segunda-feira, 31 de outubro de 2011

CONTRA O CAPITALISMO BAUMAN CONVOCA O IMAGINÁRIO

Por Zygmunt Bauman Tradução: Daniela Frabasile Imagem: René Magritte: Falso Espelho, 1935 (detalhe)
As notícias sobre a morte do capitalismo são, parafraseando Mark Twain1, um pouco exageradas. A capacidade surpreendente de ressurreição e regeneração é inerente ao capitalismo. Uma capacidade parecida com a dos parasitas – organismos que se alimentam de outros organismos, estando agregados a outras espécies. Depois de exaurir completa ou quase completamente um organismo hospedeiro, o parasita normalmente procura outro, que o nutra por mais algum tempo.
Há cem anos, Rosa Luxemburgo compreendeu o segredo da misteriosa habilidade do sistema em ressurgir das cinzas repetidamente, assim como uma fênix; uma habilidade que deixa atrás de si traços de devastação – a história do capitalismo é marcada pelos túmulos de organismos que tiveram suas vidas sugadas até a exaustão. Luxemburgo, no entanto, restringiu o conjunto dos organismos que aguardavam em fila, esperando a conhecida visita do parasita, às “economias pré-capitalistas”, cujo número era limitado e em constante regressão, sob o impacto da expansão imperialista.
A cada visita sucessiva, outra terra “intocada” era convertida em campo de pastagem para a exploração capitalista. Portanto, mais cedo ou mais tarde, não serviriam mais às necessidades da “reprodução ampliada” do sistema, já que não ofereceriam os lucros que tal expansão requeria. Pensando por essa trilha (um viés completamente compreensível, dado que a expansão há cem anos era principalmente territorial, mais extensiva que intensiva, mais lateral que vertical), Luxemburgo só poderia antecipar os limites naturais da duração concebível do sistema capitalista. Uma vez que todas as terras “intocadas” do globo fossem conquistadas e integradas à máquina de reciclagem capitalista, a ausência de novas terras de exploração iria forçar, ao fim, o colapso do sistema. O parasita morre, quando faltam organismos vivos de onde possa retirar alimento.
Hoje o capitalismo já atingiu uma dimensão global, ou está muito próximo disso – um cenário que Luxemburgo via em horizonte distante. Sua previsão estará a ponto de se concretizar? Penso que não. Nos últimos 50 anos, o capitalismo aprendeu a inimaginável e desconhecida arte de criar novas “terras intocadas”, em vez de se limitar às já existentes. Essa nova arte tornou-se possível porque o sistema viveu uma transição. A “sociedade de produtores” converteu-se numa “sociedade de consumidores”. E a fonte principal da “agregação de valor” já não está na relação capital-trabalho, mas na que há entre mercadoria e cliente. Lucro e acumulação baseiam-se principalmente na progressiva mercantilização das funções da vida; na mediação, pelo mercado, da satisfação de necessidades sucessivas; na substituição do desejo pela necessidade, como engrenagem principal da economia voltada para o lucro.
A crise atual deriva da exaustão de uma dessas “terras intocadas” criadas artificialmente. Milhões que pessoas foram obrigadas a abandonar a “cultura dos cartões de crédito” para se dedicar à “cultura das planilhas de gastos”. Por algum tempo, elas foram estimuladas a gastar o dinheiro que ainda não haviam ganhado, vivendo com crédito, falando de empréstimos e pagando juros. A exploração dessa “terra intocada” particular está, em linhas gerais, acabada. O sistema entregou para os políticos a tarefa de limpar os detritos deixados pela farra dos banqueiros. É algo que entrou na lista dos “problemas políticos”: passou de “problema econômico” para (citando a chanceler alemã, Angela Merkel) algo dependente de “vontade política”. Mas alguém poderia duvidar que estão em construção novas “terras intocadas” – as quais também terão vida bastante limitada, dada a natureza parasítica do capitalismo?
O sistema funciona por um processo contínuo de destruição criativa. O que se cria é capitalismo numa “fórmula nova e melhorada”; o que se destrói é a capacidade de auto-sustentação e vida digna nos inúmeros “organismos hospedeiros” para os quais todos somos atraídos e ou seduzidos, de uma maneira ou de outra. Suspeito que um dos recursos cruciais do capitalismo deriva do fato de que a imaginação dos economistas – incluindo os que o criticam – está muito atrasada em relação à sua invenção, a arbitrariedade do seu procedimento e crueldade com que opera

