O início do século XX já imprimia fortes mudanças em todos
os setores da sociedade, inovações constantes colocavam em desuso a maioria dos
objetos, substituindo-os por outros mais arrojados e producentes.
O Homem hipnotizou-se com tal procedimento. Gradativamente,
o ritmo mudou-se para atender às exigências e solicitações do novo cotidiano.
A centralização da população nos grandes centros urbanos, a
partir dos meados dos anos 50 trouxe, pouco a pouco, transformações radicais no
comportamento da massa.Criaram-se oportunidades decorrentes, da mão de
obra industrializada.E a população rural seduziu-se pelo novo Eldorado!
Plantava-se, assim, a semente do neo-social, onde as práticas do trabalho
soavam distantes da realidade e não correspondiam à democracia desejada.
Tais períodos não passam despercebidos nas investigações
plásticas. Sente-se a distância da condição existencial de Cézanne e Van Cogh e
a aproximação de um universo ilimitado, repleto de seduções. Daí surgir a
questão: como se manifestar sem ser engolido por fenômenos que mexem com
descensão de conceitos,sem ser manipulados por “invenções” que surgem a todo
momento sem consistência?
Agora, o século XXI traz bojo etapas difícil de interpretar.
A “pobreza” existe, atingindo inclusive países desenvolvidos, estes são
criadouros dessa arte nada significativa. A globalização aparece como meio, não
conseguindo amenizar problemas suscitados pelo novo capitalismo. No que se
refere à arte, a criação sofre de patologia similar, reivindicando um saber que
despreza o espectador. Esquece-se do núcleo que é público, pois ele
praticamente define a legitimação do fazer. A crise presentifica-se nos
períodos de entremeios, atendendo a fluxos temporários no circuito das Artes.
São improvisações que refletem o momento e, por isso, não devem ser
descartadas, mas longe estão da riqueza da produção artística dos meados do
século XX.
Torna-se assim difícil observar atentamente tendências
coerentes e identificar possibilidades que indiquem uma relação consistente do
Homem com a criatividade. Entre os sintomas da perda de identidade compatível
com a atual proposta política, a arte surge cheia de “explicações”. Há uma
obrigação discursiva para avaliar a criação. O campo das artes plásticas
transforma-se em púlpito, onde o artista surge imbuído da tradição oral.
Em larga escala a preocupação como o domínio e utilização
dos meios instrumentais e do conhecimento da matéria são deixados para trás,
para se criar a configuração discursiva. Trata-se, portanto, da defesa acirrada
da prática artística tentando erguer qualidades abstratas envoltas em
particularidades. A produção artística necessita de animação, é certo, porém, a
arte não pode fugir à arte e, queiram ou não,a tela,com seu suporte
tradicional, continua sendo,também o grande desafio de cada criador.
Vicente de Percia
“O Correio”, Ano VI, Nº 113, Rio de
Janeiro,2000
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