domingo, 22 de abril de 2012

CRÍTICA DA ÓPERA " PIEDADE" - SOPRANO ARGENTINA PAULA ALMENARES ENCANTA É



Noite de estreia mundial da ópera "Piedade" em quatro cenas de João Guilherme Ripper( música e libreto) no Viva Rio no Rio de Janeiro, 21/04/2012.O tema é a relação de Dilermando de Assis com Anna da Cunha esposa do escritor Euclides da Cunha, autor de "Os Sertões" (1902) culminando com a morte de Euclides assassinado por Dilermano no bairro da piedade no Rio de Janeiro. Segundo o compositor e autor do libreto "a ópera não se dispõe a apresentar um exato documentário sobre o fato e sim uma produção artística na qual música e poesia se conduzem os episódios mais relevantes até sua pesarosa conclusão." Vale lembrar que a lembrança desse drama é constante na história do Brasil, fruto de pesquisas, controvérsias e polêmicas. Recentemente, a historiadora Mary del Priore publicou o primoroso e elucidativo livro " Matar Para Não Morrer", best best-seller que aborda essa tragédia, editora objetiva,Rio, Rj, 2009.  
 O espaço não adequado do "Viva Rio",improvisado mediante à interdição do Thetro Municipal do Rio de Janeiro e a encenação desprovida de cenário( uma cama, totalmente desnecessária), tendo como suporte só o figurino, sem dúvida foi extremamente prejudicial ao espetáculo. No Elenco Paula Almenares, soprano argentina(Anna Cunha)foi a grande referência do espetáculo.Presença solicitada nos mais respeitáveis teatros líricos, Almenares cativou pelo seu timbre, volume, interpretação e  dicção perfeita da língua portuguesa(dialeto brasileiro). Seu personagem, Anna, foi o destaque na ópera " Piedade" coube a bela soprano no último ato exibir seus predicados como diva : marcante, fluiu com um tour de coloraturas e dramaticidade impares, aliais nessa récita somente foi perceptível e comovente as suas árias, as demais se perderam,inclusive os duetos. A soprano argentina foi, também o destaque em "Lúcia di Lammermoor", Donizetti, em 2011 no Theatro Municipal do Rio de Janeiro. O público operístico torce por tê-la sempre atuando no Brasil. Homero Velho, barítono brasileiro, desenvolveu seu personagem (Euclides da Cunha) com clareza, impondo a sua voz timbres claros sem dificuldades nas notas mais graves, à principio as mais desafiadoras notas, principalmente em relação a língua portuguesa dotada de vocábulos tônicos. O Tenor Marcos Paulo, não foi feliz nessa récita, sua voz com pouco volume e um timbre limitado no cromatismo, sua atuação como o jovem e apaixonado. O dueto onde Euclides e Dilermando  se encontram pela primeira vez não atinge o ápice em mostrar o escritor e o defensor das nossas fronteiras,homem  amadurecido com o jovem militar.Dilermando não convenceu. Na ária de amor para Anna em meio aos confrontos da paixão não acompanhou o clímax da trama. A ausência do coro em "Piedade" fez falta, pois é um instrumento de apoio, fundamental para reiterar e dar ênfase à história e permitir maior aproximação com o público em relação ao tempo, os estágios e a atmosfera da ópera. O fato de "Piedade" ter somente três personagens  tornam as sequências  rápidas, foi assim nessa montagem, mesmo com a intervenção do violão que tende a ser entremeio e até o prelúdio, porém não fez o elo desejado à continuidade da ópera. Paulo Pedrossoli Jr (violão) foi perfeito e a música é pertinente com a proposta do compositor, adota o lirismo e a poesia literária(legendada) no percurso da ópera. A regência de Isaac Karabtchevsky foi perfeita e a Orquestra Petrobras Sinfônica correspondeu com mestria sua perfomace. A obra de Ripper, musicalmente  é bem realizada, aponta um tratamento contínuo musical que não se perde. É sintético e analítico em mostrar um tonalismo condizente com a sua proposta, escapa, contudo um realismos mais condizente com a história dos amantes. Aguardamos vê-la montada adequadamente.
 Vicente de Percia
Member da Associação brasileira e internacional de críticos de arte e da Bow Art international