sexta-feira, 21 de outubro de 2011

CRAZY HORSE

Após filmar o balé de Paris e uma academia de boxe nos Estados Unidos, Crazy Horse (2011) é a terceira vez seguida em que o documentarista Frederick Wiseman se aventura pelas imagens de corpos, de treinos e de preparação física. Existe entretanto uma grande diferença entre o cabaré parisiense e as duas instituições anteriores: enquanto estas eram baseadas numa rotina de coreografias precisas e repetidas, Crazy Horse mergulha a câmera num verdadeiro caos “artístico”.
Isso porque o balé é baseado numa disciplina determinada, em movimentos conhecidos dentro de uma certa paleta. O mesmo vale para o boxe e sua coleção limitada de golpes e saltos. De certo modo, o diretor sabia onde poderia encontrar seus movimentos, e posicionava a câmera no ponto esperado. No entanto, no caso do “maior cabaré de nus do mundo”, como o Crazy Horse se autointitula, Wiseman fica visivelmente perdido: nada é preciso, o próprio local quer renovar suas apresentações, a noção de criação e de performance é diretamente confrontada ao caráter volúvel dos artistas presentes.
Em outras palavras, enquanto o balé e o boxe apareciam como “categorias profissionais” muito bem definidas, com rotinas e gestões enquadradas, a dança de nus pode ser determinada de diversas maneiras. O documentário flagra a época em que um grande coreógrafo, histriônico e arrogante como poucos, assume a direção de um novo espetáculo, Désirs (“Desejos”). É deste homem que vêm a maioria das pérolas desta “profissão artística”, ideia eternamente vaga entre os sociólogos, principalmente porque a maioria dos artistas recusa a perceber seu trabalho como uma profissão qualquer. “Desculpem, mais eu não posso ser genial todas as manhãs, eu dependo da inspiração”, ele diz, ou ainda “Eu atraso mesmo, não se pode impor uma data à criação, o que estamos fazendo aqui é arte!”.
Ou seja, a arte pode vir e voltar, aparecer e sumir, estando sempre submetida às sensações e à boa vontade do coreógrafo. Apesar de seu evidente conhecimento técnico de dança, seus julgamentos e escolhas parecem todos baseados na emoção, na percepção não justificada: “Acho que ainda falta alguma coisa”, “Talvez a luz azul traga algo a mais a este número”. Diante da incapacidade de contestar (afinal, como se argumentar logicamente com quem não usa a lógica?), as meninas obedecem, e os produtores empurram a data do lançamento, preocupados entretanto em tornar o espetáculo o mais rentável possível.
Enquanto Wiseman filma centenas de seios, bundas, contorcionismos, sombras e reflexos de toda a natureza, o espetáculo vai se criando, tentando conceder às sensibilidades de todos os envolvidos. O mais interessante é ver o tal coreógrafo protestar quando descobre que os técnicos do local não possuem hierarquia entre eles, trabalhando de modo comunitário. “Mas se algo dá errado, a quem eu posso reclamar?”, ele protesta. Esta é uma das cenas mais clássicas no que se diz respeito à ideia de profissão, de hierarquia e de poder envolvida no trabalho artístico.
Wiseman filma as disputas de poder com o mesmo fascínio que mostra as curvas femininas, enquanto o tal desejo se torna cada vez mais distante quando dissecado desta maneira, revelando cada peça de seu mecanismo interno, sem fetiche nem idealização. Muitos críticos reclamaram que Crazy Horse é um filme muito menos preciso do que os antecedentes – em especial a toda-poderosa Cahiers du Cinéma. Talvez isso represente a surpresa real deste diretor, metódico e tranquilo, diante do caos de egos imensos, luzes, seios, brilhantes, sexos, de um excesso muito kitsch e que se leva a sério até demais.

