quinta-feira, 23 de dezembro de 2010

COMENTÁRIOS SOBRE A 29ª BIENAL INTERNACIONAL DE ARTE DE SÃO PAULO


Arnaldo Jabor
Ao apagar das luzes, fui ver a Bienal. Quase não escrevo sobre ela, mas não aguentei, apesar de não ser crítico de arte. A sensação dominante quer tive foi de ruínas ou de despejos da civilização. Saí triste. Os trabalhos repetem os mesmos códigos e repertórios: terra arrasada, materiais brutos e sujos, desarmonia, assimetria, uma vergonha de ser "arte", vergonha de provocar sentimentos de prazer. A fruição poética é impedida, como se o prazer fosse uma coisa reacionária, "alienada", ignorando o "mal do mundo", que tem de ser esfregado na cara do espectador para que ele não esqueça o horror que nos assola. Há um propósito de evitar qualquer transcendência artística. Um crítico escreveu: "O paradigma romântico foi desmantelado no século 20, porque apresenta a arte como algo universal, acima da realidade social e política".Ou seja, a razão maior da arte, que é justamente esse mistério que aponta para "as coisas vagas" (como escreveu Paul Valéry) sem as quais não há reflexão poética ou filosófica, foi jogada fora, em nome de uma racionalização criada para substituir nossa impotência política real.Fui andando pelo pavilhão maravilhoso do Niemeyer, pensando que o edifício "modernista" era superior a qualquer panfletinho ali exposto.Pensei que o império da sordidez mercantil, a ignorância no poder, o fanatismo do terror, a boçalidade cultural, toda a tempestade de bosta que nos ronda está muito além do alcance crítico de qualquer "denúncia" artística. Não adianta mais "chocar" ou "conscientizar" ninguém. Nada que haja na Bienal nos choca mais que homens-bomba explodindo discotecas ou a fome na África ou a lama das favelas e periferias. Nada. Os gestos enraivecidos da antiarte nem arranham a pele do mundo. Nesta Bienal vi um parque temático de deprimidos, um muro de lamentações inúteis - a melancolia como "denúncia" de uma vida sem solução, quando a grande critica ao Ocidente é feita pelos terroristas islâmicos. A infeliz sentença de Stockhausen chamando o 11 de Setembro de "obra de arte" tem sim um bruto fundo de verdade. Nada pode explicar ou evitar aquele horror. Nunca imaginávamos que o século 21 seria parecido com o século 7, quando Maomé se declarou o único profeta. Intelectuais e artistas vivem em pânico, pois o tempo de sínteses se extinguiu. Os acontecimentos estão incompreensíveis e, no entanto, óbvios demais. Claro que os artistas contemporâneos não podem ignorar o horror do mundo e têm de acusar o golpe. Sim, mas mesmo em tempos terríveis, há que se buscar alguma transcendência, esperança e vitalidade.Tropeçando em perigosas "instalações", pensei que a morte da "aura" da arte é menos aceita do que pensávamos. Hoje, muitos artistas se vêem como ex-profetas abandonados e passaram a usar a luz da "aura" como um halo, como uma coroa de espinhos para sua solidão. O artista quer virar obra de arte. E tudo faz para esquecer seu abandono, mesmo que seja expor seus excrementos numa latinha. E vemos que ele não abriu mão da representação, mas cultiva-a ao avesso da beleza, como uma doença favorita. Ele é a representação, ele é a paisagem.Acho que nesta desistência da arte transcendental há um complexo de inferioridade diante da tecnociência, que está avassalando nossas vidas. Nietzsche não concordaria: "A arte é mais poderosa que a Ciência, pois ela quer a vida, enquanto o objetivo final do conhecimento é o aniquilamento." Nietzsche escreveu isso no fim do século passado, querendo dizer que, por trás da busca científica e racional da verdade, mora o desejo da morte, de esgotamento da vida, por uma letal explicação de tudo.Claro que não tenho nível para aprofundar este tema, mas temos hoje esta metástase digital hipertecnológica ao lado de um indigente, tuberculoso desempenho artístico do mundo. Temos de um lado o mercantilismo escroto de Hollywood, dos teatrões, das galerias chics ou dos best-sellers. Do outro, a solidão melancólica das Documenta, os bodões negros dos guetos da revolta "oficial".Sem dúvida, a grandeza da arte contemporânea é de se misturar à vida, sem suporte, mas sem negá-la de fora, atacando-a com rancor por sua falta de sentido claro. Nisso, o WikiLeaks mata a pau.Movidos pela ideia socrática de que a arte tem de ser subordinada à Razão, os artistas caíram numa denúncia melancólica das impossibilidades. Não há futuro para esta idéia de arte , seja ela digital, mercantil, iluminista ou o cacete a quatro. A celebração dionisíaca do existir não pode ser considerada frescura ou alienação.Prevaleceu a vertente "triste" do modernismo, a vertente "conceitual" que joga sobre o "mal do mundo" apenas uma ideologia nevoenta de condenações sem nome, apenas uma arte enojada contra o mal-estar da civilização.Por que a melancolia seria mais profunda que a alegria? Como explicar Fred Astaire, Busby Berkeley, "Cantando na Chuva', a arte pop, o jazz? Depois do pop, será que uma "Aids conceitual" não atacou tudo, depauperando a luta? Será que não se esgotou a denúncia do feio pelo "mais feio", que odeia a vida real, por adesão a um impossível finalismo? O "novo" não poderia ser um "belo" que denuncia , com sua luz, a injusta vida?Precisamos de arte, como uvas e frutos e danças e como um coro de Silenos, de Dionísios, pois a ciência e a razão estão querendo chegar até os ossos da "essência". A arte é a ilusão aceitada, a clareza feliz de que a aparência é o lugar do humano e que só nos resta essa hipótese de felicidade num planeta gelado. Não a arte-espetáculo, mercadoria de ver, mas a arte como ritual de embelezamento da vida. Nietzsche: "A ilusão é a essência em que o homem se criou."Lembrei-me então de uma frase de Stravinsky: "A obra de arte deve ser exaltante". E uma de Artaud: "A arte não é a imitação da vida; a vida é que é a imitação de ?algo? transcendental com que a arte nos põe em contato". Por isso, não gostei da Bienal.Fui andando pelo pavilhão maravilhoso do Niemeyer, pensando que o edifício "modernista" era superior a qualquer panfletinho ali exposto.

segunda-feira, 20 de dezembro de 2010

PATAGÔNIA À VENDA

Por r, do Asian Times
Tradução: Caia Fittipaldi, Vila Vudu Imagem:
Clara P. GlaPerito Moreno.

