domingo, 16 de dezembro de 2012

A UTOPIA É POSSÍVEL.

       
                                                 José Miquel de Prada Poole 
Paralelamente se fez uma série de eventos que se vinculavam  a várias composições. Uma das linguagens foi " La Instant City". Um projeto voltado para investigações sobre as possibilidades que oferecem diferentes materias, como o plástico. Consta que à princípio esses materias tinham sido usados para fins militares nos anos sessenta e se adaptaram a vida cotidiana e ao ócio. Grupos como Archigram y Haus -Rucher Co, os arquitetos Frei Otto e Hans Walter Müller são exemplos dessa tendência. " La Instant City surgiu para facilitar alojamentos a estudantes que assistiam a congressos de arte. O manifesto que surgiu amplamente e atingiu o circuito internacional foi voltado para clonstruir uma cidade que se basearia em um trabalho como veículo de comunicaçâo. José Miquel de Prada Paoole proporciono os conhecimentos ténicos para seu projeto.:uma cidade de plástico baseada em um sistema construtivo simples de figuras geométricas sensíveis. Cilindros e esferas que se unem e podem crescer conforme algumas necessidades.
Museu de Arte contemporânea de Barcelona
Vicente de Percia

segunda-feira, 19 de novembro de 2012

CONTO DE VICENTE DE PERCIA - " O MERGULHO"


O MERGULHO

  
Há muitos sons nos ouvidos. Em especial, aquele vindo das membranas dos esqueletos. São de­savisados e pene­tram nos glóbulos sanguíneos para implantar a angústia. 
Difíceis de serem localizados, pois como em um passo de mágica, movem-se aleatoriamente, para cima e para baixo, ecos soltos entre cordilheiras de largas paredes de pedra marcando o compasso do tempo.
Ocasionalmente, doada a liberdade de nascer, inéditos barulhos são jogados ao nosso redor,  servem de consolo. É o começo invisível dos si­nais que ficarão para sempre, como a marca a fogo feita no couro do gado.
Não se sabe antecipadamente, o número dos sapatos que serão incinerados ou queimados me­lancolicamente, pela morte.
Um lindo menino sorri e pula da ponte do ca­nal de es­me­ral­das, no mar calmo. Gesticula os braços como se fosse uma orquestra. São movi­mentos moderados, alegres, vibran­tes, aparen­temente en­saiados, juntos às vozes das águas que sobem des­compassadas ao céu e caem como no­tas musicais.
Sentado em um dos extremos da ponte, o ve­lho  acompanha aten­to, com sua vista cansada, o banho da juventude, procuran­do reviver aquela certeza de que, sob sua pele, enrugados beijos de amor fo­ram doados. A força visiva dos seus olhos mexe com os espasmos colhidos através da espera; a mes­ma que fez as árvores florescerem e os frutos caí­rem na terra e germinaram.
Seu corpo frágil contrasta com a energia e o ma­labarismo da criança, ao mesmo tempo em que o inspira a pescar recordações. As mãos segu­ram uma bengala para deixá-lo plantado no chão, uma batuta aposentada, fincada no solo, persistente, escrava do seu dono que, durante anos, doou a serena joviali­dade dos deuses pagãos colocada a sua disposição e aos profundos mistérios da sua emoção .
Mergulha com o menino no imaginário, dian­te da alegria, e vê claramente, no fundo do canal, ma­drepérolas brilharem de baixo para cima, subtraindo o olhar, a esperança.
Uma brisa momentânea o faz respirar mais for­te, enche os pulmões com a existência. Volta a si a imagem substituti­va que estava diante dele. Não mais existe o herói .  
As rugas da sua boca desaparecem com um lar­go sorri­so de abstinência e compreensão de ter ti­do a chance de mer­gulhar por anos  e séculos. 
Harmonicamente, reassume seu dever incli­nan­do a cabe­ça para trás da nuca , olhando para o alto nas múltiplas direções dos  pontos cardeais. 
"ENTRELINHAS LITERÁRIAS", SÃO PAULO, BRASI, 2011

sexta-feira, 16 de novembro de 2012

AS REDES DE DORMIR DO BRASIL


carta de Pero Vaz de Caminha

A hamaca, sendo rede é um invento dos indígenas da América do Sul, cujo nome de origem é denominada pelos indígenas do Brasil de ini. A palavra rede foi empregada pela primeira vez pelo escrivão da frota de Pedro Alvares Cabral — Pero Vaz de Caminha, em carta à Portugal, onde descrevendo a povoação dos Tupiniquins, seus hábitos e costumes, relata a maneira de dormir, daqueles indígenas: "Foram-se lá todos; e andaram entre eles. E segundo depois diziam, foram bem uma légua e meia a uma povoação, em que haveria nove ou dez casas, as quais diziam que eram tão compridas, cada uma, como esta nau capitaina. E eram de madeira, e das ilhargas de tábuas, e cobertas de palha, de razoável altura; e todas de um só espaço, sem repartição alguma, tinham de dentro muitos esteios; e de esteio a esteio uma rede atada com cabos em cada esteio, altas, em que dormiam". E foram as mulheres dos colonos portugueses que adaptaram a técnica indígena, substituíram o tucum pelo algodão (para render em um tecido mais compacto) e aplicaram varandas e franjas ornamentais. Sua difusão no Nordeste teve a colaboração ativa dos sacerdotes que, espalhando a técnica dos adventícios e entre as gerações que se sucederam tornaram hereditários o artesanato. 

A rede indígena é tecida em cipó e lianas; as mulheres dos colonos portugueses adaptaram a técnica indígena, passando a fazer redes em tecido compacto e com varandas e franjas ornamentais. A rede durante o Brasil Colônia, foi utilizada também como meio de transporte, sendo nelas, carregados por escravos, os colonos e suas famílias em passeios pela cidade e viagens. O folclorista nordestino Luís da Câmara Cascudo no seu ensaio "Rêde-de-Dormir" faz uma apologia a esta peça domésticas integrante da vida cotidiana das gentes do Norte e Nordeste brasileiros, comparando-a com o leito, e enaltecendo as vantagens da rede: "O leito obriga-nos a tomar seu costume, ajeitando-se nêle, procurando o repouso numa sucessão de posições. A rêde toma o nosso feito, contamina-se com os nossos hábitos, repete, dócil e macia a forma do nosso corpo. A cama é hirta, parada, definitiva. A rêde é acolhedora, compreensiva, coleante, acompanha, tépida e brandamente, todos os caprichos da nossa fadiga e as novidades imprevistas do nosso sossêgo. Desloca-se, encessantemente renovada, à solicitação física do cansaço. Entre ela e a cama, há a distância da solidariedade à resignação". 

