O fantástico fica por conta da proporção. O painel traz em seu centro uma criança gigante – saída dos filmes de ficção, memória do interventor. Sentada de costas para o seu foco de brincadeira-destruição, o Grajaú, ela simplesmente está ali, como se não se importasse para o que está atrás de si. Não está para destruir, mas não se preocupará em fazê-lo, caso a interação da brincadeira caminhar para isso. Ao mesmo tempo, está sentada de frente para todas as janelas vizinhas, numa posição de abertura despreocupada, quase que inconsequente, aos olhares espectadores. Mas quem conseguir julgar, que atire a primeira pedra. Ela arranca uma casa, brinca com outra até que… o próximo passo, talvez seja enfiar na boca à la King Kong. A sensação ao se deparar com a intervenção é justo esta: ser engolido.
“A intervenção é uma metáfora do humano. A criança está ali representando isso, porque a gente passa a vida inteira assim: como criança. A gente aprende que não pode colocar o dedo na tomada, mas em compensação seguimos fazendo uma série de coisas que são extremamente danosas. E quando veio a questão da sustentabilidade, eu estava pensando no insustentável, dentro da perspectiva de que temos tratado a ideia de sustentabilidade de uma forma esquizofrênica – aquém. Nós mesmos não somos sustentáveis. O ser humano está mal preparado para lidar consigo mesmo e, ainda mais, com os outros. A presença da criança traz também a ideia de continuidade (e da nossa finitude!). Então é engraçado pensar nesta criança mexendo no urbanismo da cidade, realocando aquela casa… da atividade da criança como brincadeira versus a lógica adulta de manipulação do mundo. Gera um conflito de pensar por essas duas vias. O que de fato estamos construindo?”