A “deserta e estéril” Patagônia (na avaliação inicial de Charles Darwin) são nada menos que 230 mil quilômetros quadrados de bacias de rios que desaguam no Atlântico. São 4 mil quilômetros quadrados de gelo continental e glaciares – além de uma das maiores reservas de água doce do planeta.
Vivemos hoje os estágios avançados de uma guerra global sem fim à caça de petróleo e gás (há dos dois, aliás, na Patagônia). Relatório crucial da Unesco já avisava, em 2000, que nos cinquenta anos seguintes praticamente todos os seres que habitam o planeta enfrentariam problemas relacionados à falta de água ou à contaminação de grandes massas de água. Quando eclodir a Grande Guerra das Águas – esperada para 2020 – essa Patagônia de lagos azuis translúcidos e glaciares milenares será posta a prêmio; ter água implicará riqueza infinitamente maior do que, hoje, ter petróleo ou gás.
Mentes analítico-bélicas no Pentágono e na Agência Central de Inteligência (CIA) dos EUA não conseguirão deter os sonhos molhados de uma Patagônia secessionista, que será uma espécie de última Arábia Saudita líquida da Terra. População rarefeita (menos de 2 milhões de habitantes), com toda aquela água, abundantíssima energia hidrelétrica e 80% das reservas de petróleo e gás natural da Argentina. O grau de descaso e negligência de que se ressentem os habitantes da Patagônia, em relação a Buenos Aires, pode ser comparado ao que se sente no Baluquistão, no Paquistão, em relação a Islamabad. Pesquisas recentes mostraram que o desejo de viver numa Patagônia independente sempre está acima de 50% (e chega a 78% entre os mais jovens e os desempregados).
A descrição de uma rota de colisão e desastre, de quatro séculos de “desenvolvimento” patagônico, teria aproximadamente o seguinte feitio. No começo foram os povos nativos. Depois vieram os navegadores ibéricos, os piratas ingleses, todos os tipos de cientistas europeus aplicados, os missionários religiosos, os exilados que sonhavam fazer da Patagônia uma versão austral da América. Então chegaram os latifundiários – do Chile ou da Holanda, do País de Gales ou da Polônia, da Escócia ou Dinamarca.
Livrar-se das populações nativas foi colonialismo nu e cru. Os patagônios do norte foram exterminados pela infame e eufemística Campanha do Deserto, de 1879; os do sul foram convertidos, à força, em força de trabalho para o agro-business. E então, nos anos 1990, chegaram os bilionários do “primeiro mundo”.
Segundo o exército, mais de 10% do território argentino pertence a estrangeiros.As vendas prosseguem. E não há contole algum sobre os projetos dos controladores
Como sabem todos os bilionários encantados com a vida selvagem e seus executivos enfarpelados, a venda da Patagônia começou em 1996, no governo do ultra-neoliberal Carlos Menem. Em suas próprias palavras, Menem desejava vender “o excesso de terra” do país que presidia. Não há legislação federal, na Argentina, que regule a venda de terras a estrangeiros. Só no final da década de 1990, venderam-se mais de 8 milhões de hectares de terra. Segundo o exército argentino, mais de 10% do território nacional pertence hoje a estrangeiros – e as vendas prosseguem. O problema não é a venda; o problema é o controle, virtualmente nenhum, sobre os projetos propostos para investimento.
Se você for abonado, ainda comprará o que quiser, onde quiser – inclusive as áreas dos espetaculares parques nacionais. Cada província fixa regras próprias. Se você encontrar o funcionário certo e levar consigo a mala certa carregada com os dólares certos, o mundo – à moda de Tony Montana[2] – é seu. Não surpreende que praticamente todos os moradores das províncias de Rio Negro ou Santa Cruz digam que o gabinete do prefeito é a principal agência de venda de terras da cidade. Os mesmos moradores inevitavelmente lamentam que a Patagônia esteja sendo comprada por estrangeiros – de Ted Turner à família Benetton. E duas das maiores empresas de petróleo da Patagônia pertencem a estrangeiros; uma delas, estatal, foi vendida à Espanha; a outra, privada, à Petrobrás brasileira.
Os Quatro Cavaleiros do Apocalipse – versão local, no fim do mundo – são Tompkins, Turner, Lewis e Benetton. São a safra do século 21 dos conquistadores, aventureiros e piratas da Patagônia – de Francis Drake e George Newbery a Butch Cassidy e Sundance Kid (o rancho deles continua lá, em Cholilla, resto de pueblo que combinaria perfeitamente no cenário das áreas mais miseráveis do Novo México). Os estrangeiros sempre sonharam com esse fim do mundo. A beleza violenta desse lugar – como adiante se verá – leva às lágrimas muito homem feito.
Doug Tompkins é guru “verde” californiano, fundador de duas organizações, The North Face e Esprit. Na Patagônia é conhecido como “o dono da água”. É o maior proprietário privado de recursos naturais da Patagônia chilena, e da região de Corrientes, na Argentina; e é dono de várias estâncias, todas estrategicamente distribuídas pelo mapa. Quando Tompkins bateu os olhos pela primeira vez no sul da Patagônia, do lado chileno, e depois no noroeste da Patagônia, do lado argentino, em 1961, chorou feito bebê. Depois voltou – e pôs-se a comprar.
Ted Turner, fundador da CNN e fanático por pesca de trutas e dono de uma villa espetacular, em área de 5 mil hectares, no sul da província de Neuquen, de onde controla completamente o acesso a um dos rios mais virgens da Patagônia. Tem outra propriedade de 35 mil hectares na mesma província, mais outra, de 5 mil hectares, na Terra do Fogo. Ted só comprou terra nos EUA e na Patagônia.
Villa Traful é um vale verde, privado, que cerca o espetacular lago de mesmo nome – e faz pensar que dessa matéria são feitos todos os Xangrilás, antes do advento do Facebook. Comprar terras em Traful, nos anos 1990s, era sopa. Quem sabia jogar o jogo rapidamente virou proprietário da terra pública em torno do lago. Agora, a festa acabou. Só Jorge Sobisch, de família de emigrados croatas, ex-governador da província de Neuquen que quer ser presidente, já praticamente vende tudo, todos os dias, para gigantescas massas de turistas.
Mas, acima de tudo e todos, toda essa terra pertence a Ted Turner. Turner é proprietário de La Primavera, estância cinematográfica de 5 mil hectares na boca do rio Traful. Ali pesca, como abençoado, a melhor truta e o melhor salmão que a natureza consegue gerar. Jane Fonda era doida por La Primavera. Tompkins era hóspede frequente, além de George Bush pai e Henry Kissinger. A área é policiada por satélite. Estive lá no inverno, tudo vazio e gelado. Assim, não tive o prazer de navegar em águas que pertencem a Ted Turner. Claro. Ted jamais se deixa ver na Vila Traful – mas sabe-se que visita a estância La Primavera algumas vezes por ano.
Assim árvores milenares até onde a vista alcança, abundam os sinais de queLewissó pensa, mesmo, em construir um Estado de fato, dentro do Estado
La Primavera foi fundada, de fato, por um dentista norte-americano e ex-vice cônsul dos EUA em Buenos Aires, George Newbery, em 1894. George e Ralph Newbery (pai do famoso aviador Jorge, cujo nome hoje decora o portal de entrada de um dos aeroportos de Buenos Aires) convenceram-se de que, para povoar a Patagônia, o melhor seria importar cowboys do Texas.
Assim, já desde o início do século 20, temia-se, em todo o norte da Patagônia, uma onda de colonização yankee. Mas a fonte de cowboys exilados do Texas logo secou. La Primavera foi vendida para um inglês, depois para um francês, depois para um argentino, até que, finalmente, pousou no colo de Ted Turner, que andava profundamente envolvido num projeto conservacionista – ou expansão territorial – de 2 milhões de hectares em Montana, Novo México e Nebraska. Mas, sobre a Patagônia, ele jamais negociou nem cedeu um palmo. Coisas de pescador de trutas.
Brit Joseph Lewis, dono da 6ª maior fortuna do Reino Unido, conhecido na Patagônia como “Tio Joe”, por causa de incontrolável mania de fazer filantropia, controla todos os 14 mil hectares de terra em volta do sublime, indescritível Lago Escondido, a 92 km de Bariloche, junto à fronteira com o Chile. Controla também toda a bacia do premiado rio Azur. O ultradiscreto Lewis, que vive entre Londres, Orlando, as Bahamas e a Patagônia é alto tubarão da especulação financeira, além de acionista da pesquisa genética. As garras de seu Tavistock Group estão pousadas sobre tudo, do petróleo e gás da Sibéria, aos sapatos e roupas marcas Puma e Gottex.
A Xangrilá andino-patagônica de Lewis não fica longe de El Bolson, a meca dos hippies argentinos nos anos 1970s, convertida, por transmigração dos espíritos, na primeira prefeitura ecológica do início dos anos 1990s. Nas florestas, ao estilo Tolkien, há árvores multimilenares, os alerces, de madeira lahuan – os organismos vivos mais antigos que há na Argentina, os terceiros entre os mais antigos do planeta. Assim como se veem alerces por todos os lados e até onde a vista alcança, também se veem até onde a vista alcança sinais de que, hoje, Lewis só pensa, mesmo, em fazer o trabalho que caberia às autoridades provinciais e nacionais – quer dizer: em construir um Estado de fato, dentro do Estado.
Em apenas alguns poucos anos, Lewis comprou terras em metragem equivalente a três quartos da cidade de Buenos Aires – mas sob a forma de florestas milenares, glaciares, lagos e rios intocados. Por pouco, não comprou o próprio lago, o que a lei não permitiu. Mas, sim, comprou toda a terra à volta do lago, o que significa que, se você quiser chegar até o lago, tem de viajar por 18 km, em estrada dentro de sua propriedade. Conhecer essa Xangrilá só é possível com ajuda do alto, ou seja, dos guardas de Lewis. Há suspeitas de que Lewis tenha tentado comprar as nascentes de vários rios da região. E, considerando que o Grupo Tavistock está pesadamente envolvido em pesquisa genética e biotecnologia, há suspeitas, também, de que já esteja extraindo e exportando as espécies mais raras que vivem (viviam) na Cordillera.

