quarta-feira, 23 de novembro de 2011

CRÍTICA DA ÓPERA "A VALQUÍRIA" DE RICHARD WAGNER TEMPORADA 2011, THEATRO MUNICIPAL DE SÃO PAULO

"A Valquíria" drama em três atos libreto e música de Richard Wagner estreou no Theatro Municipal de São Paulo em 17 de Novembro, temporada 2011 com várias récitas. A célebre e difícil ópera exige cantores com timbres e perfomaces diferenciados, fora cenários e figurinos que aproximem o público com O Ouro do Reno e a trilogoia Wagneriana porém, isto não ocorreu nessas récitas. " "A Valquíria" inicia-se com a tormenta e no " Ouro Do Reno" assistimos as belas encenações aquáticas e o Reno correndo para o Mar.
"A Valquíria" a intensidade Wagneriana explode desde o I ato após o casamento de Sieglinde e Sigmund ignorando a força e divindade de Wotan. O prelúdio é um chamamento de uma tempestade. Raios, trovões. A condução musical do I ato oferece o brilho dos contra baixos e violoncelos e abre para Sigmund a sua gloriosa entrada. No papel de Sigmund, Martim Muehle não convence, não possui a voz para o enfrentamento com os instrumentos e o volume exigido, mostra-se um herói titubeante. A atração dos dois irmãos com duplo significados e das constantes emoções e pressentimentos estão plantados. Há mudanças do clima da música e Muelhle não corresponde a elas. Lee Bisset (Sieglind), soprano escocesa, vive seu personagem com distinção, apesar de alguns floreios que antecipa a vontade de vê-la em uma ópera de Verdi, brilha com sua voz e presença. Gregory Reinhart (Hunding), baixo americano é perfeito, com excelente voz e apropriado para o papel nos aproxima do pesado acompanhamento das trompas. A forte emoção é prejudicada por um figurino eclético, incompreensivo, a tentativa de ser "contemporâneo" se perde por falta de um segmento estético cênico. Com um cenário barroco, cheio de objetos desnecessários, lustres de cristais, moveis atuais, ex votos, o afastamento se dá impedindo o público apreciar através da identidades mitológicas às cenas e cantos magistrais. A exortação para vitória dos Wälsung é o extase da paixão no beijo dos irmãos; a conquista da espada não é bem resolvida. " Existe autoridade do compositor, ela está permanentemente tecendo percepções dos afetos, e seus personagens enquadram-se em metáforas do inconsciente para surpreender e narrar uma dialética onde o personagem central praticamente não luta com um antagonista" Vertentes do Amor e Morte" edit/ Bow Art International , 2009, SP. Vicente de Percia.
II Ato
Novamente no prelúdio são ouvidos a cavalgada das Valquirias. Janice Baird, soprano americna defende com fidelidade (Brünnilde). Já Stefan Heideman( Wotan) não convence. A atmosfera tempestuosa que deveria estar presente não existe e, é novamente prejudicada pelo controvertido figurino e cenário. No cenário uma tentativa inútil de uma desterritorização voltada para signos, símbolos e arquétipos brasileiros, não convence. Denise de Freitas (Fricka) meiossoprano brasileiro também não possui o registro Wagneriano, oscila nos agudos e imprime a seu personagem, gestos exagerados, parece querer dominar a cena a todo custo, com voz equivocada perde a ascensão que o personagem exige. Passa despercebida a sua exigência da vingança de Wotan em relação a Hunding. O canto de morte profético não convence, falta a solenidade Wagneriana. É o ato mais fraco, pois não possibilita a grande retirada cênica de Sieglind, o grito de horror. A despedida.
AtoIII
A Cavalgada das Valquíras abre esse ato. A extrema agitação exigida se perde diante dos figurinos, cenários e alegorias apresentados, "carnavalesco". A notícia e profecia que Brünnhilde anuncia a Sieglinde que será a mãe Siegfried está voltada no motivo de Siegfried. Não há mudanças expressivas nesse ato; os rostos dos deuses desfigurados em face da desobediência; à cena em que a Valquíria jaz em penitência aos pés do pai é desperdiçada. Já os sentimentos de Wotan, o dever de punir não são claros. A cena entre Wotan e Brünnilde e introduzida por uma passagem orquestral é o melhor deste ato. Os demais cantores contribuiram em parte para este desafio que foi a montagem de A Valquíria de Richard Wagner ausente dos nossos palcos à décadas. A Orquestra Sinfônica Municipal, regência e direção de Luiz Fernando Malheiro saiu-se bem, valorizando as trompas, harpa e trazendo o fogo mágico dos deuses. André Heller merece nossa atenção, porém não se viu " A Valquíria" tão aguardada. O Theatro Municipal de São Paulo apesar de anunciar todas as récitas esgotadas a casa tinha muitos lugares vazios. Grande parte do público abandonou o espetáculo no final do II ato. O que denúncia que o espetáculo não agradou como anunciado.
Vicente de Percia

Comentários



A crítica de Vicente de Percia revela conhecimento da obra de Wagner e seus comentários se assemelham muito com as minhas opiniões sobre a produção desta ópera no Theatro Municipal.Parabéns pela perfeita compreensão e reconhecimento dos erros no que se refere à "reggia" de André Heller Filipe, bem como nas concepções cenográficas e na escolha das vozes intérpretes de seus personagens.
Por Marco Antonio Seta em CRÍTICA DA ÓPERA "A VALQUÍRIA" DE RICHARD WAGNER ... às 05:48

Marco Antonio Seta disse...
A crítica de Vicente de Percia revela conhecimento da obra de Wagner e seus comentários se assemelham muito com as minhas opiniões sobre a produção desta ópera no Theatro Municipal.Parabéns pela perfeita compreensão e reconhecimento dos erros no que se refere à "reggia" de André Heller Filipe, bem como nas concepções cenográficas e na escolha das vozes intérpretes de seus personagens.



21:00

Maria João Machado disse...
Consistente crítica de um conhecedor de Richard Wagner


Maria João Machado


Lisboa Portugal


Antônio V Perdegann disse...
Li e gostei. Parabéns