O legado indígena, no que se refere a artefatos, foi de suma importância para a sobrevivência da sociedade brasileira nos primeiros anos do descobrimento e durante toda a época colonial. A bibliografia é bastante vasta a este respeito, mas nada melhor do que transcrever um trecho da obra de Sérgio Buarque de Holanda, Caminhos e Fronteiras, quando o autor revela a importância da rede na capitania de São Paulo no século dezesseis até hoje: "Ao visitar pela Segunda vez a capitania de São Paulo, tendo entrado pelo Registro da Mantiqueira, Saint-Hilaire impressionou-se com a presença de redes de dormir ou descansar em quase todas as habitações que orlavam o caminho. O apego a esse móvel (...) pareceu-lhe dos característicos notáveis da gente paulista, denunciando pronunciada influência dos índios outrora numerosos na região.

(...) É sabido que o europeu recém-chegado ao Brasil aceitou o costume indígena sem relutância, e há razão para crer que, nos primeiros tempos, esses leitos maneáveis e portáteis constituiriam objeto de ativo intercâmbio com os naturais da terra.

A ARTE COM A PEDRA SABÃO


PEDRA-SABÃO

A pedra-sabão, também conhecida como esteatito, é uma variedade de esteatita, muito usada em Minas Gerais para esculturas e ornatos arquitetônicos.
As pedras-sabão ou pedras-sabões são resistentes, de grande plasticidade, beleza e têm multiplicidade de usos. Sua resistência e sua dureza podem ser comparadas às do mármore, com a vantagem de ser também refratária, suportando temperaturas elevadas.
Tais características fazem dela o material perfeito para uso tanto em áreas externas como em ambientes internos. Não deve, entretanto, ser confundida com a pedra-talco, um material com menor dureza e bastante frágil, utilizada em peças de adorno.
Os primeiros registro da utilização da pedra-sabão na Europa datam do início do século XV. Já naquela época, por sua nobreza e versatilidade, era utilizada para embelezar e decorar palácios, bem como para cozinhar e conservar alimentos.
Nos últimos 20 anos, sua utilização tem crescido nos países frios, na fabricação de fornos domésticos de aquecimento.
No Brasil, imediatamente associamos a pedra-sabão ao Barroco mineiro. Nas mãos de gênios como o mestre maior da pedra-sabão, Antônio Francisco Lisboa, o ALEIJADINHO, ela foi eternizada na forma de objetos ornamentais de igrejas e esculturas únicas!
ESTÁTUA em pedra-sabão do Profeta Daniel com um leão, by Aleijadinho.
CONGONHAS DO CAMPO – Minas Gerais (MG), foto Sérgio Sakall (12/2003).
Nas portadas de igrejas, nos altares, nas fontes, nas imagens, nos brasões, em quase todas as formas de ornamentação do período colonial ela esteve presente. Com tonalidades variando de verde-escuro a nuances mais claros a pedra-sabão é ainda o material preferido pelos artesãos e escultores da região dos Inconfidentes.
Pedra consideravelmente “mole” (o que deu origem ao seu nome) é ideal para escultura e para a liberdade criativa.
A obra mais antiga em pedra-sabão conservada em Cachoeira do Campo parece ser o medalhão que encima a portada principal do Colégio Dom Bosco, antigo Quartel da Cavalaria das Minas. À época da inauguração desse prédio, D. Antônio de Noronha mandou confeccionar o grande medalhão com as armas e a coroa de Portugal. Diz-se que esta também é uma obra de Aleijadinho...
Hoje, a pedra-sabão é explorada em quantidade considerável na região de Santa Rita de Ouro Preto, lugar onde se concentra grande número de artesãos. De lá, ela é exportada para vários lugares, inclusive à Cachoeira do Campo, onde numerosos artesãos dão vida à pedra bruta.
Estes, são tidos entre os mais criativos do gênero! Suas obras já foram apreciadas em vários lugares do mundo. O mesmo mundo que já vem admirando nossas riquezas artesanais, imortalizadas nesta pedra, desde o século XVIII.
Curiosidade: O CRISTO REDENTOR, talvez um dos mais belos cartões-postais do Brasil, também é todo revestido com pastilhas de pedra-sabão! A OPPS – Ouro Preto Pedra Sabão (www.opps.com.br) participou de sua restauração em 1990, fornecendo a pedra e a mão-de-obra.

domingo, 11 de novembro de 2012

POEMA DE VICENTE DE PERCIA - "AGORA"


AGORA

Em pleno o verão o frio chega
e com ele o universo conformado
com a mudança repentina
discorda.

A armadilha do tempo aparece
através da chuva leve,
do vento de hastes sustenidos,
dando de beber em folhas cheias
aos fortes troncos das árvores.

Tudo parece irreal
como os amores que surgem
com as estrelas
- presas facéis dos encontros
entre cheiro de resinas e suores –

Eu gostaria mais do que lembrar de você,
para deixar de andar em círculos,
de cantar em inútil ritmos
de desperdiçar o meu tempo.

A história da tristeza e da alegria
é como o olhar leal do meu cão,
direto.
É como a melodia de Mozart
que se repete com constância
e cria cenários diferentes.

Talvez, não esteja tão perdido
como penso estar.
Talvez, porque acredite
Que você me chamará.

Ouço o murmurio das asas da brisa
como um prelúdio.
do mesmo modo
que em pleno verão
o frio voltou
em um dia de verão.