domingo, 12 de dezembro de 2010

UMA REVOLUÇÃO COMEÇOU - E SERÁ DIGITALIZADA














Por Heether Brooke*, do The Guardian
A diplomacia sempre incluiu jantares com as elites dominantes, acertos de bastidores e encontros clandestinos. Agora, na era digital, os relatos de todas estas festas e diálogos aristocráticos pode ser reunido numa enorme base de dados. Uma vez recolhidos em formato digital, é muito fácil compartilhá-los.
Na verdade, é para isso que a base de dados
Siprnet, de onde os segredos diplomáticos norte- americanos são vazados, foi criada. A comissão governamental criada nos EUA para avaliar a segurança nacional após o 11 de Setembro fez uma descoberta notável: não era o compartilhamento de informações que ameaçava os EUA, mas o não-compartilhamento. A falta de cooperação entre agências governamentais e a retenção de informações por burocratas desperdiçaram muitas oportunidade para bloquear os ataques contra as Torres Gêmeas. Em resposta, a comissão ordenou uma restruturação dos serviços do governo e da inteligência, para que se adaptassem à própria web. A nova prática era de colaboração e compartilhamento de informações. Mas, ao contrário de milhões de membros do governo e empresas terceirizadas, o público não tinha acesso à Siprnet.
Porém, os dados têm o hábito de se espalhar. Eles escorregam entre a segurança militar e também podem vazar pelo Wikileaks, o meio pelo qual eu obtive as informações. Eles violaram até os prazos de fechamento do Guardian e de outros jornais envolvidos na divulgação da história, quando um cópia clandestina do semanário alemão Der Spiegel acidentalmente chegou às bancas em Basle, na Suíça, domingo passado. Alguém a comprou, entendeu o que ela continha e começou a escanear as páginas, traduzindo-as do alemão para o inglês e postando no Twitter. Parece que os dados digitalizados não respeitam autoridade alguma, esteja ela no Pentágono, no Wikilieaks ou num editor de jornais.
Cada um de nós já viveu, pessoalmente, as enormes mudanças que vêm com a digitalização. Fatos ou informação que considerávamos efêmeros e privados agora são permanetes, públicos e agregáveis. Se o volume dos atuais vazamentos parece grande, pense nos 500 milhões de usuários do Facebook, ou nos milhões de registros mantidos pelo Google. Os governos mantêm nossos dados pessoais em enormes bases. Era caro obter e distribuir informação. Agora, é caro retê-la.
Mas quando os devassa de dados atinge o público, os governantes parecem não se importar muito. Nossa privacidade é disponível. Não surpreende que a reação aos novos vazamentos seja, agora, diferente. O que transformou, num sentido revolucionário, a dinâmica do poder não é a escala das revelações – mas o fato de que indivíduos podem tornar pública uma cópia de documentos do Estado. Em papel, estes vazamentos equivalem, segundo estimativas do Guardian, a 213.969 paginas A4, que teriam, empilhadas, a altura de 43 quilômetros. Algo impossível de vazar com segurança, na era do papel.
Para alguns, a novidade significa uma crise. Para outros, uma oportunidade. A tecnologia está rompendo as barreiras tradicionais de classe, poder, riqueza e geografia – e substituindo-as por um ethos de colaboração e transparência.
Um ex-embaixador dos Estados Unidos na Rússia, James Collins, disse à CNN que a revelação dos registros pelo Wikileaks “impedirá que as coisas seja feitas de forma normal e civilizada”. Muito frequentemente, “normal” e “civilizado” significa, na linguagem diplomática, fazer vistas grossas para injustiças sociais flagrantes, corrupção e abuso de poder. Depois de ler centenas de documentos, constato que muito dos “danos” que eles provocam é revelação embaraçosa e constrangedora de verdades inconvenientes. Em nome da segurança de uma base militar num dado país, nossos líderes aceitam um ditador brutal que oprime seu povo. Isso pode ser conveniente a curto prazo para os políticos, mas as consequências a longo prazo para os cidadãos do planeta podem ser catastróficas.
Os vazamentos não são o problema, apenas o sintoma. Revelam a desconexão entre aquilo que as pessoas desejam e precisam e o que realmente fazem. Quanto maior o segredo, mais prováveis os vazamentos. O caminho para superá-los é assegurar um mecanismos robustos para acesso público a informação relevante.
Graças à internet, esperamos um nível muito maior de conhecimento e participação, em muitos aspectos de nossas vidas. Mas os políticos resistem resolutamente aos novos tempos. Vêem-se como tutores de um público infantil – que não merece nem a verdade, nem o poder real que o conhecimento oferece.
Muito da revolta governamental sobre os vazamentos não tem a ver com o conteúdo do que é revelado, mas com a audácia de quem rompe o que eram fortalezas invioláveis da autoridade. No passado, confiávamos nas autoridades. Se um governante nos dissesse que algo poderia prejudicar a segurança nacional, tomávamos a afirmação como verdade. Agora,os dados crus por trás desta crença estão se tornando públicos. O que percebemos de vazamentos sobre as despesas de parlamentares, ou a cumplicidade de governos com a tortura, é que quando os políticos falam sobre uma ameaça à “segurança nacional”, referem-se frequentemente à defesa de sua própria posição ameaçada.
Estamos num momento crucial, em que alguns visionários, na vanguarda de uma era digital, enfrentam quem tenta, desesperadamente, controlar o que sabemos. O Wikileaks é o front de guerrilha, num movimento global por maior transparência e participação. Projetos como o
Ushahidi usam redes sociais para criar mapas onde os cidadãos podem relatar violências e desafiar a versão oficial dos fatos. Há ativistas empenhados em liberar dados oficiais, para que as pessoas possam ver, por exemplo, os orçamentos públicos em detalhe.
Por ironia, o Departamento de Estado dos EUA foi um dos grandes incentivadores da inovação técnica, como meio para levar a democracia a países como o Irã e a China. O presidente Obama exortou regimes repressores a deixar de censurar a internet. No entanto, uma lei que tramita no Congresso permite ao Procurador-Geral em Washington criar uma “lista suja” de websites. É possível acreditar numa democracia forte apenas para assuntos externos?
Os governantes costumavam controlar os cidadãos por meio do fluxo restrito de informações. Agora, está se tornando impossível vigiar o que a sociedade lê, vê e ouve. A tecnologia permite desafiar coletivamente a autoridade. Os poderosos vigiaram por muito tempo as sociedades, para controlá-las. Agora, os cidadãos estão lançando um olhar coletivo sobre o poder.
É uma revolução, e todas as revoluções geram medos e incertezas. Caminhamos para um Novo Iluminismo da Informação? Ou a revanche daqueles quer querem manter controle a qualquer custo nos levará a um novo totalitarismo? O que ocorrer nos próximos cinco anos definirá o futuro da democracia no próximo século. Por isso, seria ótimo que os nossos líderes respondessem aos desafios de hoje com um olhar sobre o futuro.
*Heether Brooke é jornalista, escritora e ativista pelo Direito à Informação. Nascida nos Estados Unidos, vive em Londres e colabora com o The Guardian.

segunda-feira, 6 de dezembro de 2010

LITERATURA DE INDIGENAS DE MÉXICO

Forjadores de Canto Desconocido
Forjadores de canto de nombre desconocido
Desde hace algún tiempo se sabe que el célebre señor de Teztcoco, llamado Nezahualcóyotl (1402-1472), había sobresalido por su sabiduría y gran capacidad de poeta. Recientes investigaciones muestran que además de él existieron varios poetas prehispánicos que compusieron distintas obras.Para su estudio los distribuiremos según los señoríos en que vivieron: Teztcoco, Mexico, Tenochtitlan, la región poblana, la tlaxcalteca y Chalco y Amecameca.Los forjadores de cantos de la región teztcocana Tlaltecatzin de CuauhchinancoTlaltecatzin fue contemporáneo del supremo gobernante de Teztcoco, Techotlala, que reinó entre los años 1357 y 1409. Era gobernante de Cuauhchinaco, en el actual estado de Puebla, señorío que dependía del reino de Teztcoco. Se conserva un sólo canto de Tlaltecatzin, cuyo tema es el placer en todas sus formas.Nezahualcóyotl de TeztcocoNacido en el año de 1402 (1-conejo) en Teztcoco y muerto en 1472. Hijo de Ixtlixócitl y de Matlalcihuatzin, recibió esmerada educación, tanto en el palacio paterno, como en el calmecac o escuela de estudios superiores. De esta forma pudo adentrarse en el conocimiento de las doctrinas y sabiduría heredadas por los toltecas.En 1431 recibió el señorío de Teztcoco, reinado que duró más de cuarenta años, en los cuales edificó palacios, templos, jardines botánicos y zoológicos. Dirigió además la construcción de calzadas, las obras de introducción de agua a México, la edificación de diques para aislar las aguas saladas de los lagos e impedir inundaciones.En cuanto a su obra poética, son treinta los poemas que se conocen. Entre los grandes temas que tratan están: el de la fugacidad en todo cuanto existe, la muerte inevitable, la posibilidad de decir palabras verdaderas y del enigma del hombre frente a los dioses. El deleite de estos poemas estriba en que permiten un acercamiento al alma y a la belleza de expresión del tan admirado supremo gobernante y poeta Nezahualcóyotl.

sábado, 4 de dezembro de 2010

LIMITES QUE A ESTRUTURA DAS ORQUESTRAS DENUNICIAM NAS ARTES

Ao longo do século XX houve uma tendência a abandonar a orquestra como meio privilegiado de expressão musical dos compositores do ocidente, juntamente com o esgotamento criativo das formas musicais tradicionalmente associadas à orquestra, especialmente a ópera, a sinfonia e o concerto e o poema sinfônico. Cada vez que os compositores do século XX voltaram à escrita orquestral e às sua formas tradicionais foi, normalmente, com o intuito de negar a tradição, subvertendo-a. Ressalvas importantes podem ser feitas para um significativo número de compositores que se manteve mais fiel à tradição do século XIX, como os classificados de nacionalistas e de neo-clássicos. Mas mesmo estes recriaram a tradição muito a seu modo, usando uma linguagem sinfônica peculiar pouco parecida com a dos compositores novecentistas, especialmente quanto à linguagem harmônica e às combinações de timbres, mesmo quando mantiveram o grupo orquestral em sua forma tradicional do fim do século XIX.
A tendência ao abandono da grande orquestra e de suas formas tradicionais pode ser comparada a uma crise geral do período que ficou conhecido como
Belle époque. Muitos analistas afirmam que foram os artistas os primeiros a sentirem e expressarem esta crise do mundo burguês, que só ficou realmente patente com o estouro da 1ª Guerra Mundial em 1914. De qualquer modo, esta crise dos valores burgueses se fez sentir na escrita orquestral de várias formas. Ficou mais difícil juntar grandes orquestras, o que levou a uma tendência ao uso de pequenos grupos como na Sinfonia de Câmera ou no Pierrot Lunaire de Schoenberg.
A dificuldade em juntar grandes orquestras teve motivos econômicos, inclusive ligados à guerra e às crises que a sucederam. Mas teve muito mais motivos estéticos: a escrita orquestral foi se afastando do gosto do grande público por causa do abandono da discursividade melódica, da harmonia tonal e da regularidade rítmica pelos compositores. Sem a possibilidade de juntar grandes públicos ficou mais difícil financiar grandes orquestras. A própria restrição política imposta à música de vanguarda pelo nazismo e pelo stalinismo levou ao exílio dos compositores radicais e à dificuldade de montar suas obras. Se eles quisessem velas no palco, seria necessário apelar para grupos menores.

