quinta-feira, 15 de maio de 2014

CUIDADOS ESPECIAIS COM OS GRÃOS

O livro de Jeremy Rifkin [ver referência acima] é uma ambiciosa tentativa de formular nova narrativa para a utopia que desabou junto com o muro de Berlim, em 1989. Sua profecia mais ousada é que o capitalismo entrará em irreversível declínio ao longo das próximas três décadas. Ele não será substituído por aquilo que costuma ser considerado seu oposto, ou seja, a propriedade estatal dos grandes meios de produção e troca, orientada pelo planejamento central.
Seu declínio não passará tampouco por mãos hostis, por processos de expropriação ou por eventos épicos como a tomada do Palácio de Inverno. Na verdade, o eclipse do capitalismo já está desenhado e decorrerá do avanço simultâneo da 00 e da economia colaborativa.
Não se trata de fé ingênua no poder da técnica: a ampliação das oportunidades de oferecer bens e serviços a partir da cooperação direta entre as pessoas (e cada vez menos, do mercado) depende do fortalecimento da sociedade civil e esbarra na gigantesca força dos interesses que procuram sempre limitar o alcance dos bens comuns (os commons, em inglês). Mas, diferentemente de qualquer época precedente, a produção e o uso de bens comuns conta agora com dispositivos cada vez mais poderosos. É nessa unidade entre a cooperação social e as mídias digitais que está a base para uma sociedade moderna, inovadora, colaborativa e descentralizada, funcionamento não se apoia nem nos mercados, nem na busca individual do lucro.
Jeremy Rifkin é professor de uma das mais prestigiosas escolas de gestão dos Estados Unidos, a Wharton. Além disso, é consultor de vários governos europeus e empresas globais. Como tantos outros intelectuais americanos, adotou postura crítica com relação ao papel das finanças na crise de 2008, apoiando o Occupy Wall Street. O mais intrigante neste seu último trabalho está no título: custo marginal zero é uma espécie de quadratura do círculo para a sabedoria econômica convencional. De fato, as primeiras páginas dos manuais ensinam que a natureza econômica dos bens e dos serviços deriva de sua escassez. É por serem escassos que os produtos são alocados por meio dos preços. A abundância generalizada (como bem o observaram, mesmo que sob enfoques diferentes, Marx, Stuart Mill e Keynes) conduziria a uma organização social com mecanismos totalmente diferentes dos que marcam a civilização atual.

terça-feira, 13 de maio de 2014

XENOFOBIA NA EUROPA

 
Partidos xenófobos podem eleger dezenas de eurodeputados, em 25/5. Esquerda não conseguirá enfrentá-los sem retomar laços com as populações empobrecidas
 
Uma coisa é certa: as eleições europeias do final de maio trarão um aumento notável do voto de extrema direita. E incorporarão ao Parlamento Europeu u número considerável de novos deputados ultradireitistas. Atualmente, eles se concentram em dois grupos: o Movimento pela Europa das Liberdades e da Democracia (MELD) e a Aliança Europeia de Movimentos Nacionais (AEMN). Juntos, reúnem 47 eurodeputados – 6% de 766 cadeiras1. Quantos serão, depois de 25 de maio? O dobro? Um número suficente para bloquear as decisões do Parlamente Europeu e, em consequência, o funcionamento da União Europeia?2
A verdade é que, desde há vários anos e em particular desde que se agudizaram a crise da democracia participativa, o desastre social e a desconfiança diante da União Europeia (UE), quase todas as eleições nos países do bloco traduzem-se numa irresistível subida da extrema-direita. As recentes sondagens de opinião confirmam que, nas eleições de maio, poderia aumentar consideravelmente o número dos representantes dos partidos ultras: Partido pela Independência do Reino Unido, UKIP (Reino Unido)3; Partido da Liberdade, FPÖ (Áustria); Jobbik (Hungria); Aurora Dourada (Grécia); Liga Norte (Itália); Verdadeiros Finlandeses (Finlândia); Vlaams Belang (Bélgica); Partido da Liberdade, PVV (Holanda); Partido do Povo Dinamarquês, DF (Dinamarca); Democratas de Suécia, DS (Suécia); Partido Nacional Eslovaco, SNS (Eslováquia); Partido do Ordem e a Justiça, TT (Lituânia); Ataka (Bulgária); Partido da Grande Roménia, PRM (Roménia); e Partido Nacional-Democrata, NPD (Alemanha).
Na Espanha, onde a extrema-direita esteve no poder mais tempo que em qualquer outro país europeu (de 1939 a 1975), esta corrente tem hoje pouca representatividade. Nas eleições de 2009 para o Parlamento Europeu só obteve 69.164 votos (0,43% dos sufrágios válidos). Ainda que, normalmente, ao redor de 2% dos espanhóis se declare de extrema-direita (o que equivale a uns 650 mil cidadãos). Em janeiro passado, dissidentes do Partido Popular (PP, conservador) fundaram o Vox, um partido situado à “direita da direita” que, com jargão franquista, recusa o “Estado partidocrático”, defende o patriotismo e exige “o fim do Estado das autonomias” e a proibição do aborto.