Vicente de Percia
10 de novembro de 2012



sábado, 3 de novembro de 2012

OS CONFLITOS NÃO TERMINARAM


Suspensão do retirada dos índios que ocuparam Iguatemi “é positiva, mas não resolve o problema”, diz um dos líderes ameaçados de morte

Ameaçado de morte por sua atuação como um dos líderes do povo Guarani-Kaiowá em Mato Grosso do Sul, Elizeu Lopes disse ontem (31) que a decisão do Tribunal Regional Federal da 3ª Região (TRF3), em São Paulo, de suspender a liminar judicial que poderia resultar na retirada de um grupo de 170 índios de uma fazenda localizada em Iguatemi (MS) não resolve o conflito que afeta várias outras comunidades indígenas sul-mato-grossenses.
“A decisão de ontem [30] foi positiva, mas, para nós, ainda não é um bom resultado. Para nós, a justiça, os governos, estão deixando nossas comunidades abandonadas”, disse Lopes, durante audiência pública promovida pela Comissão de Direitos Humanos e Minorias da Câmara dos Deputados, esta manhã, na sede do Conselho Federal de Psicologia.
Segundo Lopes, após décadas esperando que o Estado demarcasse novos territórios indígenas e desse um basta ao grave conflito fundiário entre índios e produtores rurais que se estabeleceram na região ao longo do século passado, os guaranis kaiowás de Mato Grosso do Sul decidiram ocupar e lutar pelas terras que afirmam terem pertencido aos seus antepassados.
“Estamos sofrendo há mais de 30 anos, lutando por nossos territórios, pela nossa terra, acampados a margem de estradas, sem condições de sustentar nossas famílias e ter uma vida tranquila, sem atendimento médico e com nossos filhos tomando água suja e muitas vezes impedidos de estudar. Somos as maiores vítimas da violência e não aguentamos mais. Por isso, decidimos ocupar nossos territórios”, disse Lopes, garantindo que, com a decisão indígena de intensificar a ocupação de terras onde hoje estão instalados grandes produtores de soja, cana-de-açúcar e gado, boa parte deles legitimados pelo Estado, aumentaram os conflitos.
“Fazendeiros continuam nos atacando com seus pistoleiros e não têm mais vergonha de dizer na frente das câmeras que vão derramar ainda mais sangue dos guaranis kaiowás. Mesmo assim, vamos continuar lutando, ocupando nossas terras. Não tem como voltarmos atrás nesta decisão porque já aguardamos muitos anos e não queremos mais promessas nem discursos. Queremos a demarcação de nossos territórios”, concluiu Lopes, descartando a hipótese dos 170 membros da Comunidade Pyelito Kue, em Iguatemi, a cerca de 460 quilômetros da capital sul-matogrossense, Campo Grande, se suicidarem, caso fossem obrigados a deixar os dois hectares da fazenda que pleiteiam como sendo um território tradicional indígena.
Presidente em exercício da Comissão de Direitos Humanos e Minorias da Câmara dos Deputados, a deputada federal Erika Kokay (PT-DF), visitou áreas em conflito no final do ano passado. Na época, fazendeiros chegaram a tentar impedir a comitiva, da qual também faziam parte os deputados petistas Domingos Dutra (MA) e Padre Ton (RO) e agentes da Polícia Federal, de chegar até as áreas ocupadas por grupos indígenas.
“O nível de enfrentamento é intenso e, a nosso ver, não será resolvido sem a participação dos entes públicos, inclusive com mudanças legislativas e a eventual possibilidade de os produtores serem indenizados para deixarem a área”, disse a deputada, informando que a comissão encaminhou à presidenta Dilma Rousseff, uma carta manifestando a preocupação com a situação e pedindo a adoção de medidas que ajudem a resolver os conflitos.
“As soluções e possibilidades só podem ser concretizadas se houver, por parte do governo, a decisão política de resolver o problema. Podemos dizer que há um processo de etnocídio em curso,” disse a deputada.

sábado, 27 de outubro de 2012

EGON SCHIELE.- EXPRESSIONISMO AUSTRIACO



EGON SCHIELE . A FOME E O SEXO













Egon Schiele, um dos expoentes máximos do expressionismo austríaco, nasceu em Junho de 1890 na estação de combóios de Tulln, onde o seu pai, Adolf, trabalhava ao serviço da Companhia de Caminhos de Ferro Austríacos e morreu em 1918, com apenas 28 anos. Durante a sua curta vida produziu uma obra importantíssima que define e prefigura, como nenhuma outra, a “malaise” de um século violento e trágico.

Na terra natal de Egon Schiele, nas margens do Danúbio, não existia nenhuma escola e, em 1901, o jovem foi enviado primeiro para Krems e depois para Klosterneuburg, nos arredores de Viena para onde toda a família se mudou devido ao estado de saúde de Adolf que morreu em 1905, depois de ter sido oficialmente consideradado louco. Na adolescência, Schiele assumiu o desaparecimento do pai como um trauma, desenvolvendo uma doentia aversão em relação à mãe a quem, à semelhança de Hamlet, culpava por não ter chorado convenientemente o marido e de quem se queixava de falta de afecto. A instabilidade emocional do jovem Egon, predispunha-o para o desenvolvimento das capacidades artísticas que manifestou desde muito cedo, embora se insurgisse contra os que o incentivavam a seguir a carreira de pintor. (“Os meus grosseiros professores foram sempre os meus piores inimigos”, gostava ele de afirmar).
Precoce, arrebatado, absolutamente seguro da sua genialidade, Schiele associava os comboios da sua infância à ideia de evasão, de viagem. Com apenas dezassete anos arrastou a sua adorada irmã Gertie, de treze anos, que lhe despertava um amor incestuoso, até Trieste e, em 1913 deslocou-se a Varsóvia, Krumau, Munique, Villach, Tarvis e Altmunster no lago Traun. A sua inquietação não lhe permitia qualquer tipo de relações estáveis mas a sua entrada para a Academia de Belas-Artes de Viena, contrariando as intenções do seu tio e tutor Leopold, foi determinante para a sua carreira. Passou brilhantemente no exame de admissão, apenas com dezaseis anos e, em 1908, expôs pela primeira vez, em Klosterneuburg.

sexta-feira, 26 de outubro de 2012

BARES E RESTAURANTES POPULARES RESISTEM NA POLÔNIA



Baratos e tradicionais, são relíquias gastronômicos, remontam ao fim do século XIX e multiplicaram-se após II Guerra