quarta-feira, 17 de novembro de 2010

DECADÊNCIA DO MODELO EUROPEU

Por Roberto Savio, da Agência IPS Tradução Caue Seigne Ameni
Com a recente declaração da chanceler alemã Angela Merkel, sobre o fracasso do modelo multicultural na Alemanha, completam-se os sinais de uma onda xenofóbica na Europa. Segundo as pesquisas, se um partido xenofóbico disputasse hoje as eleições alemãs, obteria cerca de 15% dos votos. Mesmo países mais tolerantes, como Holanda ou Suécia, vêm demostrando nos últimos casos, um governo condicionado por partidos que pedem a expulsão dos estrangeiros e o retorno a uma nação pura e homogênea.
Segundo o Fundo de Populações da ONU (2009), a Europa deveria acolher até 2015 pelo menos 20 milhões de imigrantes para seguir sendo competitiva em plano mundial. O envelhecimento da população europeia vem crescendo rapidamente e pela primeira vez os maiores de 50 anos superam os menores de 18. Por este motivo, o sistema de Previdência Social está fadado a sofrer uma forte crise estrutural, se não houver trabalhadores suficientes para pagar as contribuições correspondentes.
Nenhum governo buscou implantar uma política educacional para conscientizar seus cidadãos da importância dos imigrantes para o desenvolvimento nacional. Permitiu-se que se propagassem mitos como a perda de postos de trabalho por parte dos europeus; ou o suposto perigo representado pelos estrangeiros para a ordem pública. Hoje, cerca de 70% das novas empresas são resultado da iniciativa de imigrantes (OCDE, 2009) e somente 1% deles estão envolvidos em atividades criminosas (embora representem uma parte importante da população carceraria).
Se levarmos em conta a condição da Europa como potência econômica, os dados são ainda piores. A balança de pagamentos vem se desequilibrando cada vez mais. Com exceção da Alemanha, os países europeus estão perdendo progressivamente quotas do mercado mundial. Segundo as projeções, se a União Europeia não reverter as tendências atuais, seu PIB será provavelmente superado pela China já em 2015.
Estes dados não chegam aos cidadãos comuns, mas a perda de credibilidade nas instituições europeias é real, assim como um crescente desencanto com as instituições políticas. A pesquisa “Eurobarômetro” de 2010 indica que apenas 52% dos cidadãos estão dispostos a votar.
A mesma situação, embora com sintomas diferentes, apresenta-se nos EUA. A crise financeira, a desocupação, a perda da casa própria por milhões de pessoas, a impossibilidade de aposentar-se e a necessidade de continuar trabalhando para sobreviver, o aumento da pobreza, que alcança um norte-americano em cada dez, o corte de serviços públicos (incluindo educação e infraestruturas estatais) produziram um resultado desconcertante. O percentual de aprovação ao governo de Barack Obama caiu a 43%; e 49% dos entrevistados pela CNN declararam preferir George W. Bush.
As eleições de novembro registraram um forte retrocesso do Partido Democrata, o que tornará ainda mais difícil a segunda metade do governo de Obama. Isso ocorre apesar de o presidente ter feito uma reforma quase completa do sistema de saúde, uma mudança pequena no ensino e ajustes tímidos no sistema financeiro.
Estamos também aqui diante a uma fuga para frente, outra aspirina contra uma doença grave. No caso estadunidense, além dos fatores internos, há a constatação de que esta superpotência vem perdendo a capacidade de cumprir seu “destino manifesto” — segundo o qual seria um país diferente dos demais e estaria destinada, pela universalidade de seu sistema de valores, a governar o mundo.
O Tea Party, um movimento ultraconservador em pleno crescimento nos EUA, é composto por duas grandes vertentes. Uma, quer reduzir o governo à minima expressão. Considera Obama um perigoso socialista, que converterá o país auma segunda Europa. Para evitá-lo, procura cortar ao máximo os impostos e dar liberdade total ao cidadão. A segunda ala crê que a decadência estadunidense deve-se a uma conspiração internacional; e julga que é hora de retomar a posição e de tirar de cena intelectuais ineficientes como Obama.
Esta marcha da Europa e EUA rumo a uma situação de deriva ocorre enquanto China, Índia e Brasil e diversos outros países emergentes – da Indonésia à Malásia; da Coréia à Argentina – marcham num ritmo de crescimento econômico muito superior. Uma das características da crise é que os protagonistas não têm a capacidade de ver mais além de seu próprio mundo.
Segundo as projeções das Nações Unidas (UNCTAD, 2010), a economia chinesa superará a dos EUA dentro de dez anos. Poderá o norte do mundo parar de buscar bodes expiatórios, de fugir para frente? Começará, ao invés disso, a adotar, antes que seja tarde, políticas que respondam aos desafios dos novos tempos? Quem escreve este artículo não esta convencido de que assim seja.

quinta-feira, 11 de novembro de 2010

O CRÍTICO VICENTE DE PERCIA INDICA;ACERVO ARTÍSTICO CULTURA DO GOVERNO DE SÃO PAULO

A exposição Panorama das Coleções reúne algumas das três mil e quinhentas
obras do Acervo Artístico-Cultural dos Palácios do Governo de São Paulo e
contextualiza os espaços que as abrigaram, desde o primeiro palácio sede do
governo, o Pátio do Colégio – do século XIX à década de 1930, quando a
função administrativa desloca-se para o Palácio dos Campos Elíseos –,
chegando ao nosso tempo com os Palácios dos Bandeirantes, do Horto e Boa
Vista.

O critério de seleção de peças para esta exposição levou em conta a
formação das coleções, alguns ícones do acervo, obras e estilos artísticos
que caracterizam as coleções de cada palácio e a memória de fatos
históricos aos quais estão associadas.

Nesta exposição, busca-se mostrar ao público qual a natureza das coleções
de arte que habitam os ambientes dos Palácios do Governo de São Paulo, como
foram formadas, quando foram adquiridas, quais os períodos da História da
Arte aos quais estão ligadas e qual a importância que tiveram esses objetos
ao longo do tempo nos espaços domésticos desses palácios.

Esta exposição também se estenderá aos Palácios do Horto e Boa Vista - em
Campos de Jordão, e se encerrará no dia 29 de maio de 2011
.

quinta-feira, 28 de outubro de 2010

ANGÚSTIA

Nas calçadas repletas de gente o isolamento.
Nesta noite a analogia do negrume
cobre os miolos e o ego.

Há pouco colocava Ketchup
e mostarda no cachorro quente,
tomava coca-cola.

Subidamente as mãos ficaram úmidas
debruçadas nos teus cabelos distantes,
desfalecendo no vazio
no silêncio precipitado que corrói: a cabeça, as artérias,
o estomago.

No reflexo somente a consciência
unia o chão a matéria.
Despia a alma duvidosa.
incendiando a inquisição...
Mostrando este poema louco,
vertiginoso,
sem sons,
atritante nos ossos.

