segunda-feira, 2 de novembro de 2015

Como Fazer Arte Sem Ceder aos Modismos


O início do século XX já imprimia fortes mudanças em todos os setores da sociedade, inovações constantes colocavam em desuso a maioria dos objetos, substituindo-os por outros mais arrojados e producentes.
O Homem hipnotizou-se com tal procedimento. Gradativamente, o ritmo mudou-se para atender às exigências e solicitações do novo cotidiano.
A centralização da população nos grandes centros urbanos, a partir dos meados dos anos 50 trouxe, pouco a pouco, transformações radicais no comportamento da massa.Criaram-se oportunidades decorrentes, da mão de obra industrializada.E a população rural  seduziu-se pelo novo Eldorado! Plantava-se, assim, a semente do neo-social, onde as práticas do trabalho soavam distantes da realidade e não correspondiam à democracia desejada.
Tais períodos não passam despercebidos nas investigações plásticas. Sente-se a distância da condição existencial de Cézanne e Van Cogh e a aproximação de um universo ilimitado, repleto de seduções. Daí surgir a questão: como se manifestar sem ser engolido por fenômenos que mexem com descensão de conceitos,sem ser manipulados por “invenções” que surgem a todo momento sem  consistência?
Agora, o século XXI traz bojo etapas difícil de interpretar. A “pobreza” existe, atingindo inclusive países desenvolvidos, estes são criadouros dessa arte nada significativa. A globalização aparece como meio, não conseguindo amenizar problemas suscitados pelo novo capitalismo. No que se refere à arte, a criação sofre de patologia similar, reivindicando um saber que despreza o espectador. Esquece-se do núcleo que é público, pois ele praticamente define a legitimação do fazer. A crise presentifica-se nos períodos de entremeios, atendendo a fluxos temporários no circuito das Artes. São improvisações que refletem o momento e, por isso, não devem ser descartadas, mas longe estão da riqueza da produção artística dos meados do século XX.
Torna-se assim difícil observar atentamente tendências coerentes e identificar possibilidades que indiquem uma relação consistente do Homem com a criatividade. Entre os sintomas da perda de identidade compatível com a atual proposta política, a arte surge cheia de “explicações”. Há uma obrigação discursiva para avaliar a criação. O campo das artes plásticas transforma-se em púlpito, onde o artista surge imbuído da tradição oral.
Em larga escala a preocupação como o domínio e utilização dos meios instrumentais e do conhecimento da matéria são deixados para trás, para se criar a configuração discursiva. Trata-se, portanto, da defesa acirrada da prática artística tentando erguer qualidades abstratas envoltas em particularidades. A produção artística necessita de animação, é certo, porém, a arte não pode fugir à arte e, queiram ou não,a tela,com seu suporte tradicional, continua sendo,também o grande desafio de cada criador.
Vicente de Percia
 “O Correio”, Ano VI, Nº 113, Rio de Janeiro,2000


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