Todo em madeira, o Bar Mleczny Familijny, ou Milk Bar Familiar, contrasta com os restaurantes caros da Avenida Nowy Swiat, a mais badalada e cosmopolita de Varsóvia. Um passo adentro e o cardápio todo em polonês só deixa entrever que há, sim, pierogi, os pasteizinhos cozidos com vários recheios, entre outras dezenas de pratos – ilegíveis sem um dicionário no bolso – com preços em torno de um euro.
O caminho para o caixa, primeira parada antes de pegar a comida, mais parece uma trilha rumo ao confessionário. A operadora fica atrás de uma tela de madeira e só fala o básico em polonês. O pedido é para ser feito rápido, porque o prato sai um passo à frente, sem demora. Na fila, tente contar com a ajuda de alguém solidário para fazer o pedido. Na dúvida, tente bigos (repolho com carne de porco desfiada e purê de batata). Não tem como errar na dicção.

Os milk bars são uma instituição polonesa do final do século XIX. Após o fim da Segunda Guerra Mundial, em que 80% de Varsóvia foi destruída, e a adoção do comunismo soviético, eles se mantiveram na ativa como os restaurantes do trabalhador – baratos e de comida caseira. Depois de 1989, muitos fecharam e os remanescentes são mantidos com subsídio do governo. Vivem lotados.

terça-feira, 23 de outubro de 2012

O CARTEL DA VELHA MÍDIA CONTRA A LIBERDADE DE EXPRESSÃO




Reunião da SIP termina em São Paulo de forma grosseira — com posturas opostas às da ONU e ataques ao Wikileaks

Da Carta Maior

68ª Assembleia Geral da Sociedade Interamericana de Imprensa (SIP), realizada de 12 a 17 de outubro, em São Paulo, mostrou mais uma vez que essa entidade, que na prática funciona como um sindicato dos donos dos grandes conglomerados de comunicação, representa hoje uma das mais graves ameaças à liberdade de expressão na América Latina. A constatação não chega a ser uma novidade, mas algumas coincidências muito expressivas marcaram o encontro da SIP no Brasil. Enquanto os grandes empresários que dirigem a entidade e seus dedicados funcionários apontavam a “Ley de Medios” do governo argentino como uma das mais graves ameaças à liberdade de expressão e de imprensa no continente, o relator especial da Organização das Nações Unidas (ONU) para a Liberdade de Opinião e de Expressão, Frank La Rue, dizia, em Buenos Aires, que essa lei é avançada e representa um “modelo para todo o continente e para outras regiões do mundo”.
Diante dessa gritante divergência de avaliação a respeito de uma mesma lei, cabe perguntar: onde reside exatamente a diferença entre a SIP e a ONU? Para a SIP, a “ameaça à imprensa independente” na Argentina pode “ter um capítulo obscuro em dezembro, quando o governo pretende avançar sobre os meios audiovisuais do Grupo Clarín desconhecendo sentenças judiciais e normas legais”. No dia 7 de dezembro, vence o prazo fixado pela Corte Suprema para a medida cautelar com a qual o grupo Clarín conseguiu bloquear, durante três anos, a aplicação do artigo 161, que obriga as empresas a abrir mãos das concessões que superem o limite estabelecido pela nova legislação para evitar práticas monopólicas.