segunda-feira, 17 de outubro de 2011

PINTURAS POLONEZAS ROUBADAS SÃO RECUPERADAS




Pinturas polonesas roubadas pelos nazistas retornam a Varsóvia. Foto: " A Caçada" de Falat.
Obras de Julian Falat foram apreendidas mês passado pelo governo americano
Duas pinturas roubadas da Polônia durante a II Guerra e confiscadas pelas autoridades dos Estados Unidos no ano passado foram restituídas hoje para o Museu Nacional em Varsóvia. – Tenho o prazer de dizer hoje que as telas estão de volta ao lugar de onde foram tiradas há mais de mais de 60 anos – disse o ministro da Cultura polonês, Bogdan Zdrojewski, durante a cerimônia de entrega das pinturas à diretora do museu, Agnieszka Morawinska.As telas restituídas – a aquarela Partida para a caçada e a pintura a óleo A Caçada – são do artista polonês Julian Falat, artista do século 19 conhecido por suas cenas de caçadas e pinturas de amplas paisagens. Os americanos entregaram os quadros às autoridades poloneses no mês passado, em Nova York.
A Polícia de Imigração e Alfândega (ICE) americana apreendeu as telas em 2006, depois de uma denúncia de que elas estavam prestes a ser leiloadas em Nova York. As pinturas haviam desaparecido em 1944, supostamente roubadas pelos nazistas, que arrasaram Varsóvia depois do fracasso de uma insurreição.
Na Polónia, Partida para a Caçada foi colocado de volta em sua moldura dourada original, abandonada após o roubo
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sexta-feira, 14 de outubro de 2011

FESTA PARA O CRISTO REDENTOR - RIO DE JANEIRO,BRASIL

RIO - Depois de nove anos de pesquisa, dois documentários e uma exposição, a cineasta Bel Noronha vai lançar um livro recontando a história da construção do Cristo Redentor. Bisneta do autor do projeto e construtor do monumento, Heitor da Silva Costa, Bel juntou textos, documentos e fotos para narrar em "Redentor -de braços abertos" os detalhes e todas as etapas da obra para erguer a estátua, no alto do Corcovado.
O livro, com texto de Lilian Fontes, será lançado em dezembro pela editora Réptil. Terá formado quadrado e 272 páginas. A programação visual leva a assinatura de Felipe Taborda.
Ainda em dezembro, a cineasta vai fazer uma exposição sobre o Cristo Redentor, no Forte de Copacabana. A exposição será inaugurada em 8 de outubro, dia da Imaculada Conceição. A data foi escolhida com um objetivo especial: lembrar o padre lazarista francês Jean Marie Boss, que chegou ao Rio em 1859 e foi o o primeiro a lançar a ideia de erguer um monumento a Cristo no Corcovado. Capelão do Colégio da Imaculada Conceição, em Botafogo, na época ele chegou a levar a sugestão à Princesa Isabel. Mas morreu em 1916 sem ver concretizado o seu sonho, que foi traduzido num poema, 13 anos antes: "Oh Corcovado! Lá se ergue o gigante de pedra, alcantilado, altaneiro e triste, como interrogando o horizonte imenso... Quando virá?... Há quantos séculos espero!... Sim, aqui está o pedestal único no mundo! Quando virá a estátua, como eu colossal, imagem de quem me fez?".

terça-feira, 11 de outubro de 2011

FOTO LESMA LEOPARDO


Museu de História Natural britânico promove 'caça a invertebrados'
Campanha faz parte de um projeto de investigação sobre a situação dos insetos e moluscos no país.
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O projeto Laboratórios a Céu Aberto, do Museu de História Natural britânico, está encorajando os cidadãos a fazerem expedições para caçar insetos e moluscos.
A lesma-leopardo é um dos animais cuja observação é recomendada pelo museu
As caçadas não são predatórias, mas deverão contribuir para um levantamento sobre o estado dos animais invertebrados na Grã-Bretanha.
Mais de 500 mil lesmas, caracóis, aranhas e besouros já foram encontrados e catalogados, mas os organizadores do projeto pedem um último impulso nas buscas antes do inverno.
Segundo a pesquisadora Lucy Carter, do Museu de História Natural, a caçada também inclui missões específicas, como a observação de seis animais considerados mais importantes.
Um deles é a lesma-leopardo, uma das maiores do país, que pode chegar a ter 16 centímetros de tamanho.
Para estimular o interesse das pessoas, o museu criou um guia gratuito e um aplicativo para telefones celulares que ajuda a identificar os insetos encontrados

ART POP

Pode se dizer, que a Art Pop foi a pioneira expressão artística do pós-moderno., A Pop, que nasce na Inglaterra mas ganha força em Nova Iorque, ironiza os ícones do consumismo que a sociedade idolatra, ao mesmo tempo, luta contra o subjetivismo e o hermetismo modernos. Ela emerge com a explosão das comunicações de massa com linguagem assimilável pelo público de signos e de objetos de massa, utilizando um hiper-realismo ao copiar em tinta acrílica, serigrafia, ready made e assemblage a vida diretamente em seus objetos do cotidiano. Finalmente, a Pop esgota os “ismos” e os códigos estéticos do modernismo, pondo fim à beleza como valor supremo da arte.

