distintas, o impacto não seria o mesmo”, diz Silveira.
O ato de procurar por aves no meio natural remete à imagem de um sujeito de bermudas, camiseta, chapéu e binóculos na mão. Talvez uma máquina fotográfica também componha o cenário. No entanto, um item não mencionado é mais do que obrigatório para os ornitólogos: um gravador. A maioria das 15 novas espécies foi, inicialmente, identificada por seu cantar, que, aos ouvidos dos especialistas, apresentava caráter diferente ou pouco familiar. “Não é preciso ser superdotado para reconhecer um cantar diferente. É questão de treino”, diz Whitney. “É como reconhecer pelo primeiro acorde uma música nova de sua banda favorita.”
Há apenas duas décadas, a descrição de uma nova espécie de ave, como ocorria com a maioria dos seres vivos, se baseava apenas na singularidade de sua anatomia e aparência externa. Se a plumagem e as estruturas ósseas de um exemplar eram diferentes significativamente dos traços encontrados nas espécies conhecidas, esse animal podia ser rotulado como sendo de uma nova espécie. Hoje, além da morfologia, outros dois critérios fundamentais são usados para propor a existência de novas espécie de aves: a análise de suas vocalizações e de seu material genético. “Atualmente há pesquisadores que propõem a existência de uma nova espécie de ave mesmo quando apenas um desses três parâmetros se mostra distinto das demais espécies conhecidas”, afirma Silveira. “Fomos conservadores em nosso trabalho e propusemos uma nova espécie apenas quando encontramos divergências em pelo menos dois desses três critérios."

segunda-feira, 15 de abril de 2013

UNIVERSIDADE E METROPOLE: QUE PROJETO QUEREMOS?


Ao contestarem mudança de campus, professores da UFMG reabrem debate indispensável sobre cidades brasileiras e instituições das quais se espera reflexão, inconformismo e alternativas
Texto coletivo*
Qual o atual papel da universidade pública na transformação das cidades brasileiras e na proposição de novas formas de vida urbana? Ao redor do mundo, a conexão das universidades com as comunidades locais cresce, enquanto o Brasil ainda replica sistematicamente o paradigma do campus universitário como enclave monofuncional e segregado. Esta é uma proposta de discussão elaborada a partir da consulta à comunidade acadêmica da Escola de Arquitetura, Urbanismo e Design da UFMG, em abril de 2013, para decidir entre a continuação desta na região centro-sul de Belo Horizonte ou a sua mudança para o Campus da Pampulha.
1. Amnésia histórica
Enquanto outras escolas de arquitetura do Brasil e do mundo têm orgulho de preservar, usar e transformar seus edifícios, potencializando as relações destes com a cultura local, aqui arriscamos replicar a amnésia histórica que é praticada na cidade. Não demonstramos capacidade para lidar com nossa própria memória de maneira atual e, ao contrário do que pensamos, acabamos sendo nós os anacrônicos, prontos a nos desfazer desse patrimônio na reprodução inconsciente da lógica do descartável. No edifício da Escola de Arquitetura e Urbanismo, e agora também de Design, projetado por seus próprios alunos egressos no final dos anos 1940, dezenas de gerações de arquitetos tiveram o privilégio de se formar dentro de importante exemplar do modernismo em Belo Horizonte, que agora planejamos condenar ao esquecimento.

A preservação de um bem está relacionada ao seu uso. Edifícios que outrora abrigaram escolas da UFMG  hoje estão vazios, em plena degradação e deixando de cumprir sua função social no meio da cidade. Abandonar a atual Escola em busca do “novo” é incorrer no mesmo erro que aqui se comete desde Aarão Reis, que resultou em uma cidade de 115 anos que já está na sua quarta geração de edifícios em um mesmo lote. O limite dessa patologia histórica que acomete os belo horizontinos é o saudosismo, pois é preciso abraçar impensadamente o “novo” e a “modernidade” mas fingir, mineiramente, ter um pé na tradição. A solução parece ser coletar fotografias históricas e emocionantes de um passado saudoso no edifício da Rua Paraíba e montar, no novo prédio, um mural de boas vindas ao futuro.
2. Esvaziamento e gentrificação
A indução de novos vetores radiocêntricos de crescimento e o modelo de desenvolvimento urbano em curso em Belo Horizonte produzem equívocos clamorosos e impactos gritantes na vida de milhares de pessoas. A expansão rumo ao Sul devastou e privatizou a mata atlântica remanescente e o ímpeto de colonização do Norte expulsa populações tradicionais, legitima o modelo rodoviarista e ameaça o complexo de grutas e formações geológicas, patrimônio cultural e ambiental. O processo acelerado de gentrificação em atividade nos bairros Funcionários e Savassi expulsa antigos moradores, práticas comerciais e sociais para dar lugar aos novos consumidores do luxo. O esvaziamento da Escola e seu deslocamento do Funcionários, além de desarticular uma rede de comércios, serviços, redes de encontros e possibilidades que, certamente, não serão encontrados no Campus da Pampulha, reitera a aderência acrítica das escolas de arquitetura e dos arquitetos e urbanistas com a modernização conservadora, elitista e excludente conduzida pelas recentes administrações do Município e do Estado.