Compreende-se assim a preocupação da SIP. Os empresários fogem de qualquer limitação legal à prática de monopólio (direto ou cruzado) como o diabo da cruz.
O que a SIP considera uma ameaça, o relator da ONU considera um avanço. “Eu considero essa lei um modelo e a mencionei no Conselho de Direitos Humanos da ONU, em Genebra. Ela é importante porque, para a liberdade de expressão, os princípios da diversidade de meios de comunicação e de pluralismo de ideias é fundamental”, afirmou Frank La Rue. Desnecessários dizer que a SIP e os veículos de comunicação de seus dirigentes omitiram completamente as declarações do relator da ONU. O limite da liberdade de imprensa e de expressão que defende é exatamente o limite de seus interesses econômicos, nem mais nem menos. Para compreender a natureza desses interesses é preciso recordar a própria história da SIP e de seus dirigentes, que, na América Latina, está intimamente ligada ao apoio a golpes militares, à deposição de governos constitucionais, à violação sistemática de direitos humanos e à censura. Para a SIP, é fundamental que essa história permaneça oculta, mas cada vez que um de seus dirigentes ou aliados abre a boca para dizer algo, ela vem inteira à tona.
Um exemplo disso é o editorial do jornal O Globo, de 16 de outubro de 2012, intitulado “Cerco à liberdade na América Latina”. Logo no início o editorial afirma: “Qualquer pessoa medianamente informada sabe que a democracia representativa passa por um ciclo de ataques na América Latina, região com longa história de recaídas autoritárias”. De recaídas autoritárias, o grupo Globo, de fato, entende, afinal, prestou inestimáveis serviços à ditadura brasileira, assim como o grupo Clarín fez com a ditadura argentina. Não é por acaso, portanto, que O Globo saia em defesa do seu parceiro argentino, acusando a presidenta Cristina Fernández de Kirchner de querer obrigá-lo a se desfazer de várias concessões de rádio e TV que hoje compõe um dos tantos monopólios que há no setor na América Latina.
Qualquer pessoa medianamente informada sabe qual foi o papel que a Globo e outras grandes empresas de mídia, desempenharam na ditadura brasileira, como foram cúmplices de assassinatos, torturas, desaparecimentos de pessoas, violação de direitos humanos fundamentais e supressão da liberdade de imprensa e de expressão. O mesmo ocorreu na Argentina, com os grupos Clarín e La Nación, no Chile com o diário El Mercurio, e em praticamente todos os países da região. Mais recentemente, a tradição golpista da entidade foi exercida na Venezuela, em Honduras, no Equador e no Paraguai.
A SIP e seus dirigentes, neste contexto, têm uma sólida ficha corrida de serviços prestados à violação de liberdades na América Latina. É compreensível, portanto, que, no momento em que esse poder começa a ser contestado e ameaçado, seus veículos venham a público alertar para o “cerco à liberdade na América Latina”. Há apenas uma liberdade que está sob cerco na região: a liberdade dos donos de grandes conglomerados midiáticos continuarem sonegando à população o direito à livre expressão e a um jornalismo de qualidade.
Jornalismo, aliás, que não é mais o interesse central da SIP e seus veículos há muito tempo. O fato já foi admitido inclusive pela presidenta da Associação Nacional de Jornais (ANJ), Judith Brito, que reconheceu que os grandes veículos de imprensa estavam substituindo o papel da oposição ao governo Lula. “Esses meios de comunicação estão fazendo de fato a posição oposicionista deste país, já que a oposição está profundamente fragilizada”, disse a executiva da Folha de S.Paulo em março de 2010. Para desempenhar essa função, esses veículos não hesitam em deixar o jornalismo de lado. Como fez mais uma vez o grupo Globo esta semana que contratou uma pesquisa Ibope para avaliar a intenção de voto dos eleitores de São Paulo no segundo turno da eleição municipal e, diante do aumento da vantagem do candidato Fernando Haddad (PT) sobre o candidato José Serra (PSDB), simplesmente sonegou a informação no principal noticiário do grupo, o Jornal Nacional. A SIP, a ANJ, seus dirigentes e filiados também guardam profundo silêncio sobre as agressões e truculências praticadas por José Serra contra jornalistas, inclusive de seus veículos. O que está sob cerco na América Latina, é a possibilidade se seguir chamando tais práticas de “jornalismo”.
A cereja deste bolo de autoritarismo, cinismo e hipocrisia foi fornecida pelo novo presidente da SIP que, no discurso de encerramento da assembleia da entidade, além de repetir os discursos citados acima, resolveu atacar o jornalista australiano Julian Assange, fundador do grupo Wikileaks, que atualmente encontra-se refugiado na embaixada do Equador em Londres, já tendo recebido asilo político deste país. Jaime Mantilla, do diário Hoy, do Equador, acusou Assange, classificado por ele como um “indivíduo hábil e irresponsável”, de “conseguir informação de maneira fradulenta e praticar o jornalismo desonesto”. Os jornais brasileiros, mais preocupados em blindar seu dirigente do que em fazer jornalismo, omitiram as declarações do recém-empossado presidente da Sociedade Interamericana de Imprensa.
Esses são, portanto, alguns dos principais alvos da SIP e de seus braços midiáticos no continente, como a ANJ no Brasil: políticas contra a prática de monopólio, apontadas como exemplares pela ONU, jornalistas como Assange, que vive hoje trancafiado em uma embaixada por ter exposto segredos de guerra da maior potência do planeta, leis que busquem garantir o direito à diversidade de opinião e à liberdade de expressão. Os fatos falam por si. Qualquer pessoa medianamente informada, sabe hoje que entidades como a SIP e a ANJ representam, de fato, uma grave ameaça a essas liberdades e direitos em toda a América Latina.




quinta-feira, 18 de outubro de 2012

PARADIGMA DE POLÍTICAS CULTURAIS


Na sintonia da Cultura e Conhecimento livres

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Manifesto da Rede Metareciclagem abre diálogo com MinC e sugere retomar caminho que tornou país paradigma de políticas culturais transformadoras
Por Rede Metareciclagem
As expectativas de que a nova ministra da Cultura, Marta Suplicy, abra com os movimentos da área um diálogo realmente capaz de produzir mudanças voltaram a crescer. Semanas depois de a rede Fora do Eixo (FdE) articular, em Brasília, umareunião com dezenas de ativistas, que fizeram reivindicações a Marta, a Rede Metareciclagem lança hoje um documento endereçado ao MinC. Reúne um com vasto conjunto de propostas, ligadas em especial às intersecções entre Cultura, Tecnologia, Ciência e Comunicação.
Fica claro que, se as intenções do MinC forem firmes, a construção conjunta com a sociedade será rica. Assim como a reunião montada pelo FdE, o texto da Metareciclagem revela vasto conhecimento e capacidade de formular políticas públicas. Passa por um amplo leque de temas: reforma das leis de direito autoral, acesso às informações do Estado, acesso à banda larga de internet, exame de novos paradigmas de pesquisa cientifica, estímulo à produção de softwares públicos, definição avançada das tecnologias para rádio e TV digitais. Em todos eles, vai além do discurso. Referencia-se em ações que rede já executa e formula, com base nelas, propostas muito concretas.Foi formulado a partir de uma série de consultas, entre a própria rede e pretende ser canal para abertura de um diálogo com o ministério.
Durante o governo de Lula e o período dos ministros Gilberto Gil e Juca Ferreira, caracterizou-se por desenvolver políticas culturais relevantes e avançadas. Por serem criadas segundo uma nova concepção das relações entre Estado e sociedade e adaptadas à era das redes e da produção imaterial, muitas tiveram, também, grande repercussão internacional. Este ímpeto cessou e retroagiu, nos últimos dois anos. Crescem os sinais de que há tudo para retomá-lo. O documento da Rede Metareciclagem vem a seguir. (A.M.)
Plante e Viva! Código é Mato; Importante são Pessoas!
Anônimo e Coletivo
1 ponto e vírgula A+, “Enter”. && você já não está no mesmo lugar;
Supla Selva & Yupana Kernel