DAS REVOLTAS A UMA NOVA POLÍTICA

Por Toni Negri e Michael Hardt Tradução: Daniela Frabasile



Os acontecimentos políticos no mundo hispânico, tanto na América do Sul quanto na Península Ibérica, estão entre os mais inspiradores e inovadores da última década. Por meio de revoltas, de insurreições, da derrubada dos governos neoliberais, da eleição de governos reformistas progressistas, dos protestos contra a política de governos supostamente progressistas e outras ações, expressou-se um espírito indignado e rebelde através de inúmeras experiências sociais e políticas.
Uma série de datas e lugares serve como imagem de lutas contínuas e prolongadas, desde o 1º de janeiro de 1994, em Chiapas, ao 8 de abril de 2000, em Cochabamba, o 19 e 20 de dezembro de 2001, em Buenos Aires, e, mais recentemente, o 15 de maio de 2011, em Puerta del Sol, Madri. Acompanhamos essas histórias, aprendemos com elas e as utilizamos como guia durante a escritura deste livro e depois de sua publicação.
Um dos argumentos de Commonwealth — El proyecto de una revolución del común, que encontra uma forte ressonância com essas lutas, identifica como fonte central do antagonismo a insuficiência das constituições republicanas modernas, particularmente de seus regimes de trabalho, propriedade e representação.
Em primeiro lugar, nossas constituições enxergam o trabalho como chave para o acesso à renda e aos direitos básicos de cidadania, uma relação que durante muito tempo funcionou mal para quem estava fora do mercado de trabalho formal, incluindo os pobres, os desempregados, as mulheres que trabalham sem salário, os imigrantes e outros. Hoje, porém, o trabalho é cada vez mais precário e inseguro, em todas suas modalidades. Naturalmente, o trabalho continua sendo a fonte da riqueza na sociedade capitalista, mas cada vez mais fora da relação com o capital e, geralmente, fora de uma relação salarial estável. Portanto, nossa constituição social continua requerendo o trabalho assalariado para possibilitar ao cidadão plenos direitos e acesso a uma sociedade na qual esse tipo de trabalho está cada vez menos disponível.

domingo, 9 de outubro de 2011

COMUNICADO E EXPRESSIVIDADE

Morreu Dulce d’Agro, a galerista da "loucura-amor" à arte moderna
Faleceu Dulce d'Agro, fundadora da Galeria Quadrum, em Lisboa. Sob a direcção da artista e coleccionadora, este espaço destacou-se como “um projecto de vanguarda durante as décadas de 1970, 80 e princípios dos anos 90”, anuncia uma nota à imprensa da galeria Cristina Guerra Contemporary Art.

Justificar

CRISE CRISE CRISE CRISE CRISE

Alemanha e França estão divididas antes das conversações importantes de domingo, sobre como fortalecer os instáveis bancos europeus. Paris está ansiosa para recorrer aos 400 bilhões do fundo de resgate da zona do euro, o EFSF, para recapitalizar seus próprios bancos e Berlim insiste que o fundo deve ser utilizado como último recurso.
O FMI já disse que os bancos europeus precisam de fundos adicionais de 200 bilhões de euros.
"Acho que há um consenso de que ele será bem acima de 100 bilhões de euros," disse aos repórteres, Michael Noonan, do lado de fora de um fórum econômico em Dublin.
"Sei que alguns dos grandes bancos alemães, com quem eu estava falando pessoalmente, pretendem levantar dinheiro no mercado, portanto serão financiamentos privados. Outros bancos gostariam de se beneficiar do fundo EFSF. Outros bancos vão contar com seus governos, para fornecer o capital, portanto vai haver uma série da maneiras de fazê-lo." "Acho que o princípio deveria ser que os governos são responsáveis pelo seu sistema bancário, de acordo com o Conselho do Banco Central Europeu."