Estar no Centro é hoje, mais do que nunca, uma afirmação da cidade como espaço democrático e privilegiado da festa, da política, da tolerância e da vivacidade. E se é consenso que habitar as áreas centrais, coalhadas de imóveis vazios ou subutilizados, é a melhor solução para reverter o processo histórico de degradação urbana e exclusão social, como podemos deixar para trás milhares de metros quadrados públicos sem nenhum constrangimento?

quinta-feira, 4 de abril de 2013

"FUGAZ OUTONO" POEMA DE VICENTE DE PERCIA


FUGAZ OUTONO
Lentas folhas de outono
caem no solo
e cavam buracos na minha imaginação.

Com os pés
piso nas cores esmaecidas
que o tempo marcou.

E assim sou seguido
por um bando de formas diferentes
que tocam meu corpo.

Assisto à nítida deterioração
da matéria com tranquilidade.
Não é sonho,
apenas está acontecendo
alguma coisa que marca me.

Uma sensação de frescor,
aragem tocada pelo vento contínuo,
nessa estação de moderação,
 luz, sombra, frio e calor.

A ilusão se perpetua
 por acordes de instrumentos.
Músicas que se evaporam
em travessias anônimas
e arrastam/ sentimentos.

Uma sensação de medo
e tranqüilidade transpassa o meu corpo
num compasso reinventado
por instrumentos que brotam da terra
- terá o sonho acabado?

Arrepio-me com o murchar
das copas das árvores,
com a ausência das flores,
com o canto dos pássaros
que desprezam as desesperanças.

De repente reconheço,
entre as coisas ao meu redor,
os caminhos que percorri sozinho.
 Eles são círios de luz,
que exalam a saudade. 

terça-feira, 12 de março de 2013

CINEMA BELAS ARTES EM SÃO PAULO. COMO FICA?


Um mês depois de sua última reunião com o secretario da Cultura de S.Paulo, Juca Ferreira, o Movimento pelo Belas Artes (MBA), formado por grupos que defendem a recuperação do cinema de arte, volta a encontrá-lo hoje. Há expectativas otimistas. Favorável à proposta do movimento, Juca comprometeu-se, no encontro anterior, a buscar caminhos para viabilizá-la. Elas começaram a se abrir, em dois terrenos fundamentais: o jurídico e o financeiro.Do ponto de vista do Direito, deu-se um primeiro passo já em outubro do ano passado. Foram tombadas pelo Conselho de Defesa do Patrimônio Histórico, Arqueológico, Artístico e Turístico (Condephaat) a fachada e os quatro primeiros metros, a partir da calçada, do imóvel em que funcionou o Belas Artes. A decisão impôs um primeiro limite ao poder do proprietário do prédio. Sua intenção inicial (vender ou alugar a construção para uma loja de departamentos) foi parcialmente frustrada. Mas o Condephaat não tem poder algum para trazer de volta o cinema, nem havia sinal de que a prefeitura o desejasse.
Se o novo prefeito, Fernando Haddad, estiver disposto a tanto, há pelo menos dois caminhos jurídicos, explica o advogado Marcos Reis, de São Paulo. O primeiro, e mais “agressivo”, é a desapropriação do imóvel. Ela pode se dar de forma consensual ou litigiosa — ou seja, forçada. Em qualquer dos casos, o governo paga, ao proprietário, uma indenização no valor de mercado do prédio. Este passa a ser um bem público. A partir daí, a decisão sobre o uso do espaço é da  Prefeitura.

terça-feira, 12 de fevereiro de 2013

CHINA ULTRAPASSA EUA EM VOLUME DE TRANSAÇÕES COMERCIAIS


Enquanto as exportações e importações norte-americanas totalizaram 3,82 trilhões de dólares em 2012, as transações comerciais da China chegaram a 3,87 trilhões de dólares

