Talvez,
mais popular das óperas, preferida tanto pelos aficionados do bel canto como pelo público em
geral “La Traviata” de Verdi estreou dia 22 de março iniciando a temporada de
2012 no Theatro Municipal de São Paulo. A história se passa em Paris e seus
arredores por volta de 1850. A heroína de Alexandre Dumas Marquerite Gouttier e
o personagem Violleta na ópera. Sopranos celebres como Bidu Sayão, Maria
Callas, Renata Tebaldi, Joan Suterland, Angela Gheorghiu entre poucas plantaram suas almas de grandes
divas com essa peça. O prelúdio estabelece o clima da ópera e ele é vital para
preparar o público para as nuances de extrema sensibilidade associada à paixão,
amor e morte. São três atos que montam estágios distintos desde o virtuosi da soprano
coloratura no 1º ato na extraordinária ária “Sempre Libera’ até a força
dramática do II e III ato. “ La Traviata” oferece tanto ao soprano( Violleta);
tenor(Alfredo); Barítono( Giorgio Germont) desempenhos como sucessos e fracassos. Uma
coisa é necessário na ópera: voz, voz e voz.
No
espetáculo do dia 22 e 24 Irina Dubrovskaya, soprano russa, desempenhou
Violletta com primor e segurança mostrou seus dotes de diva com sua belíssima voz
e interpretação perfeita, além de ser uma mulher bonita. Surpreendeu no II e
III ato por deslocar-se para timbres em que se ressaltam possíveis incisões como
meiosso-soprano. Não é uma Callas, Saião, e tão pouco uma Surterland, porém tirou de
ambas a sua individualidade, respectivamente como são distintas as Violletas
de Maria, Joan, Bidu.
Roberto de
Biasio, tenor italiano, como Alfredo desde o I Ato mostrou-se perfeito, “ Un di
Felice, etérea”. Sua voz passa todo encantamento do apaixonado, perfeito no
volume e em compartilhar de acordo com as cenas as notas musicais para cada
momento, os estágios do sofrimento de Alfredo . Uma figura belíssima e um ator na medida certa.
Paolo Coni, barítono
italiano, no II ato na ária “Pura siccome um angelo”, mantém o volume desejado,
principalmente nas notas musicais que variam dos graves aos agudos, sua
presença é marcante e complementa o trio dessa primorosa montagem.
Magda
Painno, meiossoprano brasileira(Flora Bervoix); Sandra Felix, soprano
brasileira, (annima);Eduardo Trindade, tenor, paulista, (Gastone Visconte de
Letorières); Luiz Orefice, barítono, estavam precisos nos seus personagens e contribuíram
no entrosamento dessa récita do dia 24, utilizando as suas vozes e
interpretações como Il faul.
Abel Rocha
regeu com perfeição a orquestra tendo os seus componentes a altura dos
requisitos da partitura. A questão do cenário e figurinos foram prejudiciais à
ópera - muitos musicólogos, críticos, cantores e público reafirmam que a
chamada contemporaneidade muitas vezes distancia a obra e o clima. Esse tema
tem sido debatido com frequência. “Aconteceu:
figurinos frios, sem graça, apáticos ( o figurino não é neutro e chamá-lo de
personagem é muita pretensão) um cenário minimalista e monótono,sem dúvida é
apenas uma caixa preta.” Libiano ne lieti calici não foi como deveria ser um convite à bebida e
sim um estranhamento percebido pelo público. Daniele Abbado não define as cenas
mesmo na sua “modernidade” e desterritoriza sequencias importantes, desnecessária
a constante tirada de roupa de Violleta - nessa avalanche da busca o “novo” a
iluminação de Valerio Alfieri não se define e prejudica em muito o espectador.
No III ato Marcos Carvalho, tenor mineiro, fica plantado mediante sua marcação
de costa para o público tapa a imagem de Violleta no momento crucial de “ Addio del Passato. Pessoas na plateia gritaram
saia da frente. A coreografia entra no mesmo clima,ou seja torna a distanciar o público, pretensiosa e as máscaras bestiais usadas confirma o mesmo erro de confundir a cortesan Violleta com uma prostituta. Ficam as lembranças e imagens da deslumbrante montagem de Zefirelli no Theatro Municipal do Rio de Janeiro onde os figurinos e cenários invertem com sapiência a sequência do drama.
Vicente de Percia
2 comentários:
Corrigindo:
- Violetta
- Marguerite Gaultier
e Joan SUTHERLAND
Gostei mutito dessa crítica pois coincide com a sensação que a ópera me passou. Achei a parte musical excelente,mas todo resto, principalmente a concepção e direção da parte teatral e os figurinos prejudicaram a ópera intensamente romantica de Verdi. A atual montagem foi bastante infeliz na sua tentativa de atualizar a tocante figura da "transviada".
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