quinta-feira, 29 de março de 2012

CRÍTICA DA ÓPERA "LA TRAVIATA" DE VERDI TEMPORADA 2012, SÃO PAULO, BRASIL


Talvez, mais popular das óperas, preferida tanto pelos aficionados  do bel canto como pelo público em geral “La Traviata” de Verdi estreou dia 22 de março iniciando a temporada de 2012 no Theatro Municipal de São Paulo. A história se passa em Paris e seus arredores por volta de 1850. A heroína de Alexandre Dumas Marquerite Gouttier e o personagem Violleta na ópera. Sopranos celebres como Bidu Sayão, Maria Callas, Renata Tebaldi, Joan Suterland, Angela Gheorghiu  entre poucas plantaram suas almas de grandes divas com essa peça. O prelúdio estabelece o clima da ópera e ele é vital para preparar o público para as nuances de extrema sensibilidade associada à paixão, amor e morte. São três atos que montam estágios distintos desde o virtuosi da soprano coloratura no 1º ato na extraordinária ária “Sempre Libera’ até a força dramática do II e III ato. “ La Traviata” oferece tanto ao soprano( Violleta); tenor(Alfredo); Barítono( Giorgio Germont) desempenhos como sucessos e fracassos. Uma coisa é necessário na ópera: voz, voz e voz.

No espetáculo do dia 22 e 24 Irina Dubrovskaya, soprano russa, desempenhou Violletta com primor e segurança mostrou seus dotes de diva com sua belíssima voz e interpretação perfeita, além de ser uma mulher bonita. Surpreendeu no II e III ato por deslocar-se para timbres em que se ressaltam possíveis incisões como meiosso-soprano.  Não é uma Callas,  Saião, e tão  pouco uma Surterland, porém tirou de ambas a sua individualidade, respectivamente como são distintas as Violletas de Maria, Joan, Bidu.
Roberto de Biasio, tenor italiano, como Alfredo desde o I Ato mostrou-se perfeito, “ Un di Felice, etérea”. Sua voz passa todo encantamento do apaixonado, perfeito no volume e em compartilhar de acordo com as cenas as notas musicais para cada momento, os estágios do sofrimento de Alfredo . Uma figura belíssima e um ator na medida certa. 
Paolo Coni, barítono italiano, no II ato na ária “Pura siccome um angelo”, mantém o volume desejado, principalmente nas notas musicais que variam dos graves aos agudos, sua presença é marcante e complementa o trio dessa primorosa montagem.
Magda Painno, meiossoprano brasileira(Flora Bervoix); Sandra Felix, soprano brasileira, (annima);Eduardo Trindade, tenor, paulista, (Gastone Visconte de Letorières); Luiz Orefice, barítono, estavam precisos nos seus personagens e contribuíram no entrosamento dessa récita do dia 24, utilizando as suas vozes e interpretações como Il faul.
Abel Rocha regeu com perfeição a orquestra tendo os seus componentes a altura dos requisitos da partitura. A questão do cenário e figurinos foram prejudiciais à ópera - muitos musicólogos, críticos, cantores e público reafirmam que a chamada contemporaneidade muitas vezes distancia a obra e o clima. Esse tema tem sido debatido com frequência.  “Aconteceu: figurinos frios, sem graça, apáticos ( o figurino não é neutro e chamá-lo de personagem é muita pretensão) um cenário minimalista e monótono,sem dúvida é apenas uma caixa preta.” Libiano ne lieti calici  não foi como deveria ser um convite à bebida e sim um estranhamento percebido pelo público. Daniele Abbado não define as cenas mesmo na sua “modernidade” e desterritoriza sequencias importantes, desnecessária a constante tirada de roupa de Violleta - nessa avalanche da busca o “novo” a iluminação de Valerio Alfieri não se define e prejudica em muito o espectador. No III ato Marcos Carvalho, tenor mineiro, fica plantado mediante sua marcação de costa para o público tapa a imagem de Violleta no momento crucial  de “ Addio del Passato. Pessoas na plateia gritaram saia da frente. A coreografia entra no mesmo clima,ou seja torna a distanciar o público, pretensiosa e as máscaras bestiais  usadas confirma o mesmo erro de confundir a cortesan Violleta com uma prostituta. Ficam  as lembranças e imagens da deslumbrante montagem de Zefirelli no Theatro Municipal do  Rio de Janeiro onde os figurinos e cenários invertem com sapiência a sequência do drama. 
Vicente de Percia      

2 comentários:

Anônimo disse...

Corrigindo:

- Violetta
- Marguerite Gaultier
e Joan SUTHERLAND

Anônimo disse...

Gostei mutito dessa crítica pois coincide com a sensação que a ópera me passou. Achei a parte musical excelente,mas todo resto, principalmente a concepção e direção da parte teatral e os figurinos prejudicaram a ópera intensamente romantica de Verdi. A atual montagem foi bastante infeliz na sua tentativa de atualizar a tocante figura da "transviada".