Abrimos este canal para dialogar com o Ministério da Cultura, buscando destacar tópicos de suma importância para a cultura, em suas interfaces com a tecnologia, ciência e comunicação. Propomos abaixo alguns pontos que julgamos relevantes para o presente e o futuro, a partir da nossa larga experiência coletiva em redes cultivadas na Internet e nas ruas, com a utilização plena de software livre para produção cultural, bem como no exercício da cultura livre como prática constante. Na realização de encontros presenciais relacionados a arte, mídia, participação social, ciência, tecnologia presenciamos e integramos todo tipo de discussões políticas e ações distribuídas e não-verticalizadas. Durante este processo decidimos ampliar o número de destinatários, dada a pluralidade de intenções. Como e com quem resolver?
Esta carta foi escrita por diversas mãos a partir de uma iniciativa que surge no seio da rede MetaReciclagem e então se espalha pela Internet. Lembramos que a MetaReciclagem era parte fundamental do conceito e prática da Ação Cultura Digital elaborada nas gestões passadas. Entre as pessoas abaixo assinadas estão articuladores que participaram da criação e internacionalização do Cultura Viva, do Programa Nacional dos Pontos de Cultura e das ações de Cultura Digital, realizando na prática estes programas governamentais. Gostaríamos que o Ministério da Cultura e todxs xs destinatárixs desta carta atentassem aos pontos abaixo:
Lei do Acesso à Informação e Governo Aberto - Disponibilização adequada (de forma legível por pessoas e máquinas, em padrões abertos) de todas as informações do Ministério da Cultura, inclusive as relativas ao orçamento (levando em consideração também os recursos das leis de incentivo fiscal) e sua distribuição entre as regiões do país. Incentivo à formação de Conferências de Cultura permanentes e abertas, e ao aprimoramento e a simplificação dos canais de diálogo e intervenção da sociedade civil (organizada ou não-organizada legalmente) na gestão do Ministério. Tomada de decisões junto à sociedade civil através de consultas públicas.Gênero, Produção Cultural e Apropriação Tecnológica -  Estímulos a projetos de acesso e uso crítico da tecnologia (hardware, software e redes) e dos meios de produção cultural. Investimento em pesquisa e programas de introdução à apropriação tecnológica específicos para diversidade de gênero de todas as idades, culturas, raças e classes sociais, para que sejam estimuladxs a participar de processos de produção cultural com ferramentas tecnológicas. Esse contexto é onde mais existe déficit de participação. Entram nesse contexto mulheres, transgêneros, transexuais, travestis, prostitutas, queers e todo tipo considerado aberração para a sociedade machista, que ainda domina muitas das gerências da cultura, da ciência e da tecnologia.
Reforma da Lei de Direito Autoral - Um  largo processo foi iniciado, durante o governo Lula, que tinha como missão atualizar a legislação brasileira sobre o direito autoral. É  praticamente um consenso a necessidade da reforma da Lei 9.610/98, visto que a última década foi marcada por profundas transformações – não só  técnicas mas principalmente políticas e culturais – que alteram radicalmente a forma como nos relacionamos com o direito autoral. Como exemplo dessas transformações, temos a difusão de espaços e práticas de compartilhamento – redes P2P – que se tornaram verdadeiros terrenos de uma guerra global entre defensores da “propriedade intelectual” e ativistas da cultura livre. Outro exemplo dessas transformações é a  difusão cada vez maior de uma cultura de remix. Desde 2007, o MinC vem fomentando o  debate sobre temas como cópia  privada, uso educacional de obras  protegidas, proteção ao autor e cessão  de direitos.Acreditamos necessário avançar muito nessa área pois o acesso a produções culturais é  essencial para a multiplicidade e diversidade da cultura brasileira,  para a diversificação de olhares, assim como a formação de uma cultura política e não somente políticas culturais. Alguns avanços  significativos podem ser conquistados nessa área como a  descriminalização de práticas ditas de “pirataria”, a  possibilidade de cópia  privada, a criação de um sistema de supervisão pública e descentralizada dos órgãos coletores de direitos autorais, a questão das cópias para uso educacional e o aumento das possibilidades de usos “justos” das  obras protegidas. Devemos buscar soluções para a remuneração do trabalho da cultura e da arte que passem  pelo reconhecimento da dimensão coletiva de sua produção, destacando as possibilidades de produção cooperativa e a impossibilidade da cultura ser entendida como submetida somente à economia – ainda que a questão da valoração do trabalho de artistas e produtores culturais seja essencial.

domingo, 7 de outubro de 2012

NOVA ESPÉCIE DE BROMÉLIA É DESCOBERTA NO BRASIL


Nova espécie de bromélia é descoberta na Paraíba



Tillandsia paraibensis
 plantada longe de seu ambiente natural para a realização de estudos taxonômicos.

A riqueza da fauna na região de transição entre os biomas Caatinga e da Mata Atlântica é ainda pouco conhecida. É lá, num rochedo localizado dentro do Parque Estadual da Pedra da Boca, uma unidade de conservação estadual localizada no município de Araruna, na Paraíba, que o botânico Ricardo Ambrósio Soares de Pontes coletou pela primeira vez em 2004 uma espécie incomum do gênero Tillandsia, da família das bromélias. Quase 8 anos depois, a nova bromélia denominada Tillandsia paraibensis, foi descrita na última edição da Rodriguésia, a revista do Jardim Botânico do Rio de Janeiro.

T. paraibensis vive na rocha nua a pleno sol e sem nenhum acúmulo de substrato, ou seja, não precisa de terra ou outro tipo de nutrientes para sobreviver. Esta planta é de difícil floração, o que dificultou a confirmação da espécie. 

“Após um exaustivo trabalho de taxonomia (identificação), visitando coleções locais e nacionais, artigos científicos e consultas a outros especialistas, decidi descrever em 2010 esta nova espécie, que foi submetida para a publicação em 2011 e publicada em 2012”, disse Pontes, em entrevista por e-mail ao ((o)) Eco.

A primeira coleta da bromélia foi feita em 2004, quando Pontes desenvolvia seu projeto de mestrado pela Escola Nacional de Botânica Tropical do Jardim Botânico do Rio de Janeiro, e percebeu estar diante de uma nova espécie.  



O botânico Ricardo Pontes (de camisa vermelha) e o escalador profissional Júlio Castelliano se preparam para coletar a espécie em seu ambiente natural. Foto: divulgação

Até o momento, a nova espécie só foi encontrada neste complexo de afloramentos rochosos, sendo considerada uma espécie microendêmica -- só ocorre neste local.

“Esta descoberta é extremamente importante para a conservação desta área natural, onde apenas espécies altamente adaptadas conseguem sobreviver. Demonstra que a área é rica em biodiversidade e é ainda pouco conhecida. Outras espécies podem ser descobertas” explica Pontes.

A T. paraibensis já faz parte do acervo de plantas vivas do Jardim Botânico de João Pessoa e quem tiver interesse, pode ir lá conhecê-la.