Dissolvia o tempo para o último encontro,
apontando todos os fortíssimos erros;
impondo segundo a segundo
com golpes fundos
o prenúncio da derrota,
o mistério de chorar.
Vicente de Percia
- “Brasil da Silva: Mistério de Chorar, Edit/ Achiamé, Rio de Janeiro, 1ª edição 1982

sexta-feira, 15 de outubro de 2010

PRECONCEITOS QUE DESAFIAM A ARTE- PARTE DO ENSAIO DO CRÍTICO VICENTE DE PERCIA


Um dos fatores que levam à distorção em relação à obra de arte é o preconceito motivado pelo “novo” e a indução às opiniões contraria a certas obras, principalmente por elas serem de agrado do grande publico. Existe uma irritabilidade por parte de alguns “intelectuais” de que quando o hermetismo está ausente e a informação é captada com facilidade ela não possua conteúdo preciso. Como se a arte não pudesse evoluir presa as linguagens de “fácil” compreensão. A razão disto está na rejeição aos chamados materiais, instrumentos e suportes tradicionais em função de outros mais modernos vindos com o desenvolvimento da tecnologia.
O artista iniciante na sua grande maioria busca o sucesso rápido e com isto não pretende em hipótese alguma passar por estágios necessários para compreender a extensão da arte e familiariza-se com seus múltiplos exercícios. Um dos fatores que proporciona esta postura são os processos subjetivos adotados atualmente inclusive pelo mercado. Nada mais cômodo que esquecer as qualidades e voltar-se para uma linguagem sem profundidade, descartável. Esta permissão surge mediante a um consentimento crítico que não desenvolve uma análise mais profunda acerca da tarefa artística, ora do momento em que há uma mostra, ou seja, o trabalho é exposto deve haver opiniões independes dos erros e acertos.
A criação, certamente utiliza-se de processos objetivo-subjetivo do artista e tem como fonte para o seu processo de linguagem além da ideia que complementa o pensamento um aprendizado e tentativas criativas que podem ser mais complexas. Cabe, pois avaliar coerentemente os estágios que possam trazer à tona tônicas que sirvam para avaliar a criação. Estas fases são múltiplas, intermináveis e fazem parte de um mergulho na busca e sedimentação de identidades que completem o avanço da qualidade e o embasamento estético visual.
Vicente de Percia

quarta-feira, 13 de outubro de 2010

VIRUS, VRMES E COMUNICAÇAO



Por Muniz Sodré
Em sua coluna semanal (O Globo, 22/9), o poeta e ensaísta Francisco Bosco vale-se da hipótese da "compulsão à emissão", formulada pelo crítico alemão Christoph Türcke, para falar do horror ao vazio que assaltaria a sociedade contemporânea, levando-a a manter-se ocupada o tempo todo em torno de e-mails, Facebook, Orkut, Twitter etc. Aliás, daí surge aos poucos uma curiosa linguagem: o verbo "tuitar", por exemplo. Até mesmo Barack Obama, dizem, tuíta. O comentário da coluna coincidiu com a notícia, no mesmo dia, do ataque de hackers ao Twitter. Segundo a imprensa, durante horas uma enxurrada de mensagens se espalhou pelo Twitter com piadas, pornografia e vermes. Até então se falava de vírus, mas estes, ao que consta, são programas com um número adequado de instruções transgressivas. O verme é uma inovação em matéria de software transgressor, uma vez que realiza com poucos signos a sua tarefa de violação do campo comunicativo alheio. E mais: o verme desencadearia por "conta própria" efeitos suplementares, atinentes à lógica interna da máquina e de sua linguagem. Estes dois tópicos, se bem examinados, podem lançar alguma luz sobre as relações entre a atualidade política e o espaço público brasileiro, no quadro das discussões sobre mídia e opinião pública. A primeira coisa a se sublinhar é que o desenvolvimento das democráticas ferramentas de comunicação – dentro da dinâmica de convergência entre as telecomunicações, a informática e o audiovisual – em nada democratizou a natureza oligopolística do império transnacional das tecnologias de informação e comunicação. Cerca de uma dezena de gigantes da multimídia controlam em torno de 90% dos mercados midiáticos mundiais, em termos de equipamentos, redes e conteúdos. A hipótese de mediações culturais Isso não é nenhuma novidade. Em torno dessa realidade oligopolística, giraram ao longo do último terço do século passado as críticas dirigidas pelos "pós-modernistas" à mídia ou ao que se vem chamando de "sociedade do espetáculo". Este prisma analítico, popularizado no meio acadêmico pelo teórico francês Guy Debord, é matéria corrente em teses, conferências e livros.
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Movido pelas concepções frankfurtianas no sentido de uma sociedade regida pela "administração total", Debord fez do espetáculo o conceito unificador de uma enorme variedade de fenômenos, sob a égide do turbo-capitalismo ou da sociedade de
mercado global. De um lado, havia o momento histórico em que o consumo parecia atingir a ocupação total da vida social; de outro, a evidência da exploração psíquica do indivíduo pelo capital. O espetáculo impunha-se, assim como uma verdadeira relação social, em meio à qual emergia a imagem como uma espécie de forma final da mercadoria, reorientando as percepções e as sensações. Entretanto, com o desenvolvimento da comunicação eletrônica e o advento das chamadas "redes sociais" na internet, torna-se necessário revisar alguns aspectos dessa teoria do espetáculo porque esta supõe um espaço público unificado e "culturalizado" pela mídia. Não que tenha desaparecido o fascínio do espetáculo, que deu lugar, num determinado instante, a uma hierarquia classificatória da cultura (elitista, intermediária, popular) e à hipótese de mediações culturais.

quarta-feira, 22 de setembro de 2010

OBRA DE VICENTE DE PERCIA EM LEILÃO 28 DE SETEMBRO EM SÃO PAULO - ARTEEVENTOS

Lote 96 - Tinta acrílica s/ tela, técica mista, 2010. "O Simbolismo Cósmico na obra de Vicente de Percia mostra a superabudância da realidade, trata-se de um expressionismo forte em um território que reitera a cosmogonia do Escritor,Crítico, Fotografo e artista plástico. O primeiro contato que tive com ele, foi Cayenne, na Guiana Francesa quando participávamos como jurados do" I- Reencontrée d' Art International Intercaraíbes, mostra que estendeu-se para sítios do Caríbe e Europa.O facto da sua selecção e de seus textos revelavam a interrelação das ciências voltadas para a especulação do senso- de- observação. Tinha então como parceira de tarefas a saudosa Andrée Locan. Perceber e deixar-se envolver pelo "real" é integra-se a questionamentos :"ce n'était pas gai d être jeune en ces temps-ci". porque continuamos a captar o prazer de sentir e avaliar o contexto do existencial. O maior desafio da arte actual está em saber preservar o individual, usando as antenas disponíveis e acreditando no racionar que busca verdade se com isso aceitar que se se nega a si é porque nada mais a a fazer. Toda esta reflexão foi feita em cima da tarefa desta obra fotográfica e no que ela traz como imagem mais ampla de um artista" Lisboa, Portugal, 2009. Art- Critic :Maria joão Machado

terça-feira, 21 de setembro de 2010

O CRÍTICO VICENTE DE PERCIA TRANSCREVE ENTREVISTA DO CURADOR DA 29ª BIENAL DE SÃO PAULO

"Infelizmente, o posicionamento de legitimar "artistas" que picharam a Bienal de 2008 em nada fortifica o tema escolhido: Arte e Política. Na época não houve nenhuma transgressão que focalizasse um chamamento condizente para acrescentar algo ao circuito da arte. Com este posicionamento da atual curadoria ficaram alijados artistas brasileiros que tiveram uma trajetória importante e participativa em relação a arte e uma atividade política."

Vicente de Percia

“Pixo” na Bienal de São Paulo provoca racha nas artes

FERNANDA MENA
da Reportagem Local

Acusados de vandalismo e terrorismo, os líderes do grupo que invadiu e pichou o andar vazio da Bienal de São Paulo em 2008 vão entrar na 29ª edição, em setembro, da mostra com credencial de artista.

O que você acha dos pichadores na Bienal de SP? Vote
“Pixo” na Bienal de São Paulo provoca racha nas artes

A participação foi confirmada à Folha pela curadoria, que descreveu os pichadores como “artistas brilhantes”, apesar de “tratados como marginais”.

Moacir dos Anjos, curador da 29ª Bienal de São Paulo, no parque Ibirapuera, em São Paulo

Com isso, a Bienal entra num fogo cruzado daqueles que tomaram partido de invasores ou de invadidos, e que agora polemizam sobre a iniciativa. É demagogia? Legitima uma ação destrutiva? Coopta uma vanguarda transgressora?

Para o curador Moacir dos Anjos, a aposta não é em respostas fáceis, mas justamente na elaboração de questões.

Leia, a seguir, íntegra da entrevista concedida pelo curador-geral da mostra à Folha.

Folha – Por que incluir os pichadores da 28ª Bienal na 29ª edição do evento?

Moacir dos Anjos – Em primeiro lugar, é preciso deixar claro que nosso intuito não é incluir ‘os pichadores da 28ª edição’. Não se trata de um pedido de desculpas ou de um confronto com a edição anterior do evento. O que realmente queremos incluir na presente edição da Bienal é a pixação, ou simplesmente o pixo, com ‘x’ mesmo, grafia usada por seus praticantes para diferenciar o que fazem hoje em São Paulo das pichações político-partidárias, religiosas, musicais, ou mesmo ligadas à propaganda que há vários anos enchem os muros e paredes da cidade, a despeito do quão ‘limpa’ ela queira apresentar-se. E queremos incluí-lo porque achamos que o pixo borra e questiona os limites usuais que separam o que é arte e o que é política. E essa é uma questão que interessa muito ao projeto curatorial da 29ª Bienal.

Lembro que política é aqui entendida não como espaço de apaziguamento de diferenças, mas justamente o contrário. Ou seja, como o espaço formado pelos atos, gestos, falas ou movimentos que abrem fissuras nas convenções e nos consensos que organizam a vida comum. Ou seja, como bem coloca o filósofo francês Jacques Rancière, política entendida como esfera do “desentendimento”.

Essa é uma questão que, evidentemente, envolve uma série de dificuldades para que essa aproximação não se dê somente na superfície e, portanto, escamoteando as diferenças existentes, situação que não interessaria nem a nós nem aos pixadores. A nossa aposta é em descobrir formas novas de tratar do assunto com integridade de ambas as partes, sem que instituição e pixadores cedam completamente ao universo da outra.

