segunda-feira, 15 de abril de 2013

UNIVERSIDADE E METROPOLE: QUE PROJETO QUEREMOS?


Ao contestarem mudança de campus, professores da UFMG reabrem debate indispensável sobre cidades brasileiras e instituições das quais se espera reflexão, inconformismo e alternativas
Texto coletivo*
Qual o atual papel da universidade pública na transformação das cidades brasileiras e na proposição de novas formas de vida urbana? Ao redor do mundo, a conexão das universidades com as comunidades locais cresce, enquanto o Brasil ainda replica sistematicamente o paradigma do campus universitário como enclave monofuncional e segregado. Esta é uma proposta de discussão elaborada a partir da consulta à comunidade acadêmica da Escola de Arquitetura, Urbanismo e Design da UFMG, em abril de 2013, para decidir entre a continuação desta na região centro-sul de Belo Horizonte ou a sua mudança para o Campus da Pampulha.
1. Amnésia histórica
Enquanto outras escolas de arquitetura do Brasil e do mundo têm orgulho de preservar, usar e transformar seus edifícios, potencializando as relações destes com a cultura local, aqui arriscamos replicar a amnésia histórica que é praticada na cidade. Não demonstramos capacidade para lidar com nossa própria memória de maneira atual e, ao contrário do que pensamos, acabamos sendo nós os anacrônicos, prontos a nos desfazer desse patrimônio na reprodução inconsciente da lógica do descartável. No edifício da Escola de Arquitetura e Urbanismo, e agora também de Design, projetado por seus próprios alunos egressos no final dos anos 1940, dezenas de gerações de arquitetos tiveram o privilégio de se formar dentro de importante exemplar do modernismo em Belo Horizonte, que agora planejamos condenar ao esquecimento.

A preservação de um bem está relacionada ao seu uso. Edifícios que outrora abrigaram escolas da UFMG  hoje estão vazios, em plena degradação e deixando de cumprir sua função social no meio da cidade. Abandonar a atual Escola em busca do “novo” é incorrer no mesmo erro que aqui se comete desde Aarão Reis, que resultou em uma cidade de 115 anos que já está na sua quarta geração de edifícios em um mesmo lote. O limite dessa patologia histórica que acomete os belo horizontinos é o saudosismo, pois é preciso abraçar impensadamente o “novo” e a “modernidade” mas fingir, mineiramente, ter um pé na tradição. A solução parece ser coletar fotografias históricas e emocionantes de um passado saudoso no edifício da Rua Paraíba e montar, no novo prédio, um mural de boas vindas ao futuro.
2. Esvaziamento e gentrificação
A indução de novos vetores radiocêntricos de crescimento e o modelo de desenvolvimento urbano em curso em Belo Horizonte produzem equívocos clamorosos e impactos gritantes na vida de milhares de pessoas. A expansão rumo ao Sul devastou e privatizou a mata atlântica remanescente e o ímpeto de colonização do Norte expulsa populações tradicionais, legitima o modelo rodoviarista e ameaça o complexo de grutas e formações geológicas, patrimônio cultural e ambiental. O processo acelerado de gentrificação em atividade nos bairros Funcionários e Savassi expulsa antigos moradores, práticas comerciais e sociais para dar lugar aos novos consumidores do luxo. O esvaziamento da Escola e seu deslocamento do Funcionários, além de desarticular uma rede de comércios, serviços, redes de encontros e possibilidades que, certamente, não serão encontrados no Campus da Pampulha, reitera a aderência acrítica das escolas de arquitetura e dos arquitetos e urbanistas com a modernização conservadora, elitista e excludente conduzida pelas recentes administrações do Município e do Estado.

Estar no Centro é hoje, mais do que nunca, uma afirmação da cidade como espaço democrático e privilegiado da festa, da política, da tolerância e da vivacidade. E se é consenso que habitar as áreas centrais, coalhadas de imóveis vazios ou subutilizados, é a melhor solução para reverter o processo histórico de degradação urbana e exclusão social, como podemos deixar para trás milhares de metros quadrados públicos sem nenhum constrangimento?