Ricardo Pontes trabalha como assessor técnico da Secretaria de Meio Ambiente do Município de João Pessoa e é consultor ambiental da área florística do Centro de Pesquisas Ambientais do Nordeste (CEPAN), em Recife (PE). 

sábado, 6 de outubro de 2012

NEIL SMITH - "GENTRIFICAÇÃO"


Morre Neil Smith, que cunhou o termo “gentrificação”



Geógrafo era referência para pesquisadores e grupos que lutam pelo direito à cidade. Tradução ao português do conceito criado por ele é primária
Por Gabriela Leite
Um dos estudiosos que ajudou a identificar a segregação social disparada nas metrópoles a partir dos anos 90 faleceu neste sábado. O geógrafo Neil Smith, nascido na Escócia, era professor de Antropologia e Geografia na City University of New York. Referência para pesquisadores e relacionado com grupos que lutam pelo direito à cidade, focou seus estudos em como as lógicas de mercado influenciam nos espaços urbanos. Sua morte, com 58 anos, é uma grande perda para os estudos da questão urbana 
Foi Smith quem cunhou o termo gentrificação bastante utilizado por urbanistas para explicar a realidade das cidades brasileiras. O conceito descreve os processos neoliberais de segregação da população de uma área por conta da especulação imobiliária, nas grandes cidades. Embora comum entre intelectuais, a palavra diz muito pouco em português. É uma importação primária da língua inglesa: “gentry” refere-se à pequena aristocracia ou burguesia — gentrification seria, então, o processo de aburguesamento de uma região.

terça-feira, 25 de setembro de 2012

OBRAS DE PORTINARI AMEAÇADAS


Obra "Sagrada Família" continua exposta sem que nenhum trabalho de combate ou de prevenção da prega tenha sido feito
Obra "Sagrada Família" continua exposta sem que nenhum trabalho de combate ou de prevenção da prega tenha sido feito
"Foi feito o levantamento por pessoas especializadas, encaminhamos aos órgãos de preservação do patrimônio e, quando for finalizado, vamos buscar a verba", disse o secretário de Batatais.
Um ano depois da descoberta de uma infestação de cupins na obra "Sagrada Família", do pintor Candido Portinari, em Batatais, a obra continua exposta sem que nenhum trabalho de combate ou de prevenção da prega tenha sido feito.
Segundo nossa denuncia feita em 19 de Fevereiro de 2009", o quadro está na igreja do Senhor Bom Jesus da Cana Verde. De acordo com o guia cultural da igreja, Antônio Otávio Squarize, tudo permanece igual, à espera da finalização de um projeto de restauro.
"Só restauradores podem mexer na obra. A incidência de cupim é pouca e não é preocupante. A restauração que aguardamos é para todo o acervo", disse Squarize.
Há 23 quadros de Portinari na igreja. Segundo o secretário de Esportes e Turismo de Batatais, Antônio Carlos Correa, o projeto de recuperação do acervo, que inclui 32 quadros - obras de Mozart Pelá também estão no pacote - tem custo estimado em R$ 300 mil, mas não há recursos.
"Foi feito o levantamento por pessoas especializadas, encaminhamos aos órgãos de preservação do patrimônio e, quando for finalizado, vamos buscar a verba", disse o secretário de Batatais.
De acordo com o Condephaat (Conselho de Defesa do Patrimônio Histórico, Arqueológico, Artístico e Turístico), o projeto foi aprovado no órgão em dezembro de 2009 e precisa agora ser encaminhado para apreciação do Iphan (Instituto de Patrimônio Histórico e Artístico Nacional).

Arquivo Digital Folha A Noticia 19-02-2009 Cupins ameaçam obra de Portinari em Batatais 
Uma descoberta feita por acaso está deixando as autoridades em alerta em Batatais. Um ataque de cupins está colocando em risco algumas obras que estão expostas na matriz da cidade.

quarta-feira, 19 de setembro de 2012

30ª Bienal de São Paulo – Dialoga com o Público



                                                                                   Vicente de Percia
A qualidade não deve ser medida pela quantidade.  Com menos participantes e respectivamente, um número menor de obras a 30ª Bienal de São Paulo é o evento de maior referência nas artes plásticas no Brasil. Quer queiram ou não. Essa edição surge com mais coerência e metodológica perante o público e busca recompor o equilíbrio perdido nas últimas edições. De certa forma contestada sobreviveu aos erros, principalmente induzido pelo diletantismo dos seus curadores e gestores.
 São 111 artistas vindos de 33 países diferentes, do total, 23 são brasileiros. Arthur Bispo do Rosário, Brasil, viveu recluso por meio século em um hospital e é um deles. Apresenta quase que uma retrospectiva das suas tarefas artísticas e é o mais visitado nessa Bienal.
A pintura, desenho, gravura, fotografia, vídeos, apenas depoimentos, anotações, autorretratos etc... preenchem o Pavilhão da Bienal, no Parque do Ibirapuera em São Paulo e ficará até o dia 12 de dezembro de 2012. O conjunto da mostra erradica, em boa parte, qualquer tipo de parcialidade da curadoria e atende a um método para compreender o artista na sua individualidade o que possibilita assistir inúmeros tipos de concepções, observar os meios materiais e instrumentos diversos.
O curador, o venezuelano, Luis Pérez Oramas estabelece uma divisão de cinco módulos para a 30ª Bienal; fomenta uma estratégia motivadora em ver e transitar pelo espaço da Bienal; evita as lacunas; os espaços vazios das outras temporadas; descarta o amontoado de informações; insere uma estratégia logística e de marketing, comete seus erros na escolha dos vídeos de artistas de caráter subjetivo e “aparentemente” coloquial. Oramas Optou, em reunir pluralidades estéticas para marcar, não com tanta ênfase, a “contemporaneidade” tão exigida do circuito para esse tipo de mostra.
 Nessa Bienal o individual do artista dialoga com a sociedade, suas diversidades e semelhanças revelam aspectos dos embates, transições, semelhanças poéticas, impactos, escalas cromáticas, arquétipos, tabelas existentes. O senso-crítico desperta segmentos dionisíaco e apolíneo da existência humana.  A montagem uma das melhores já vistas de Martim Corrullon contribui e facilita a visita dos presentes no pavilhão criado pelo arquiteto Oscar Niemeyer.
Sobrevivências, Alterformas, Derivas, Vozes, Reverso, são os títulos de cada um dos módulos que da forma ao nome oficial da bienal: “A IMINÊNCIA DAS POÉTICAS”. O primeiro: faz analogias entre contemporâneo e obras assinaladas; o segundo: indaga a própria arte e suas deformações; o terceiro: são as propostas marginais; quarto: aponta as multiplicidades; o quinto: tenta dialogar com as mostras paralelas que se sucedem em outros espaços fora da bienal.  
As obras expostas, a maior parte, foram feitas para essa Bienal, ou comissionadas especialmente para a exposição.  A investigação da produção cultural brasileira é sem dúvida um dos alicerces dos primórdios da Bienal, e a sua relação com o contexto internacional se presentifica desde a sua primeira edição, em 1951. O objetivo da Bienal internacional de São Paulo sempre teve desafios, desde a catalisação de recursos econômicos quanto aos “interesses” do circuito das artes, o que não descarta: Galerias, marchand, curadorias e as múltiplas influências coercitivas negativas. Aprofundar uma avaliação sobre sua trajetória requer à necessidade de avaliar as experiências passadas e, também, os deslizes que não contribuíram para uma base sólida desejada, ou seja, fortalecer uma entidade de interesse coletivo com compromissos com a arte e a formação e esclarecimento de opiniões. 