Folha – Como você avalia o episódio da invasão da 28ª Bienal por pichadores e a reação da instituição?

Dos Anjos – A invasão foi, sem dúvida, uma provocação e um protesto frente a uma situação de exclusão a que aqueles que a protagonizaram (os pixadores) são submetidos em seu dia-a-dia em várias instâncias da vida comum na cidade de São Paulo e, no caso particular, do meio institucional da arte. Não estou com isso dizendo que a endosso, mas que é assim que a entendo.

A resposta da instituição naquele momento foi, a meu ver, inadequada, pois reduziu o incidente, seja pelas ações que tomou seja pelas que deixou de tomar, a um caso policial. Se é verdade que houve infração de regras e de leis por parte dos pixadores, não existiu o esforço necessário, por parte de uma das maiores e mais importantes instituições culturais do país, de entender as razões do ocorrido. Acho que essa postura não faz jus ao importante protagonismo público que a Bienal pode exercer na cidade e no Brasil, gerando conhecimento novo sobre o assunto.

Folha – O convite/a participação do picho na Bienal é um atestado, portanto, de que a 28ª Bienal errou? Por quê?

Dos Anjos – Não é intenção da curadoria, em absoluto, incluir o pixo para ‘reparar’ um suposto erro cometido pela Bienal no passado. Como também não é intenção da curadoria ‘cooptar’ o pixo para evitar novos conflitos que poderiam eventualmente se repetir. Entendemos que a situação é outra, e nosso objetivo é atuar, nesse novo contexto, da forma que achamos mais coerente tanto com o projeto curatorial da mostra quanto com a visão que temos do lugar do pixo da teia cultural da cidade.

Folha – Isso não é demagogia?

Dos Anjos – Seria demagogia se estivéssemos simplesmente convidando pixadores da mesma forma que tantos outros artistas estão sendo convidados. Mas nós sabemos que essa igualdade não existe, e eles evidentemente também sabem. O que nos interessa é justamente tentar entender essas diferenças, e os limites e as possibilidades dessa aproximação. E é isso que também acho que interessa aos pixadores. Ninguém está tentando escamotear nada. Tudo está sendo feito às claras. A aposta é na explicitação de questões, não no oferecimento de respostas fáceis. E como as questões precisam ser melhor formuladas tanto por nós, pertencentes ao chamado ‘campo da arte’, quanto pelos pixadores, nosso empenho é demonstrar que a Bienal de São Paulo pode ser plataforma privilegiada para a formulação dessas questões. Se conseguirmos ao menos isso, acho que já teremos dado uma contribuição relevante para o início de um debate mais amplo e consequente sobre o assunto.

Folha – Como se deu a aproximação entre pichadores e a atual curadoria?

Dos Anjos – Os eventos de 2008 tiveram o mérito de fazer com que muitas pessoas e instituições se empenhassem na tentativa de entender o que estava implicado no episódio. O Ministério da Cultura, por exemplo, buscou estabelecer um diálogo com o grupo de pixadores envolvidos, empenhando-se em tentar entender as complexas razões que levaram ao surgimento dessa gigantesca cena do pixo em São Paulo. Acho que esse movimento foi importante na preparação para uma conversa menos tolhida por preconceitos mútuos entre a Bienal e os pixadores.

O anúncio de que a 29ª Bienal teria como foco a questão da relação entre arte e política foi o outro elemento-chave que levou os pixadores a fazerem o primeiro contato buscando estabelecer uma conversa, posto que entenderam que haveria ali uma possibilidade de dar visibilidade a questões que foram (e ainda são) muito mal entendidas pela maioria da população. O papel da curadoria, nesse processo, é justamente propor estratégias de inserção do pixo na exposição que, contudo, não o “domestiquem”, tornando-o algo passível de fácil inserção em um mercado sedento por novidades para serem vendidas.

Folha – Como essa aproximação foi vista pela Fundação Bienal? Houve algum tipo de objeção inicial? Caso tenha havido, como foi contornada?

Dos Anjos – A direção da Fundação Bienal não interfere nas escolhas e nas estratégias da curadoria da mostra, agindo sempre de modo respeitoso e depositando confiança nos curadores convidados para a realização do evento. Nós curadores, por outro lado, temos a medida de nossa responsabilidade quando propomos questões passíveis de gerarem desconforto ou polêmica. Temos absoluta certeza, contudo, que é exatamente esse o papel de uma Bienal de arte: criar fissuras nos entendimentos estáveis do que é ou do que pode ser arte. Independentemente do foco temático da presente edição, creio que a Bienal de São Paulo tem a obrigação de, nesse sentido amplo, ser sempre política.

Folha – De que maneira os pichadores se encaixam no projeto curatorial de arte e política?

Dos Anjos – O pixo é uma manifestação visual que traz, embutida nas práticas dos pixadores e nas imagens que eles criam sobre os muros e edifícios da cidade, uma visão de mundo que simplesmente não cabe nos acordos que regem e limitam a vida comum na cidade de São Paulo. E apesar disso o pixo está aí, cobrindo toda superfície de parede disponível, forçando sua passagem em um país cujas elites ainda preferem ignorar as graves fraturas sociais que existem. Dando visibilidade a algo que de outro modo não seria visto. E falando de algo que, não fosse justamente pela grafia aparentemente cifrada que os pixadores usam, dificilmente seria dito. Nesse sentido, pixo é política. E nesse sentido, é arte também.

Folha – Picho, então, é arte?

Dos Anjos – Nesse sentido em que falei, sim. Na verdade, a questão a se fazer é outra, que poderia ser formulada nos seguintes termos: Se o pixo é exposto numa galeria ou numa Bienal, permanece sendo arte? É com essa aparente contradição que teremos que lidar na 29ª Bienal. Pois se o que faz o pixo ser arte é justamente o fato dele desconcertar nossos sentidos e nos fazer admitir, mesmo quando estamos no conforto de nossos carros ou da janela de um apartamento alto, que existem outros modos de entender e de inventar o mundo, o que acontece se o pixo é trazido para o ambiente controlado, conhecido e decodificado do chamado ‘campo’ da arte? Ele mantém a sua potência ou se torna mera ilustração ou lembrança de si mesma? É esse desafio que curadores e pixadores tem que enfrentar juntos, de modo que ultrapassem duas situações simétricas e igualmente indesejadas: por um lado, a simples rejeição ao que causa desconforto; por outro, o desejo de cooptar o diferente para torná-lo igual a nós mesmos.

Folha – Mas picho também não tem um aspecto de vandalismo?

Dos Anjos – De uma perspectiva meramente legalista, a resposta obviamente é sim. Porém, essa é uma maneira de ver a questão que mais esconde do que revela. Afinal, o grafite também ocupa espaços na cidade que não são propriedade dos grafiteiros, e nem por isso estes são criminalizados de modo tão inequívoco como os pixadores. Na verdade, como bem sabemos, muitos grafiteiros são hoje considerados artistas, tendo seus trabalhos expostos em museus e vendidos em galerias de arte. O que produz essa diferença de percepção? Arriscaria dizer que é a opacidade do pixo em relação à transparência do grafite. Ou seja, que é o incômodo causado por algo que não se deixa apreender por códigos conhecidos, quando comparado ao conforto sentido quando se depara com uma imagem reconhecível e produzida por uma prática autorizada, como é hoje a dos grafiteiros.

Folha – A participação reforça a passagem, cada vez mais comum, da arte de rua para as galerias? Quais os prós e contras dessa passagem?

Dos Anjos – Se o resultado da participação do pixo na Bienal de São Paulo for reforçar essa passagem “da rua para as galerias”, teremos fracassado inteiramente em nosso intento. Não é isso que queremos, ainda que fazer essa travessia possa melhorar materialmente a vida dos pixadores que a façam. Mas então o que se fará não será mais pixo, mas apenas uma representação gráfica do pixo. Aqui, como em tudo na vida, é preciso fazer escolhas. E escolhas têm consequências. Por isso que não queremos impor aos pixadores formas de participação do pixo na Bienal. Queremos construir juntos essas formas de participação. Mas de antemão já sabemos, curadores e pixadores, que trazer o pixo como mera expressão gráfica que se vale de um suporte bidimensional para dentro do prédio da Bienal não interessa, não resolve coisa alguma. Esse seria o caminho mais curto para destituir o pixo de sua força transgressora e de sua originalidade. Interessa-nos mais descobrir formas de compreender e de ativar, a partir da Bienal, os significados do pixo na cidade de São Paulo. Para tanto pretendemos fazer uso de estratégias diversas de documentação (fotografias, vídeos, coleções de tags) e de discussão. Estratégias que não se confundam com o pixo propriamente dito, já que esse só existe como tal nas ruas, mas que evoquem, desde o interior do mundo da arte, o fato de que nem tudo que é arte a Bienal é capaz de abrigar ou de entender plenamente.

domingo, 19 de setembro de 2010

LARGO DE SÃO FRANCISCO NO RIO DE JANEIRO - UM MAFUÁ

Triste imagem a do histórico Largo de São Francisco no Rio de Janeiro. Um logradouro totalmente abandonado repleto de camelos, sujo, abandonado é a imagem repetitiva do descaso dos nossos governantes em relação à sofrida "cidade maravilhosa". Os desavisados que buscam uma referências aprazível nesta região e nas proximidades saem decepcionados e sentem-se enganados ao se depararem com a realidade.

