Nos celulares, imagens da metrópole em seu ritmo
Fotógrafo ligado ao projeto SelvaSP propõe novos olhares sobre a cidade e revela que é possível voltar à rua para apreciar potencial sempre presente de beleza urbana
Por Denise Martins, Fotos: Leo Eloy
Hoje parece fácil fotografar a cidade. Mas este gênero, a fotografia urbana, cujo nome mais expoente talvez seja Henri Cartier-Bresson, está cada vez mais difícil de acontecer longe de clichês. Ao mesmo tempo, está cada vez mais fácil de ser realizada, em parte pelo avanço das câmeras de celulares. É a partir desta união – cidade e celular – que encontramos novos olhos neste momento do compartilhamento.
Tal como nômades, os habitantes da cidade deixam seus rastros, hoje construídos digital e visualmente em redes sociais. O desenvolvimento da tecnologia incorpora a mobilidade e a leveza aos olhos do fotógrafo, permite um retrato menos invasivo e maior intimidade com o retratado. Os celulares, mais recentemente, e sites de compartilhamento direto, como o Instagram, proporcionaram o que faltava: o ritmo da cidade às fotografias sobre elas.
Um dos debates dentro da fotografia de cidade trata da relação entre o local que é visto cotidianamente e a reconfiguração estética deste a partir do momento em que é visto através da lente. O reconhecimento pelo espectador do local onde se vive provoca sensações, explicadas pela semiótica, de proximidade e intimidade, reações de engajamento e afeição.
Um exemplo de fotografia feita por celular e de fotógrafo que enxerga as formas, os sentimentos, as cores da cidade e seus habitantes é Leo Eloy. Ele é fotógrafo e músico. Faz parte do projeto SelvaSP (http://selvasp.com/) e é um dos responsáveis pelo aparecimento de um novo olhar sobre a cidade, permeado pela luz e pelos grids de concreto.
Não é tão simples fotografar algo que se vê todo dia. As vivências, as próprias relações construídas pelas leis de consumo, tecnológicas e éticas, a passagem das horas, das esquinas escondidas pelo trânsito e pelos compromissos em atraso… tudo contribui para cegar estes olhos urbanos, por mais atentos e estimulados que sejam.
“O paradoxo entre perambular a esmo e, ao mesmo tempo, estar atento a todas as possibilidades do acaso”, como destaca Eloy em seu texto para o coletivo SelvaSP, é algo recorrente neste gênero fotográfico. É preciso perceber a cidade, voltar para a rua e apreciar o potencial sempre presente de beleza urbana.
O fotógrafo Leo Eloy participou da Semana de Multimeios, num debate sobre “Fotografia, vídeo e evolução”.