Yuan
China ultrapassará os EUA também em importações até 2016, segundo estimativas de economistas 
A China já ocupa o lugar de maior potência comercial do mundo. O país asiático ultrapassou os Estados Unidos em volume de transações comerciais (ou corrente de comércio, que é a soma das importações e exportações) em 2012, segundo dados oficiais dos países, afirmou aBloomberg
Enquanto as exportações e importações norte-americanas totalizaram 3,82 trilhões de dólares em 2012, segundo o Departamento de Comércio do país, as transações comerciais na China chegaram a 3,87 trilhões de dólares no período.
A crescente influência da China no comércio global, segundo a Bloomberg, já ameaça romper blocos comerciais regionais, uma vez que o país se torna o parceiro comercial mais importante para alguns países - como o próprio Brasil. A Alemanha, por exemplo, deve dobrar suas exportações para a China até o final da década, assim como faz com a França, segundo o economista do Goldman Sachs, Jim O'Neill, criador do termo Bric para designar as economias emergentes em ascensão no início da década de 2000 - Brasil, Rússia, China e Índia. "Para muitos países ao redor do mundo, a China está se tornando rapidamente o parceiro comercial mais importante"

quinta-feira, 24 de janeiro de 2013

O EL DORADO


  • Daniel Munoz/Reuters
    Arqueólogos afirmam que o mito da cidade perdida feita de ouro foi mal interpretado. Para o povo muiscas, El Dorado não era um lugar, mas um líder muito rico que se cobria de pó de ouro
    Arqueólogos afirmam que o mito da cidade perdida feita de ouro foi mal interpretado. Para o povo muiscas, El Dorado não era um lugar, mas um líder muito rico que se cobria de pó de ouro
O sonho de encontrar El Dorado, uma mítica cidade de ouro perdida na selva sul-americana, levou muitos conquistadores a se aventurarem, inutilmente, por florestas e montanhas. Séculos depois, estudos arqueológicos revelam que "O Dourado" não era um lugar, e, sim, uma pessoa.

A chegada de Colombo à América, no ano de 1492, foi o primeiro capítulo de um choque de culturas que transformou o mundo, um embate brutal entre estilos de vida e crenças completamente opostos.

O mito europeu inspirado em El Dorado, o de uma cidade perdida, feita de ouro, à espera de ser descoberta por conquistadores aventureiros, condensa a sede infinita dos europeus pelo ouro e sua determinação em explorar financeiramente os novos territórios.

A versão sul-americana do mito, por outro lado, revela a verdadeira natureza deste território e dos povos que ali viviam. Para eles, El Dorado não era um lugar, mas um líder tão rico que se cobria de pó de ouro da cabeça aos pés todas as manhãs, e se lavava em um lago sagrado todas as noites.

Nos últimos anos, com base em textos históricos e pesquisas arqueológicas, especialistas desvendaram a verdadeira história por trás desses mitos.

Rito de Passagem

No centro dessa história está um ritual, uma cerimônia realizada pelo povo muisca, que desde o ano 800 d.C. habita a região central da Colômbia. 

