domingo, 3 de julho de 2011

POEMA DE VICENTE DE PERCIA

COMUNGANDO

Joguei olhares vazios àquela região de vida inóspita.


Atravessada por um único caminho,


Ladeada de rochas.



Toda aquela matéria: estéril, tortuosa,bruta,


Diminuía minha estrutura.




Bastava um olhar longínquo,


para me transformar em pedra.



Eram perguntas –


pois sabia que não via o que via


no começo do caminho –




O corpo se juntou à terra



complacente de seu dever.



No horizonte eu era um todo.





II



Verdes encostas que sustentam cores no íntimo do homem,


Elevam lembranças a esse espaço compacto,


Aguçando a mente.




Geme o boi no cheiro da mata.


No sucesso exato,


enriquecendo cofres com seu sacrifício.





Esconde-se a caça entre as moitas de espinhos longos,


Seus pequenos ninhos;


Bons divertimentos para os cães fiéis.



Foge a trilha das encostas passos indicando a direção,


onde o canto existe.


Sob um teto quente resvala a chuva sem obstrução.





III



Molhei os pés nas areias quentes que rodeavam o rio.


Toquei nos grãos amarelados que cobriam a terra.



Pedaços de tempo


deixei escapar por entre dedos ágeis


que sustinham matéria,


outrora homogênea.





Sequei meu corpo no firmamento,


compacto fiquei .




Quebrei raios de sol,


estilhaços lancei.



Imergi na nova terra



Do livro: “Brasil da Silva:Mistérios de Chorar”,de Vicente de Percia, Edit/ Achiamé, Rio de Janeiro, 1ª edição, 1982. Prefácio de Antônio Carlos Vilaça: introdução de Dalma Braune Portugal do Nascimento; orelha: José Carlos Gondim; conta capa: Rose Marie Muraro.

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