quinta-feira, 13 de setembro de 2012

FILME DESOBERTO PODE SER O PRIMEIRO A CORES

Um filme de 1901 encontrado em um museu britânico pode ser o primeiro registro de imagens em movimento e em cores, informa o jornal "The Guardian"
O National Media Museum, em Bradford, na Inglaterra, diz ter encontrado rolos de 190, produzidos pelo fotógrafo Edward Turner, que podem ser a primeira experiência em filmes a cores da história. "Nós acreditamos que isso vai reescrever a história dos filmes", disse o curador Paul Goodman.
Até então, o "Kinemacolor", de 1909, era considerado o primeiro experimento do tipo.

National Media Museum/Associated Press
Cena do filme de 1901
Cena do filme de 1901
As imagens mostram cenas cotidianas, como um peixe em um aquário e pequenas ações com as três filhas de Turner. Há ainda imagens de soldados marchando no Hyde Park e o tráfego de Londres.
O filme fazia parte da coleção de um empresário norte-americano que doou seus arquivos ao Museu de Ciência londrino, em 1937. Os filmes de Turner foram descobertos quando transferidos de Londres para Bradford, há três anos.
Um vídeo que explica o processo de composição do filme foi divulgado hoje pelos restauradores do museu.

domingo, 9 de setembro de 2012

ARTE E CONSUMO - CRÍTICA DE ARTE


Arte e Consumo

Artistas "contemporâneos" procuram utilizar-se com mais constância de uma estratégia estética voltada para métodos e instrumentos que as indústrias de serviços midiáticos oferecem.

Com esse direcionamento, a arte atrela-se a uma reprodução de formas e cores já existentes, com raras exceções. As tentativas realizadas nesse âmbito caracterizam e impõem uma estética não raro, hermética e subjetiva. A partir da década de 1980 tal conceito tornou-se um modismo "legitimado", tanto pelos aparatos da crítica, quanto pelo circuito da arte e do próprio artista. A globalização misturou abstrações "modernistas" e improvisações que apenas produzem contatos com a nova tecnologia vigente como o vídeoarte, entre outras realizações inventivas.

 O autêntico significado da tarefa artística é deixado de lado em decorrência da pretensão de que haja uma pratica relacional ou uma ideia consistente inserida nas obras que aderem a essa tática. A mercantilização do ato estético, inventivo, e criador no caso são notórios, já que  busca apenas uma apelo "espetacular”em que o dado inovador se subtrai ou, não completa seu objetivo.

Na realidade, as relações humanas deveriam estar inclusas no vetor de uma realização plástica com identidades e propostas que permitissem que o individual marcasse o estilo do produtor, do criador seja questionado no nível da existência humana e não dos modismos atrelados e subjugados ao consumo.

Há a intenção de que o público participe? Sim, este é o ponto crucial para que o modelo seja apreciado. Boa parte dessa nova produção volta-se à filmagem, fotografia, gravação, performace. Objetivamente, são discursos e conceitos cada vez mais presentes no cenário dos movimentos dinâmicos da criação.

Tanto no Brasil como em outros países,  os chamados "coletivos artísticos" incluem, principalmente, as estratégias de grupo e possuem um sistema operacional diferenciado ao apresentarem o "novo".

 Por vezes, esses discursos/conceitos tornam-se enfadonhos em demasia e afastam o criador da liberdade de vivenciar seu momento através de um mergulho individual inventivo onde o elemento dionisíaco se intercale com o apolíneo, bem de acordo com o pensamento de Nietzsche.


 De certa forma, as políticas sociais mantidas pelas instituições públicas e privadas, ora em vigor, contribuem para que o artista se submeta tais mecanismos impositivos e opte por segmentos criativos referentes à feitura da sua obra. Contudo, diante das injunções ele, nem sempre consegue plenamente desenvolver uma linguagem que monte estruturas para a formulação de  idéias inovadoras.

Nas últimas décadas, houve, entretanto  significativas insistências nas práticas artísticas. Os “novos mestres” optaram por essa postura, na intenção de irem de encontro a conceitos mais acadêmicos e a suportes artísticos tradicionais.

É válido, pois, ressaltar que as curadorias estão coligadas, às captações de recursos e que por isso, passam maior parte do seu tempo moldadas a essas estratégias evasivas. Deste modo não se encontram atentas às exposições de qualidade e conteúdo que tragam, verdadeiramente, um retorno formativo de conhecimento mais abrangente para as relações para as interlocuções do Homem com a Arte e com a dinâmica produtiva de seu tempo.
VICENTE DE PERCIA 
REVISTA: FORUM DEMOCRATICO, AGOSTO DE 2012 -