Vários cronistas espanhóis que chegaram a essa região no início do século 16 escreveram sobre a cerimônia do Dourado. Um dos melhores relatos foi feito por Juan Rodrigues Freyle. No livro de Freyle, La conquista y descubrimiento del reino de la Nueva Granada, publicado em 1636, ele nos conta que quando um governante do povo muisca morria, iniciava-se um processo de sucessão.
O novo líder escolhido, normalmente um sobrinho do governante anterior, passava por um longo processo de iniciação. O clímax desse processo era uma cerimônia em que o novo líder, em cima de uma jangada, entrava em um lago tido como sagrado - como, por exemplo, o lago Guatavita, na Colômbia Central.
Rodeado por quatro sacerdotes enfeitados com penas, coroas de ouro e ornamentos, o líder - nu e coberto apenas por pó de ouro - entrava no lago para oferecer aos deuses objetos de ouro, esmeraldas e outras preciosidades, que ele jogava no lago.
As margens do lago circular ficavam repletas de espectadores ricamente enfeitados, tocando instrumentos musicais. Fogueiras queimavam, quase bloqueando a luz do dia. A jangada também levava quatro queimadores de incenso que jogavam nuvens de fumaça para o céu.
Quando a embarcação chegava ao centro do lago, um dos sacerdotes erguia uma bandeira para pedir silêncio à multidão. Isso marcava o momento em que o povo reunido em torno do lago prometia lealdade ao novo líder, emitindo gritos de aprovação.
É fascinante que muitos aspectos desta interpretação dos eventos históricos foram confirmados por meticulosas pesquisas arqueológicas - pesquisas que também revelam o excepcional volume e habilidade na produção de ouro na Colômbia no período em que os europeus chegaram, por volta de 1537.
Espiritualidade
O ouro da sociedade muisca - mais especificamente, uma liga contendo ouro, prata e cobre chamada tumbaga - era altamente procurado, não por seu valor material, mas por seu poder espiritual, sua conexão com divindades e sua capacidade de trazer equilíbrio e harmonia para a sociedade muisca.
Como explica Enrique Gonzalez - descendente dessa etnia -, para seu povo, o ouro não simboliza prosperidade. "Para os muisca hoje, assim como para nossos ancestrais, o ouro não era nada mais do que uma oferenda", disse. "O ouro não representa riqueza para nós".
Pesquisas recentes feitas por Maria Alicia Uribe Villegas, do Museo Del Oro, em Bogotá, e Marcos Martinon-Torres, do UCL Institute of Archaeology, em Londres, mostram que na sociedade muisca esses objetos de "ouro" eram feitos especificamente como oferendas para os deuses, para incentivá-los a promover o equilíbrio do cosmos e assegurar um relacionamento estável entre o povo e seu meio ambiente.
Outro arqueólogo, Roberto Lleras Perez, especialista em crenças e ourivesaria muisca, disse que as técnicas de criação e o uso que os muisca faziam dos metais eram únicos na América do Sul.
"Nenhuma outra sociedade, até onde eu sei, dedicava mais de 50% de sua produção a oferendas comemorativas. Acho que isso é algo único", ele disse.
Os objetos de ouro, como a coleção de tunjos (oferendas, em sua maioria, figuras antropomórficas achatadas) expostos digitalmente no British Museum, foram feitos a partir de modelos de cera. A técnica consiste em criar-se moldes de barro a partir de delicados modelos de cera que depois são derretidos. Os moldes são então usados para a criação de objetos de ouro.
Uma vez que todos os objetos de ouro em cada oferenda tinham a mesma composição química e técnicas de manufatura, os especialistas concluíram que esses artefatos eram produzidos especificamente como oferendas e talvez tenham sido fabricados horas ou dias antes de ser ofertados.
Em 1969, três moradores de um vilarejo ao sul de Bogotá encontraram, dentro de uma caverna, uma jangada de ouro com uma gravura mostrando exatamente a cena descrita por Greyle: um homem coberto de ouro partindo em direção a um lago sagrado. Esta é a verdadeira história de El Dorado.
A forma como essa história foi sendo transformada para dar origem ao mito de uma cidade de ouro revela o valor que esse metal tinha para os conquistadores europeus, como fonte de riqueza material. Eles tinham pouca compreensão do valor real do ouro para a sociedade muisca. E ficaram fascinados simplesmente ao imaginar quanto ouro não teria sido jogado nas águas profundas do lago e enterrado em outros locais sagrados na Colômbia.
E foram histórias como essas que, em 1537, levaram o conquistador espanhol Jimenez de Quesada e seu exército de 800 homens a partirem em uma rota terrestre que cruzava o Peru e subia, pelos Andes, à procura da terra habitada pelo povo muisca.
Quesada e seus homens foram atraídos para territórios cada vez mais inóspitos e desconhecidos, onde muitos morreram. Mas o que encontraram os deixou atônitos. As técnicas de ourivesaria dos muisca eram diferentes de tudo o que os espanhóis conheciam. Os olhos europeus jamais haviam visto objetos de ouro tão deslumbrantes.
Século 21
Tragicamente, a busca desesperada por ouro continua viva na Colômbia. Arqueólogos que trabalham em instituições de pesquisa como o Museo del Oro, em Bogotá, lutam contra uma maré crescente de roubos.
Assim como os conquistadores europeus no século 16, os saqueadores modernos continuam a roubar o passado da América do Sul, privando a todos nós das histórias fascinantes por trás de cada um desses artefatos.
A quantidade de ouro descoberta pelos saqueadores continua a impressionar. Na década de 1970, quando novos sítios arqueológicos foram encontrados por caçadores de ouro no norte da Colômbia, houve uma quebra no mercado mundial do ouro.
Ao longo dos séculos, este saqueamento, inspirado no mito de El Dorado, resultou na destruição da maioria dos preciosos artefatos de ouro pré-colombianos, que foram derretidos. O valor real dos objetos, as pistas que poderiam oferecer sobre uma cultura antiga, estão perdidos para sempre.
Felizmente, no entanto, coleções de artefatos que sobreviveram hoje fazem parte dos acervos do Museo del Oro, em Bogotá, e British Museum, em Londres.