O Largo de São Francisco de Paula é um dos mais antigos logradouros da cidade do Rio de Janeiro, no Brasil.
Em sua origem, o logradouro era apenas uma
lagoa fora dos muros da cidade, à altura da antiga rua da Vala (hoje rua Uruguaiana), atrás da Igreja de Nossa Senhora do Rosário dos Pretos. Ao assumir as suas funções, o Governador e Capitão-Geral da Capitania do Rio de Janeiro, Gomes Freire de Andrade, 1º Conde de Bobadela (1733-1763), determinou a expansão da malha urbana para além da vala, ordenando o aterro e o arruamento da antiga lagoa da Pavuna, projeto que ficou a cargo do engenheiro militar José Fernandes Pinto Alpoim: este riscou e construiu uma vasta praça (1742), onde seria construída a nova Catedral da Sé do Rio de Janeiro, dada a ruína da antiga, a Igreja de São Sebastião do morro do Castelo.
Originalmente denominada como Praça Real da Sé Nova, em
1749 foram lançados os alicerces para a edificação da nova Catedral da cidade, paralisadas em 1752, posteriormente reiniciadas, para serem novamente paralisadas quando do falecimento de Gomes Freire.
Em
1808, com a chegada da Família Real Portuguesa ao Brasil, os alicerces da catedral foram aproveitados para a construção de uma Escola Central, depois Academia Real Militar e Escola Politécnica e que hoje é próprio da Universidade Federal do Rio de Janeiro onde está sediado o Instituto de Filosofia e Ciências Sociais (IFCS).
Posteriormente denominou-se Largo de São Francisco de Paula por nele estar levantado o templo da
Irmandade Terceira de São Francisco de Paula, que tinha ao lado o Hospital para tratamento dos Irmãos.
À época da
Proclamação da República Brasileira, foi oficialmente denominado de Praça Coronel Tamarindo, toponímia que a população jamais incorporou.
Foi calçada pela primeira vez em
1817, para as festas que seriam realizadas no ano seguinte por ocasião da Coroação de D. João VI, após o falecimento de sua mãe, a rainha D. Maria I.
No centro da praça foi inaugurada solenemente, em
7 de setembro de 1872, a estátua do Conselheiro José Bonifácio de Andrada e Silva, patriarca da Independência do Brasil, executada pelo escultor francês Augusto Rochet, por encomenda do Instituto Histórico e Geográfico Brasileiro, órgão encarregado da comissão de execução da estátua, por ocasião das comemorações do cinquentenário da Independência.
A Câmara Municipal considerava oficialmente, no ano de
1879, que o largo estava compreendido entre as ruas do Ouvidor, dos Andradas, da Lampadoza (atual Avenida Passos) e Souza Franco (atual Rua do Teatro).
Ao longo de sua história, o Largo de São Francisco de Paula tem sido cenário de manifestações populares e
comícios, como aqueles em função do Abolicionismo e da República. Posteriormente, de trabalhadores contra os baixos salários, a longa jornada de trabalho, a carestia e o desemprego, e mesmo, mais recentemente, de integrantes do Movimento dos Sem Terra.

quinta-feira, 9 de setembro de 2010

CHAMAMENTOS PARA REVER CONCEITOS E A PRODUÇÃO DA ARTE

O pós-modernismo invadiu o cotidiano com a tecnologia eletrônica em massa e individual, onde a saturação de informações, diversões e serviços, causam um “rebu” pós-moderno, com a tecnologia programando cada vez mais o dia-a-dia dos indivíduos.
A importância do pós-modernismo na economia foi “mostrar” aos indivíduos a capacidade de consumo, a adotarem estilos de vida e de filosofias, o consumo personalizado, usar bens e serviços e se entregarem ao presente e ao prazer.
Os pós-modernistas querem rir levianamente de tudo, nos quais encaram uma idéia de ausência de valores, de vazio, do nada, e do sentido para a vida.
A sociedade se torna emergente ou decadente, pois são baseadas nas sociedades pós-industriais na informação que tem como referencia o Japão, os EUA e os centros europeus.

quinta-feira, 19 de agosto de 2010

O LIVRO DA VIDA " THE BOOK OF LIFE"

Certamente, estão na exposição as obras da linguagem de forte colorido e mesmo que, por vezes, de referência a temas nada leves como o apartheid racial e as relacionadas à aids (o livro The Book of Life, de prevenção à doença, será distribuído gratuitamente na mostra), são sempre chamativas para um público diverso. "No trabalho dele há a alegria das cores, é sempre fácil de ver", justifica Sharon. No piso superior estão em vídeos, fotografia, documentário e objetos pessoais a menção biográfica a Haring, que esteve em São Paulo em 1983 ao participar da Bienal daquele ano (pintou um muro na Avenida Sumaré, depois, apagado) - e ele gostava do Brasil, vindo outras vezes passear na Bahia.

quinta-feira, 12 de agosto de 2010

POLUIÇÃO EM TODOS OS SETORES

O caos é cultuado na poluição visual como exemplo de progresso. Não há política para conter esta pratica torper. Métodos semelhantes são utilizados em relação ao som e ao lixo. O meio ambiente torna-se insuportável. Os projetos e ações em pratica não conseguem reverter a situação.

quarta-feira, 4 de agosto de 2010

FALARES SOBRE A POESIA

" Na década de 70 é usado para escolher entre Neruda e Vallejo. Você estava indo para Vallejo.
" Olha, eu acho que Neruda é, obviamente, um grande poeta. Mas a poesia se assemelha mais a um ou menos relacionado . Existem grandes poetas que li e não toque em nada , não é sua culpa , minha culpa. Não devemos falar de culpa nisso. É uma questão de afinidade espiritual , a experiência e tudo mais.
"Desde que Adão e Eva, ao que parece, discutimos o que é poesia. Para alguns, a palavra , pelo menos esperado. Para outros, o pensamento mais.
"Vou falar de mim escrever um poema que começa com o primeiro verso , e deve ser capaz de encontrá-lo. E então ele continua a ir , vá , vá em frente e quando você está em um poema não é o mesmo que quando você terminar ou para a esquerda e vê-lo em outro local.
- Você percebe quando você está indo o poema ?
"Quando você está no poema, você não sabe bem o que você está dizendo ... Eu percebo que eu escrevo, mas não o que eu escrevo. Então, quando você ler isso , diz bem, isso é mais ou menos , isso parece errado, ou não alcançado este poema e vai para o lixo.
- O trabalho de correção no texto pode ser uma outra fase de inspiração?
"Em mim não . Eu pouco correcta , ou seja, jogar algo que parece não sair. O poema é ou não é. E então eu percebo que é falho , mas eu começo a compor.
, Tenderia para o fabrico do poema.
"Claro, mas estou falando de mim , há outros poetas que não , não que eles são maus poetas , pelo contrário , são muito bons e é provável que, se eu me dedicar a corrigir, as minhas coisas seriam melhores. Mas para mim o que me interessa é o ato de poesia, e sinto-me traído , se eu começar a corrigir um monte ... Como o escritor é outro quando eu sinto que eu estou editando correto afirmar . E isso não é feito.
"Há autores para quem o ato de escrever é tortuoso. Simenon , que escreveu tanto , disse que "escrever não é uma profissão, mas uma vocação de infelicidade. " Há outros que professam a gozar como um animal que tem sua rotina no olho quando .
"O melhor momento do poema é para mim a sua escrita . Infelicidade vem depois, quando li isso .
" Faulkner disse que ele era um escritor , mas como um poeta falhado. Você se lembra de Cuneo Victor Hugo , o poeta ? Quiosquito tinha um livro para ele e , em seguida, atearam fogo em volta , ele pegou fogo em uma praça de Mendoza. Isso Chuca Cuneo um poeta não diz Di Benedetto, e Tejada Gomez , dizendo romancista fracassado. "Você já tentou um romance?
"Eu tentei uma vez.
- E então?
" E eu tenho a página 30. Como cansado.
"Falando de Faulkner, escreveu: "Porque, se na América , temos , em nossa cultura desesperado ao ponto em que temos de assassinar crianças , não importa por qual razão ou qual a cor , não merecem sobreviver, e provavelmente não vai sobreviver. " Esta parceria , Argentina , seguindo esse raciocínio, "merece sobreviver?
" Survive , de qualquer maneira. A afirmação bombástica Faulkner tem uma pequena falha : ele usa a primeira pessoa do plural e está entre os assassinos. É verdade?
Graham Greene , insistiu em que a natureza humana não é a preto e branco , mas preto e cinza. Para Gelman , como?
, preto, cinza e de todas as cores , mesmo aqueles que não existem na natureza.
"Quando eu nomeado como um "poeta político ", como parece?
- Quer dizer que foi um poeta Arquíloco político? E, no entanto , ele escreveu poemas pacifistas . Você diz que Shakespeare foi um poeta político? E, no entanto , ninguém como ele investigadas as crueldades e desmandos da luta pelo poder. Não estou comparando , é claro , não devemos fazer comparações , como eu disse Gardel. Acredito que a poesia é a palavra de queimada, que seu único problema é a poesia.
" Então nós podemos falar sobre tudo na poesia.
"Você pode falar sobre qualquer coisa. Para amar .

sexta-feira, 9 de julho de 2010

POEMA DE VICENTE DE PERCIA

ANGÚSTIA

Nas calçadas repletas de gente o isolamento.
Nesta noite a analogia do negrume
cobre os miolos e o ego.

