quinta-feira, 28 de outubro de 2010

ANGÚSTIA

Nas calçadas repletas de gente o isolamento.
Nesta noite a analogia do negrume
cobre os miolos e o ego.

Há pouco colocava Ketchup
e mostarda no cachorro quente,
tomava coca-cola.

Subidamente as mãos ficaram úmidas
debruçadas nos teus cabelos distantes,
desfalecendo no vazio
no silêncio precipitado que corrói: a cabeça, as artérias,
o estomago.

No reflexo somente a consciência
unia o chão a matéria.
Despia a alma duvidosa.
incendiando a inquisição...
Mostrando este poema louco,
vertiginoso,
sem sons,
atritante nos ossos.

Dissolvia o tempo para o último encontro,
apontando todos os fortíssimos erros;
impondo segundo a segundo
com golpes fundos
o prenúncio da derrota,
o mistério de chorar.
Vicente de Percia
- “Brasil da Silva: Mistério de Chorar, Edit/ Achiamé, Rio de Janeiro, 1ª edição 1982

sexta-feira, 15 de outubro de 2010

PRECONCEITOS QUE DESAFIAM A ARTE- PARTE DO ENSAIO DO CRÍTICO VICENTE DE PERCIA


Um dos fatores que levam à distorção em relação à obra de arte é o preconceito motivado pelo “novo” e a indução às opiniões contraria a certas obras, principalmente por elas serem de agrado do grande publico. Existe uma irritabilidade por parte de alguns “intelectuais” de que quando o hermetismo está ausente e a informação é captada com facilidade ela não possua conteúdo preciso. Como se a arte não pudesse evoluir presa as linguagens de “fácil” compreensão. A razão disto está na rejeição aos chamados materiais, instrumentos e suportes tradicionais em função de outros mais modernos vindos com o desenvolvimento da tecnologia.
O artista iniciante na sua grande maioria busca o sucesso rápido e com isto não pretende em hipótese alguma passar por estágios necessários para compreender a extensão da arte e familiariza-se com seus múltiplos exercícios. Um dos fatores que proporciona esta postura são os processos subjetivos adotados atualmente inclusive pelo mercado. Nada mais cômodo que esquecer as qualidades e voltar-se para uma linguagem sem profundidade, descartável. Esta permissão surge mediante a um consentimento crítico que não desenvolve uma análise mais profunda acerca da tarefa artística, ora do momento em que há uma mostra, ou seja, o trabalho é exposto deve haver opiniões independes dos erros e acertos.
A criação, certamente utiliza-se de processos objetivo-subjetivo do artista e tem como fonte para o seu processo de linguagem além da ideia que complementa o pensamento um aprendizado e tentativas criativas que podem ser mais complexas. Cabe, pois avaliar coerentemente os estágios que possam trazer à tona tônicas que sirvam para avaliar a criação. Estas fases são múltiplas, intermináveis e fazem parte de um mergulho na busca e sedimentação de identidades que completem o avanço da qualidade e o embasamento estético visual.
Vicente de Percia

quarta-feira, 13 de outubro de 2010

VIRUS, VRMES E COMUNICAÇAO



Por Muniz Sodré
Em sua coluna semanal (O Globo, 22/9), o poeta e ensaísta Francisco Bosco vale-se da hipótese da "compulsão à emissão", formulada pelo crítico alemão Christoph Türcke, para falar do horror ao vazio que assaltaria a sociedade contemporânea, levando-a a manter-se ocupada o tempo todo em torno de e-mails, Facebook, Orkut, Twitter etc. Aliás, daí surge aos poucos uma curiosa linguagem: o verbo "tuitar", por exemplo. Até mesmo Barack Obama, dizem, tuíta. O comentário da coluna coincidiu com a notícia, no mesmo dia, do ataque de hackers ao Twitter. Segundo a imprensa, durante horas uma enxurrada de mensagens se espalhou pelo Twitter com piadas, pornografia e vermes. Até então se falava de vírus, mas estes, ao que consta, são programas com um número adequado de instruções transgressivas. O verme é uma inovação em matéria de software transgressor, uma vez que realiza com poucos signos a sua tarefa de violação do campo comunicativo alheio. E mais: o verme desencadearia por "conta própria" efeitos suplementares, atinentes à lógica interna da máquina e de sua linguagem. Estes dois tópicos, se bem examinados, podem lançar alguma luz sobre as relações entre a atualidade política e o espaço público brasileiro, no quadro das discussões sobre mídia e opinião pública. A primeira coisa a se sublinhar é que o desenvolvimento das democráticas ferramentas de comunicação – dentro da dinâmica de convergência entre as telecomunicações, a informática e o audiovisual – em nada democratizou a natureza oligopolística do império transnacional das tecnologias de informação e comunicação. Cerca de uma dezena de gigantes da multimídia controlam em torno de 90% dos mercados midiáticos mundiais, em termos de equipamentos, redes e conteúdos. A hipótese de mediações culturais Isso não é nenhuma novidade. Em torno dessa realidade oligopolística, giraram ao longo do último terço do século passado as críticas dirigidas pelos "pós-modernistas" à mídia ou ao que se vem chamando de "sociedade do espetáculo". Este prisma analítico, popularizado no meio acadêmico pelo teórico francês Guy Debord, é matéria corrente em teses, conferências e livros.
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Movido pelas concepções frankfurtianas no sentido de uma sociedade regida pela "administração total", Debord fez do espetáculo o conceito unificador de uma enorme variedade de fenômenos, sob a égide do turbo-capitalismo ou da sociedade de
mercado global. De um lado, havia o momento histórico em que o consumo parecia atingir a ocupação total da vida social; de outro, a evidência da exploração psíquica do indivíduo pelo capital. O espetáculo impunha-se, assim como uma verdadeira relação social, em meio à qual emergia a imagem como uma espécie de forma final da mercadoria, reorientando as percepções e as sensações. Entretanto, com o desenvolvimento da comunicação eletrônica e o advento das chamadas "redes sociais" na internet, torna-se necessário revisar alguns aspectos dessa teoria do espetáculo porque esta supõe um espaço público unificado e "culturalizado" pela mídia. Não que tenha desaparecido o fascínio do espetáculo, que deu lugar, num determinado instante, a uma hierarquia classificatória da cultura (elitista, intermediária, popular) e à hipótese de mediações culturais.