quarta-feira, 19 de setembro de 2012

30ª Bienal de São Paulo – Dialoga com o Público



                                                                                   Vicente de Percia
A qualidade não deve ser medida pela quantidade.  Com menos participantes e respectivamente, um número menor de obras a 30ª Bienal de São Paulo é o evento de maior referência nas artes plásticas no Brasil. Quer queiram ou não. Essa edição surge com mais coerência e metodológica perante o público e busca recompor o equilíbrio perdido nas últimas edições. De certa forma contestada sobreviveu aos erros, principalmente induzido pelo diletantismo dos seus curadores e gestores.
 São 111 artistas vindos de 33 países diferentes, do total, 23 são brasileiros. Arthur Bispo do Rosário, Brasil, viveu recluso por meio século em um hospital e é um deles. Apresenta quase que uma retrospectiva das suas tarefas artísticas e é o mais visitado nessa Bienal.
A pintura, desenho, gravura, fotografia, vídeos, apenas depoimentos, anotações, autorretratos etc... preenchem o Pavilhão da Bienal, no Parque do Ibirapuera em São Paulo e ficará até o dia 12 de dezembro de 2012. O conjunto da mostra erradica, em boa parte, qualquer tipo de parcialidade da curadoria e atende a um método para compreender o artista na sua individualidade o que possibilita assistir inúmeros tipos de concepções, observar os meios materiais e instrumentos diversos.
O curador, o venezuelano, Luis Pérez Oramas estabelece uma divisão de cinco módulos para a 30ª Bienal; fomenta uma estratégia motivadora em ver e transitar pelo espaço da Bienal; evita as lacunas; os espaços vazios das outras temporadas; descarta o amontoado de informações; insere uma estratégia logística e de marketing, comete seus erros na escolha dos vídeos de artistas de caráter subjetivo e “aparentemente” coloquial. Oramas Optou, em reunir pluralidades estéticas para marcar, não com tanta ênfase, a “contemporaneidade” tão exigida do circuito para esse tipo de mostra.
 Nessa Bienal o individual do artista dialoga com a sociedade, suas diversidades e semelhanças revelam aspectos dos embates, transições, semelhanças poéticas, impactos, escalas cromáticas, arquétipos, tabelas existentes. O senso-crítico desperta segmentos dionisíaco e apolíneo da existência humana.  A montagem uma das melhores já vistas de Martim Corrullon contribui e facilita a visita dos presentes no pavilhão criado pelo arquiteto Oscar Niemeyer.
Sobrevivências, Alterformas, Derivas, Vozes, Reverso, são os títulos de cada um dos módulos que da forma ao nome oficial da bienal: “A IMINÊNCIA DAS POÉTICAS”. O primeiro: faz analogias entre contemporâneo e obras assinaladas; o segundo: indaga a própria arte e suas deformações; o terceiro: são as propostas marginais; quarto: aponta as multiplicidades; o quinto: tenta dialogar com as mostras paralelas que se sucedem em outros espaços fora da bienal.  
As obras expostas, a maior parte, foram feitas para essa Bienal, ou comissionadas especialmente para a exposição.  A investigação da produção cultural brasileira é sem dúvida um dos alicerces dos primórdios da Bienal, e a sua relação com o contexto internacional se presentifica desde a sua primeira edição, em 1951. O objetivo da Bienal internacional de São Paulo sempre teve desafios, desde a catalisação de recursos econômicos quanto aos “interesses” do circuito das artes, o que não descarta: Galerias, marchand, curadorias e as múltiplas influências coercitivas negativas. Aprofundar uma avaliação sobre sua trajetória requer à necessidade de avaliar as experiências passadas e, também, os deslizes que não contribuíram para uma base sólida desejada, ou seja, fortalecer uma entidade de interesse coletivo com compromissos com a arte e a formação e esclarecimento de opiniões.