quinta-feira, 17 de janeiro de 2013

TEXTO CRÍTICO DE VICENTE DE PERCIA: TABLOIDE - PERCEPEÇÃO VERSUS IMPOSIÇÃO



A revista de domingo possui muitas propagandas, a maioria das páginas mostram: cosméticos, moda, joias, carros, eletrodomésticos, bancos etc... Todas com poucos textos e ótimas fotografias. 
Um artigo sobre museus se difere dos demais, porém há uma estratégia motivadora mostrando obra de Cindy Sherman (1989) que se veste de uma madona renascentista. Assim, os conceitos de consenso de convergência em relação ao objetivo do caderno de notícias estão salvos. As produções artísticas de ordem crescente, em  uma escala mundial, seguem as suas metas para alcançar os pontos nevrálgicos das metas comerciais a serem atingidas. É preciso, pois ter anunciantes, vender produtos e, como tal, o Tabloide foi cunhado para atingir essa meta.
        As ambições intelectuais contemporâneas não são tão exigentes, elas surgem e desaparecem como os meteoros. Há conceitos que afirmam que a globalização tem efeitos de agregar, porém até quando  pode se gerenciar efeitos globais de uma passividade permissiva.
         A melhoria da produção da arte em escala global difere das condições de vida. Os efeitos globais da comunicação não são tão previsiveis: - O mundo diferente é sempre melhor que o nosso. A imagem da globalização não desordena, apenas mostra a fatia que deve ser comida e para se estabelecer as regras desse partihamento o público é o alvo central.  A formação e o senso-crítico do Homem é que ditará o que deve ser revisto e conseguentemente avaliado. Para tal é necessário educar, estabelecer estratégias de motivação e educacional. É um grande desafio que tem a influência da mídia, e outros  sistemas formativos.Na pratica é possível analisar o distaciamento ou a aproximação da formação cultural do espectador e as suas consequências. Os resultados dessa “digestão”é importante em face de tantos questionamentos e imposições ardilosas enfrentadas.
Direcionar as matérias jornalísticas para uma única identidade é a meta imposta para permitir "novas oportunidades de vida para todos". A ideia de globalização  calcada em um discurso atual que tem por base a eficiência e a deficiência cultural não é a meta das redações. Ter uma expectativa fora desse prisma é quebrar uma rede de informações onde a “certeza” é mais forte que a probabilidade. Como reconquistar uma nova identidade? Apoiada na capacidade em defender os territórios do conhecimento com embasamento? Revisitar obras de Claude Levis- Strauss, Walter Benjamin, Lyotard, Marcel Duchamp, Oscar Niemeyer, Lúcio Costa, entre outros?Qual a diferença entre Percepção e imposição?
Existe um posicionamento permanente que reivindica os direitos em estabelecer uma ordenância para visualizar indícios e regras a respeito dos sinais da globalização. Tal postura avaliativa quer queira ou não, exige uma regularidade de estudos a serem complementados. Devemos estar conscientes de que vários sistemas de criação existem. Mesmo que preterido pelas novas correntes, os modelos já consagrados ainda são vistos e admirados.
 No tocante a pós-modernidade, por maior proximidade, ela é amplamente divulgada e por incrível que pareça ainda desperta certo fascínio como um direcionamento para o sucesso. Poucos buscam explicitar respostas plausíveis que mostrem as dificuldades dos agentes estéticos em convencer e explicar meritoriamente os alcances das “rupturas” na arte e sua atuação paralela na sociedade. Revelar os novos significados que deveriam mostrar propósitos e consequências sociais construtivas, ou denunciadoras e o desejo dos estudiosos para esclarecer dúvidas.
        Esse processo em busca de definição de uma estética visual que revele possíveis mudanças suscita cada vez na crítica consciente o desejo em revelar as ações humanas como núcleos das tarefas artísticas, pois elas são raízes e observatórios para  compreensão da dinâmica dos diversos ciclos na arte e a maneira sobre a qual as nossas percepções de tempo e espaço são analisadas. É importante não só observar o mundo, mas ser observado. Indagar a interatividade das mensagens não basta, é preciso falar em uma nova "elite" que elege: entre elas estão às redes sociais e o seu manuseio. Já virou refrão: "muitos observam poucos. Pouco que são observados são as celebridades”.
Vicente de Percia