Há pouco colocava ketchup
e mostarda no cachorro quente,
tomava coca-cola.

Subitamente, as mãos ficaram úmidas
debruçadas nos teus cabelos distantes,
desfalecendo no vazio
no silêncio precipitado que corrói: a cabeça, as artérias, o estômago.

No reflexo somente a consciência
união chão a matéria.
Despia a alma duvidosa,
incendiando a inquisição...
Mostrando este poema louco.
vertiginoso,
sem sons,
Atritante nos ossos.

Dissolvia o tempo para o último encontro,
apontando todos os fortíssimos erros;
impondo segundo a segundo
com golpes fundos
o prenúncio da derrota,
o mistério de Chorar.

Poema de Vicente de Percia- "Brasil da Silva:Mistério de Chorar"- edit/ Achiamé, Rio de Janeiro.



terça-feira, 6 de julho de 2010

POEMA ECHO "IN" CARTAGENA




EL HOMBRE NO ES TAN VIOLENTO
LA MIRADA MUESTRA EL LINGUAGE
LA CULPA
EL AMOR EN SUS DIFERENTES MATIZES

Vicente de Percia
enero 2010

POEMA DE GARCIA LORCA




VOLTA DE PASSEIO

Assassinado pelo céu, entre as formas que vão para a serpente e as formas que buscam o cristal, deixarei crescer meus cabelos.
Com a árvore de tocos que não canta e o menino com o branco rosto de ovo.
Com os animaizinhos de cabeça rota e a água esfarrapada dos pés secos.
Com tudo o que tem cansaço surdo-mudo e mariposa afogada no tinteiro.
Tropeçando com meu rosto diferente de cada dia. Asassinado pelo céu !

quinta-feira, 24 de junho de 2010

VICENTE DE PERCIA - POEMA

COMUNGANDO
Joguei olhares vazios àquela região de vida inóspida.
Atravessada por um único caminho.
Ladeada de rochas.

Toda aquela matéria: estéril,tortuosa, bruta,diminuia minha estrutura.

Bastava um olhar loginguo, para me transformarem pedra.
Eram perguntas -
pois sabia que não via o que via
no começodo caminho -

O corpo se juntou à terra
complascente de seu dever.
No horizonte eu era um todo.
"Brasil da Silva: Mistério de Chorar" de Vicente de Percia 1982,(1ª edição) Edit/ Achiamé, Rio de janeiro em 6ª edição

COMUNGANDO

Joguei olhares vazios àquela região de vida inóspida.

Atravessada por um único caminho.

Ladeada de rochas.

Toda aquela matéria: estéril,tortuosa, bruta,

diminuia minha estrutura.

Bastava um olhar loginguo para me transformarem pedra.


Eram perguntas -

pois sabia que não via o que via no começo docaminho -

O corpo se juntou à terracomplascente de seu dever. No horizonte eu era um todo. "Brasil da Silva: Mistério de Chorar" de Vicente de Percia 1982,(1ª edição) Edit/ Achiamé, Rio de janeiro em 6ª edição

quinta-feira, 20 de maio de 2010

VICENTE DE PERCIA - OS IMPASSES ENTRE INFORMAÇÃO E ARTE


Os impasses entre Informações, Arte e Ética
As coisas que nos rodeiam ativam-se através de contínuas informações. Resulta daí uma avalanche de “comunicações”, visando a implantar no público opiniões, cujo objetivo também, inclui a demanda de determinados produtos.
As artes plásticas não fogem a tal contexto, cercadas que são de intensa propaganda, objetivando divulgar e institucionalizar certos segmentos que se propõem enquadrar na tão sonhada “contemporaneidade”. Aliais, tal atmosfera ajusta-se perfeitamente dentro da crise de valores que o mundo e a Arte vivem continuamente.
No dia-a-dia não existem respostas objetivas ou pesquisas coerentes por parte da imprensa que levem o público a aproximar-se de resultados concretos em relação à tarefa artística. É preciso, pois despertar o interesse ou o questionamento sobre as múltiplas criações em voga, usando uma metodologia para instigar o espectador com propostas estéticas que o induzam à reflexão.
Nos noticiários não há um confronto de opiniões, um diálogo de visões acerca de cada objeto artístico exposto, e,sim,uma exaustiva e contínua concordância, o que se torna uma postura estranha para um período tão complexo como o nosso de tantas improvisações e crises.
Na década de 60, a ideia que prevalecia era que a ciência pura poderia ser reaproveitada no domínio da tecnologia. As “obras de arte” procuravam mostrar uma interação entre os dois âmbitos e o artista cedia seus propósitos criativos aos novos materiais oferecidos pela indústria. Era o vigor das luzes,dos efeitos visuais, das transparências em primeiro plano.
E agora diante dos impasses contemporâneos, como estabelecer uma visão ética coerente, que não minimize os valores individuais do Homem e, ao mesmo tempo, desperte para o usufruir das novas oportunidades que a ciência lhe oferece? Como estabelecer esta interlocução criativa, em que os dois setores - a Arte e os artefatos técnicos – em fraterna harmonia, não percam o valor intrínseco inerente a cada uma das partes?
De imediato, convém situar que o novo nem sempre e o melhor e vice-versa, principalmente quando direcionamos a avaliação crítica em função do fato estético
A alta tecnologia e a eletrônica poderão estar presentes na criação, porém sem se distanciarem dos princípios éticos e dos mistérios que envolvem cada ser em sua total humanidade.
PUBLICADO NO ' O CORREIO" RIO DE JANEIRO. diret/ aut/ 003/03 ,2002

quarta-feira, 5 de maio de 2010

VICENTE DE PERCIA FALA DA ESSÊNCIA DO MANDALA - ESTA ALÉM DA FORMA QUE DESENVOLVO.

OBRA DE VICENTE DE PERCIA

QUANDO TRABALHO O MANDALA PROCURO EXERCITAR UM LADO DIFERENCIAL, TENDO A SER HARMÓNICO COM OS MEUS OBJETIVOS VISUAIS. PERCEBO QUE EXISTE UMA ATIVIDADE SENSORIAL DE ACORDO COM O MOMENTO OU COM CERTOS CENÁRIOS QUE SURGEM POR TRAS DA ABSTRAÇÃO GEOMÉTRICA. POSSO, TAMBÉM CHAMÁ-LOS DE SÍMBOLOS ATEMPORAIS ATRELADOS À UMA FUNÇÃO ONDE AS CORES E OS TRAÇOS SURGEM NA CONFRONTAÇÃO COMIGO MESMO E DIANTE DE MECANISMOS EXISTENCIAIS DOS QUAIS O CAOS NÃO É DESCARTADO. PERCEBO QUE CONSTÂNCIAS MARCAM O MEU ESTILO, POIS É VISÍVEL UMA CONTINUIDADE ESTÉTICA. SÃO CIRCUNFERÊNCIAS, ROSÁCEAS QUE APARECERAM EM DIFERENTES CIRCUNSTÂNCIAS.

O MANDALA É A UNIDADE E SE REVELA POR TRANSITAR POR ESPAÇOS SIGNIFICATIVOS. HÁ OPOSTOS E SEMELHANÇAS COMO CÓDIGOS GENÉTICOS E POR VEZES, PERCEBO QUE SURGEM CONSTRUÇÕES ONDE A ROTA PARECIA PERDIDA. VEJO ELEMENTOS QUE TRAZEM EXPERIÊNCIAS VISUAIS ONDE O BELO ESTÁ PRESENTE POR MAIS QUE A OBRA SINALIZE CERTA IMPACIÊNCIA.

quarta-feira, 21 de abril de 2010

POEMA DE VICENTE DE PERCIA : A CASA NEM COM NEM SEM


EL ritmo delas horas e olvidado infinidad de formas posibles
Adormece el cansacio
Negativa visiónno oidas incomplementada
sen el ocaso punto de vista el dispersar
Fuese el higado crujiente
un accidente acontecido
una declaracion de amor retratando el mal.
Estállásse los dedos
Para esas extensas cuerdas que nunca se sabe desatar
una determinación de no pedir a la jornada alegrias
La Manzana Enrojecida No Quiero Trabjar En Nete Verano

VICENTE DE PERCIA - prêmio Master deliteratura, 1985/86 -com o livro:"VOAMAR: NÃO QUERO TRABALHAR NESTE VERÃO" edit?Dois Pontos ,Rj. (parte do poema,tradução -Rosa Abbruzzesse zagari -o texto integral em espanhol e português foi lido e debatido no SESC,RJ,em 31/10/2008 )